Porém, se a estada no hospital reforçou minha relação com minha mãe, ela não ajudou em nada meu relacionamento com Giana. Não entenda mal, ela foi me encontrar sempre que pôde, e demonstrou apoio e simpatia. Mas, como passei tanto tempo no hospital, não foi o suficiente para cicatrizar as fissuras que começavam a aparecer no nosso relacionamento. Para ser honesta, eu nem sabia ao certo o que queria dela: quando ela estava lá, tinha vontade de ficar a sós com minha mãe, quando ela não estava, sentia falta dela ao meu lado. De algum modo, Giana atravessou esse campo minado sem reagir a nenhum estresse que eu descontasse nela. Parecia entender meus pensamentos melhor do que eu e antecipar minhas necessidades.
Ainda assim, precisávamos de um tempo para nós. Um tempo a sós. Se nosso relacionamento fosse uma bateria, o tempo que eu passava no exterior significava descarregamento contínuo, e nós precisávamos de tempo para a recarga. Uma vez, sentada ao lado de minha mãe ouvindo o bip constante do monitor cardíaco, percebi que eu e Giana passáramos menos de 4 dias das últimas 104 semanas juntas. Menos de 5 por cento. Mesmo com cartas e telefonemas, às vezes eu me pegava olhando para o nada e pensando em como resistimos por tanto tempo.
Saímos para caminhar ocasionalmente e jantamos juntas duas vezes. Como Giana estava dando e tendo aulas novamente, era impossível para ela para ficar.
Tentei não culpá-la por isso, salva quando o fiz, e acabamos discutindo. Eu odiava aquilo, e ela também, mas nenhuma de nós era capaz de evitar. Embora ela não dissesse nada, e ainda negasse quando confrontada, eu sabia que o problema subjacente era o fato de que eu deveria estar de volta de vez, quando não estava. Foi a primeira e única vez que Giana mentiu para mim.Passamos por cima da briga o máximo que podíamos, e nossa despedida foi outro momento triste, embora menos do que da última vez. Seria reconfortante pensar que tínhamos nos habituado ou estávamos mais maduras. Porém, quando entrei no avião, sabia que algo irrevogável havia mudado entre nós.
Foi uma constatação dolorosa. Porém, na noite seguinte de lua cheia, vaguei pelo campo de futebol abandonado. Como eu tinha prometido, lembrei dos momentos que passei com Giana na minha primeira folga. Também recordei minha segunda licença, mas curiosamente, não quis pensar na terceira, pois acho que sentia o que estava por vir.Conforme o verão avançava, minha mãe continuou a se recuperar, embora lentamente. Em suas cartas, ela contava que saia para passear no quarteirão três vezes por dia, todos os dias, exatamente por vinte minutos, mas até isso era difícil para ela. Se havia um lado positivo nisso tudo, foi proporcionar a ela algo em torno do qual organizar seu dia agora que ela estava aposentada, algo além de moedas. Além de mandar cartas, mesmo com mais frequência, passei a telefonar para ela às terças e sextas-feiras, exatamente à uma hora, horário dos Estados Unidos, só para ter certeza que ela estava bem. Procurava sinais de cansaço em sua voz, e lembrava-lhe constantemente sobre comer bem, dormir bastante e tomar a medicação. Sempre fui a responsável pela maior parte da conversa. Mamãe achava as conversas telefônicas ainda mais dolorosas do que a comunicação cara a cara, e sempre soou como se quisesse desligar o telefone o mais rápido possível. Com o tempo, comecei a provocá-la por causa disso, mas nunca tive certeza se entendia que eu estava brincando. Isso me divertia, e às vezes eu ria; embora ela nunca risse comigo, o tom de sua voz ficava mais alegre, ainda que temporariamente, antes de ela cair em total silêncio. Não tinha problema. Sabia que ela esperava os telefonemas com ansiedade. Ela sempre atendia ao primeiro toque, e foi fácil para mim imaginá-la olhando o relógio, à espera da ligação.
Agosto virou setembro e depois outubro. Giana terminou suas aulas em Chapel Hill e voltou para casa para procurar um emprego. Nos jornais, eu lia sobre as Nações Unidas e como os europeus queriam encontrar um modo de nos impedir de entrar em guerra com o Iraque. AS coisas estavam tensas nas capitais dos nossos aliados na OTAN; no noticiário, sempre havia manifestações da população e declaração vigorosas dos governos, afirmando que os Estados Unidos estavam prestes a cometer um erro terrível. Enquanto isso, nossos líderes tentavam fazê-los mudar de idéia. Eu e todos no meu pelotão continuávamos a levar nossas vidas, treinando para o inevitável com sinistra determinação. Então, em novembro, eu e meu pelotão retornamos a Kosovo. Não ficamos muito tempo por lá, mas era mais do que suficiente. Eu já estava cansada dos Balcãs, estive lá quatro vezes, e já estava cansada das forças de paz. Mais do que isso, eu e todos no exército sabíamos que a guerra no Oriente Médio se aproximava, quisesse ou não a Europa.
Nesse período, as cartas de Giana ainda chegavam com alguma regularidade, assim como meus telefonemas para ela. Normalmente eu ligava antes do amanhecer, como sempre por volta de meia-noite no horário dela. Porém, se no passado eu sempre consegui falar com ela, agora mais de uma vez ela não estava em casa.
Embora tentasse me convencer de que ela tinha saído com os amigos ou com seus pais, era difícil evitar que meus pensamentos desembestassem. Depois de desligar o telefone, às vezes eu imaginava que ela conheceu outra pessoa e se apaixonou. Às vezes ligava mais de duas ou três vezes na hora seguinte, ficando com mais raiva a cada toque sem resposta.
Quando ela finalmente atendia, eu pensava em perguntar onde ela estava, mas nunca o fiz. Nem sempre ela me contava voluntariamente. Sei que cometi um erro em manter o silêncio, simplesmente porque era impossível para mim esquecer o assunto, mesmo tentando me concentrar na conversa. Muito frequentemente, eu estava tensa no telefone e as respostas dela eram igualmente tensas. Cada vez mais, nossas conversas deixaram de ser alegres demonstrações de afeto e viraram uma rudimentar troca de informações. Após desligar, eu sempre me odiava pelo ciúme que sentia e me castigava nos dias seguintes, prometendo não deixar que acontecesse novamente.---------------------------------------------
Eae tudo certo com vcs???
Tava pensando aqui que tal três cap hj?
Pra me redimir por esse tempo q fiquei sem postar!!!1/3?
