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Assim que ela disse isso eu me peguei me perguntando se Giana era boa demais pra ser verdade.

— Eu tenho que admitir que você me leva pra comer nos lugares mais interessantes, — Giana disse, olhando por cima do ombro. À distância, depois da duna, podíamos ver uma longa linha de clientes saindo do Joe's Burguer Stand no meio de um estacionamento de cascalho.

— É o melhor na cidade, — eu disse, mordendo um pedaço do meu enorme hambúrguer.

Giana sentou perto de mim na areia, olhando a água. Os hambúrgueres estavam fantásticos, bem grossos e embora as batatas fritas estivessem um pouco oleosas demais, elas eram o que precisávamos. Enquanto comia, Giana encarava o mar e na luz que diminuía eu me peguei pensando que ela parecia mais em casa aqui do que eu.

Pensei sobre o modo como ela tinha falado com minha mãe. Sobre o modo como ela falava com todo mundo, qualquer pessoa, inclusive comigo. Ela tinha a rara habilidade de ser exatamente o que as pessoas precisavam quando estava com elas e ainda assim permanecer ela mesma. Eu não podia pensar em mais ninguém que a lembrasse remotamente em aparência e personalidade e me perguntei novamente por que ela tinha simpatizado comigo. Nós éramos tão diferentes quanto duas pessoas podiam ser. Ela era uma garota da montanha, prendada e doce, criada por pais atentos, com um desejo de ajudar aqueles que precisam; eu sou uma menina tatuada do exército, difícil por fora e em grande parte uma estranha na minha própria casa. Lembrando como ela tinha sido com minha mãe, me peguei desejando que eu fosse mais como ela.

— O que você está pensando?

Sua voz, ainda que gentil, me afastou dos meus pensamentos. — Estava me perguntando por que você está aqui, — confessei.

— Porque eu gosto da praia. Não posso fazer isso com muita frequência. Não é como se tivesse ondas ou barcos de camarão lá de onde eu sou.

Quando viu minha expressão, ela bateu levemente na minha mão. — Isso foi sem importância, — ela disse, — Me desculpe. Estou aqui porque eu quero estar aqui.— Coloquei de lado os restos do meu hambúrguer, me perguntando por que eu me importava tanto. Era um sentimento novo para mim, um que eu não tinha certeza se iria me acostumar com ele algum dia. Ela acariciou meu braço e virou para a água novamente. — Aqui é lindo. Tudo o que precisamos é de um pôr do sol sobre a água e seria perfeito.

— Teríamos que ir para o outro lado do país, — eu disse.

— Sério? Você está querendo me dizer que o sol se põe no oeste? — Notei o brilho travesso nos olhos dela.

— É o que eu ouço, de qualquer forma.

Ela tinha comido só metade do seu cheesburguer e o colocou dentro da sacola, depois adicionou os restos do meu também. Depois de dobrar a sacola para que o vento não a levasse embora, ela esticou as pernas e se virou para mim, parecendo ao mesmo tempo namoradeira e inocente. — Quer saber no que eu estava pensando? — ela perguntou.

Esperei, bebendo da visão que eu tinha dela.

— Estava pensando que eu queria que você tivesse estado comigo durante os dois últimos dias. Quer dizer, gostei de conhecer todo mundo melhor. Almoçamos juntos e o jantar da noite passada foi bem divertido, mas parecia que algo estava errado, como se eu estivesse sentindo falta de alguma coisa. Só quando a vi caminhando na praia foi que me dei conta de que era você.

Engoli em seco. Em outra vida, em outros tempos, eu a teria beijado, mas mesmo querendo, eu não beijei. Em vez disso, tudo o que eu fazia era encará-la. Ela encontrou meu olhar sem nenhum traço de constrangimento.

— Quando você me perguntou por que eu estava aqui, fiz uma piada porque pensei que fosse óbvio. Passar meu tempo com você parece... certo de algum modo. Fácil, do jeito que é pra ser. Como é com os meus pais. Eles ficam confortáveis juntos e eu lembro de crescer pensando que um dia eu queria ter isso também. — Ela fez uma pausa. — Queria que você os conhecesse algum dia.

Minha garganta tinha ficado ainda mais seca. — Eu também.

Ela escorregou facilmente sua mão na minha, seus dedos se entrelaçando nos meus.

Ficamos sentadas em um silêncio tranquilo. Na beira da água, andorinhas do mar vasculhavam a areia em busca de comida; um grupo de gaivotas voou enquanto uma onda vinha. O céu tinha ficado mais escuro e as nuvens eram mais agourentas. Na praia mais acima, eu podia ver casais espalhados caminhando sob um céu arroxeado.

Enquanto estávamos sentadas juntas, o ar se encheu com o barulho das ondas quebrando. Me maravilhei com o quanto tudo parecia novo. Novo e ainda assim confortável, como se nos conhecêssemos desde sempre. Mas nós não éramos um casal de verdade. Nem, uma voz na minha cabeça me lembrou, era provável que fôssemos.

Em pouco mais de uma semana, eu estaria voltando para a Alemanha e tudo isso estaria acabado. Eu tinha passado tempo suficiente com meus amigos pra saber que leva mais do que alguns dias especiais para uma relação que cruza o Oceano Atlântico sobreviver.



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Soltei 10 capítulos hoje, espero que tenham gostado volto depois de amanhã com quem sabe mais 10...  🤔😁😉

QUERIDA LARY (gilary)Onde histórias criam vida. Descubra agora