Ela foi em direção aos degraus, e eu me forcei a não segui-la. Ao invés disso, caminhei em direção ao fogo, tirei minha camisa e a coloquei em uma cadeira vazia, depois voltei para o meu lugar. Olhando pra cima, eu vi a menina de touca paquerando Giana, senti uma onda de tensão, então me virei para ter um controle melhor das coisas. Eu sabia pouco sobre ela e sabia menos ainda sobre o que ela pensou de mim. Além disso, eu não tinha nenhum desejo de começar alguma coisa que não poderia terminar. Iria embora em algumas semanas e nada disso ia chegar a alguma coisa; falei tudo isso pra mim mesma, e acho que parcialmente me convenci de que iria pra casa assim que terminasse de comer, quando meus pensamentos foram interrompidos pelo som de alguém se aproximando. Alta e magra, com cabelo escuro que já estava habilmente partido para o lado, ela me lembrou uma daquelas meninas que você conhece de tempos em tempos que parecem estar na meia-idade desde que nasceram.
— Você deve ser a Laryssa, — ela disse com um sorriso, agachando na minha frente. — Meu nome é Mariana. — Ela estendeu a mão. — Ouvi falar do que você fez por Giana - sei que ela estava grata por você estar lá. —Apertei sua mão. — Prazer em conhecê-la.
Apesar da minha cautela inicial, seu sorriso foi mais verdadeiro do que os de Pablo e Luis tinham sido. Ela nem mencionou minhas tatuagens, o que é incomum. Acho que devo mencionar que elas não eram exatamente pequenas e cobriam a maior parte dos meus braços. As pessoas já me disseram que vou me arrepender quando for mais velha, mas quando as fiz, eu realmente não me importava. E ainda não me importo.
— Se importa se eu sentar aqui? — ela perguntou.
— À vontade.
Ela se sentou confortavelmente, nem em cima de mim nem muito longe. — Fico feliz que você possa ter vindo. Quero dizer, não é muito, mas a comida é boa. Está com fome?
— Na verdade, estou faminta.
— O surf faz isso com você.
— Você surfa?
— Não, mas passar algum tempo no mar sempre me dá fome. Lembro disso das minhas férias quando criança. Nós costumávamos ir a Pine Knoll Shores todo verão. Você já esteve lá?
— Só uma vez. Tenho tudo de que preciso aqui.
— É, acho que você tem. — Ela acenou para a minha prancha. — Você gosta das pranchas longas, né?
— Gosto das duas, mas as ondas daqui são melhores com as longas. Você precisa surfar no Pacífico para realmente aproveitar uma prancha pequena.
— Você já esteve lá? Havaí, Bali, Nova Zelândia, lugares assim? Eu li que eles são o ultimato.
— Ainda não, — eu disse, surpreso que ela sabia sobre eles. — Um dia, talvez.
Um pedaço de lenha estalou, mandando pequenas faíscas para o céu. Juntei minhas mãos, sabendo que era a minha vez. — Ouvi dizer que você está aqui para construir algumas casas para os pobres.
— Foi Giana que lhe disse? É, esse é o plano, de qualquer forma. Elas são para algumas famílias realmente merecedoras, e com sorte, elas estarão em suas próprias casas no fim de julho.
— É uma boa coisa o que você está fazendo.
— Não sou só eu. Mas eu queria te perguntar uma coisa.
— Deixe-me adivinhar, você quer que eu seja voluntária?
Ela riu. — Não, nada disso. Embora seja engraçado - eu já ouvi isso antes. As pessoas me vêem vindo e geralmente elas correm pro outro lado. Acho que sou muito fácil de entender. De qualquer forma, sei que é um chute de muito longe, mas eu estava me perguntando se você conhece meu primo. A estação dele é em Fort Bragg.
— Sinto muito, — eu disse. — Meu posto é na Alemanha.
— No Ramstein?
— Não. Essa é a base da força aérea. Mas eu estou relativamente perto. Por que?
— Eu estava em Frankfurt dezembro passado. Passei o natal lá com a minha família. É de onde nós somos originalmente, e meus avós ainda vivem lá.
— Mundo pequeno.
— Você aprendeu alguma coisa em alemão?
— Nada.