Continuamos lá paradas, num daqueles momentos estranhos que eu provavelmente nunca irei me acostumar, mas ela se virou antes que eu pudesse tentar um beijo. Normalmente, eu provavelmente teria mergulhado pra frente só pra ver o que aconteceria; eu posso não ter sido aberta sobre meus sentimentos, mas eu era impulsiva e rápida nas ações. Com Giana, me senti estranhamente paralisada. Ela também não parecia estar com nenhuma pressa.
Um carro passou, quebrando o feitiço. Ela deu um passo em direção à casa, então parou e colocou sua mão no meu braço. Em um gesto inocente, ela me beijou na bochecha. Foi quase um beijo de irmãos, mas seus lábios eram macios e seu aroma me engolfou, persistindo mesmo depois que ela se afastou.
— Eu realmente me diverti, — ela murmurou. — Não acho que irei esquecer desse dia por muito, muito tempo.
Senti sua mão deixar meu braço e então em um sussurro ela desapareceu, subindo as escadas da casa.
Mais tarde naquela noite em casa, me achei me revirando na cama, revivendo os eventos do dia. Finalmente me sentei, desejando que tivesse contado a ela o quanto o nosso dia tinha significado pra mim. Fora da minha janela, vi uma estrela cadente cruzar o céu em um brilhante risco branco. Eu queria acreditar que era uma profecia, embora de que, eu não estava certa. Em vez disso, tudo o que eu podia fazer era sentir de novo o beijo gentil de Giana na minha bochecha pela centésima vez e me perguntar como eu poderia estar me apaixonando por uma garota que eu só havia conhecido no dia anterior.
— Bom dia, mãe, — eu disse, cambaleando cozinha a dentro. Semicerrei meus olhos ao sentir a luz da manhã brilhosa e vi minha mãe parada em frente ao fogão. O cheiro de bacon preenchia o ar.
— Ah... oi, Lary.
Me joguei na cadeira, ainda tentando acordar. — É, eu sei que é cedo pra eu estar acordada, mas eu queria te alcançar antes de você sair para o trabalho.
— Ah, — ela disse. — Tá certo. Deixe só eu preparar mais um pouco de comida. — Ela pareceu quase animada, apesar dessa perturbação na rotina.
Eram momentos como esse que me deixavam saber que eu estava feliz por estar em casa. — Tem café? — eu perguntei.
— Está na chaleira, — ela disse.
Me servi de uma xícara e caminhei até a mesa. O jornal, que já tinha chegado, estava em cima da mesa. Minha mãe sempre o lia durante o café e eu sabia o bastante para não tocar nele. Ela sempre foi engraçada sobre ser a primeira a lê-lo e sempre o lia na mesma ordem exata.
Esperei minha mãe perguntar como tinha sido a noite com Giana, mas ela não disse nada, preferindo se concentrar na cozinha. Olhando o relógio, eu sabia que Giana estaria indo pra construção em alguns minutos e me perguntei se ela estava pensando em mim tanto quanto eu estava pensando nela.
Na correria do que, sem dúvida, era uma manhã caótica pra ela, eu duvidava que ela estivesse. Essa descoberta me fez doer inesperadamente.
— O que você fez na noite passada? — finalmente perguntei, tentando tirar Giana da minha mente.
Ela continuou a cozinhar como se não tivesse me ouvido. —Mãe? — eu disse.
— Sim? — ela perguntou.
— Como foi na noite passada?
— Como foi o que?
— A sua noite. Algo diferente aconteceu?
— Não, — ela disse, — nada. — Sorriu pra mim antes de colocar algumas tiras de bacon na frigideira. Eu podia ouvir o chiado se intensificar.
— Eu me diverti, — eu me voluntariei. — Giana é realmente especial. Fomos juntas à igreja ontem.
De alguma forma eu pensei que ela me perguntaria mais sobre isso e vou admitir que queria que ela o fizesse. Imaginei que pudéssemos ter uma conversa de verdade, do tipo que outros pais devem ter com seus filhos, na qual ela sorri e talvez solta uma piada ou duas. Em vez disso, ela se virou pra outra boca do fogão. Colocou óleo em uma pequena frigideira e adicionou o ovo batido.
— Você se importaria de colocar alguns pães na torradeira? — ela perguntou.
Suspirei. — Não, — eu disse, já sabendo que comeríamos em silêncio. Sem problemas.