— Tudo bem —, disse, tentando mascarar a minha crescente curiosidade.
Ela apontou em direção ao para-brisa. — Na próxima esquina, vire à direita.
— Onde estamos indo?
Ela não respondeu de imediato. Em vez disso, olhou pela janela do passageiro.
— Hospital—, disse finalmente.
Segui ela através de corredores aparentemente intermináveis, até finalmente chegar à recepção dos visitantes. Atrás do balcão, um voluntário idoso estendeu uma prancheta. Giana pegou a caneta e assinou seu nome automaticamente.
— Você está firme, Giana?
— Tentando — Giana murmurou.
— Vai ficar tudo bem. A cidade inteira está rezando por ela.
— Obrigada — disse Giana. Ela devolveu a prancheta e olhou para mim.
— Ela está no terceiro andar — explicou. — Os elevadores ficam ali no corredor.
Eu a segui com um nervoso no estômago. Chegamos ao elevador no momento em que algumas pessoas desciam. Quando as portas se fecharam, parecia que estávamos em um túmulo.
As portas do elevador se abriram no terceiro andar, e Giana seguiu pelo corredor comigo a reboque. Ela parou diante de um quarto que estava com a porta aberta e virou-se para mim.
— Acho que devo entrar primeiro — disse ela. — Você pode esperar aqui?
— Claro.
Ela demonstrou gratidão e virou-se em seguida. Deu um longo suspiro antes de entrar na sala.
— Oi —, a ouvi dizer com a voz animada. — Você está bem?
Não ouvi mais do que isso nos dois minutos seguintes. Fiquei no corredor, absorvendo o mesmo ambiente estéril e impessoal que conheci enquanto acompanhava minha mãe. O ar cheirava a desinfetante genérico, e vi um auxiliar de enfermagem empurrar um carrinho com comida para dentro de um quarto. Na metade do corredor, notei um grupo de enfermeiras atrás de um balcão. Atrás da porta da frente, alguém vomitava.
— Tudo bem — disse Giana, colocando a cabeça para fora. Por baixo da aparência corajosa, eu ainda notava sua tristeza. — Pode entrar. Disse para ela esperar uma surpresa.
Eu a segui, me preparando para o pior. Mariana estava sentada na cama com um cateter ligado a seu braço. Parecia exausta, e sua pele estava translúcida de tão pálida.
Ela havia emagrecido ainda mais do que minha mãe, e quando a vi, meu único pensamento era que ela estava morrendo. Só a bondade em seus olhos não fora afetadas. Do outro lado da sala havia um jovem no final da adolescência, talvez com vinte anos, balançando a cabeça de um lado para o outro, e soube imediatamente que era o Igor. O quarto estava repleto de flores: dezenas de buquês e cartões espalhados por todas as mesas. Giana sentou na cama ao lado da esposa e pegou sua mão.
— Oi, Mari — eu disse.
Ela parecia cansada demais para sorrir, mas conseguiu mesmo assim.
— Oi, Lari. É bom ver você de novo.
— Você também — disse. — Como você está? — Assim que falei, percebi como soava ridículo.
Mariana devia estar acostumada, pois não hesitou.
— Estou bem — disse. — Estou me sentindo melhor agora. — Concordei.
Igor continuou a balançar a cabeça. Fiquei olhando para ele e me sentindo uma intrusa em eventos que gostaria de poder ter evitado.
— Este é meu irmão, Igor — ela disse.
— Oi, Igor.
Como Igor não respondeu, Mari sussurrou: — Ei, Igor. Tudo bem. Ela não é médica. É uma amiga. Vá dizer olá.
Levou alguns segundos, mas Igor finalmente se levantou da cadeira. Ele caminhou com dificuldade pelo quarto e, apesar de não me olhar nos olhos, estendeu a mão.
— Oi, eu sou o Igor — disse com a voz surpreendentemente monocórdica.
— Prazer em conhecê-lo — respondi, apertando sua mão. Era flácida. Ele chacoalhou uma vez, depois soltou e voltou ao seu lugar.
— Há uma cadeira se você quiser sentar — disse Mariana.
Atravessei o quarto e me sentei. Antes que pudesse falar, Mariana respondeu à pergunta em minha cabeça.
— Melanoma — disse ela. — Caso você esteja se perguntando.
— Mas você vai ficar bem, certo?
Igor balançou a cabeça ainda mais rápido e começou a bater suas coxas.
Giana se virou. Eu já sabia a resposta e desejei não ter feito a pergunta.
— Isso é o que os médicos acham — Mariana respondeu. — estou em boas mãos. — Sabia que a resposta era mais para o Igor que para mim, tanto que ele se acalmou na hora.
Mariana fechou os olhos e os abriu novamente, tentando reunir forças.
— Estou contente de ver que você voltou inteira — disse ela. — Rezei por você o tempo todo que você esteve no Iraque.
— Obrigado — eu disse .
— O que você tem feito? Ainda no exército, suponho.
Ela indicou meu pingente de sargento, e eu passei a mão no cabelo.
— Sim. Parece que estou virando um dos soldados que se alistam pela vida toda.
— Bom — disse ela. — O Exército precisa de pessoas como você.