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| Taína Gonçalves Fernandes |

Acordei com o despertador, estava morta de ontem.
Me espreguicei e levantei lentamente.

Me olhei no espelho fazendo um coque na juba enorme e escovei os dentes.

Peguei meu celular e vi uma mensagem da Amanda dizendo que já tinha saído pra deixar Miguel com o pai.

Entrei no chuveiro e tomei um banho gelado, e enquanto sentia as gotas de águas passearem meu corpo, minha mente me levou ao cara de ontem.

Eu nunca dançava com ninguém, nunca rendia pra ninguém, por que justamente ninguém nunca tinha chamado minha atenção, mas aquele olhos azuis me pegaram despreparada.

Nunca tinha visto ele por aqui, o que é estranho já que todo mundo se conhece nessa cidade.

Mas, eu não tinha tempo pra esse tipo de coisa, uma dança, uma conversa, uns beijinhos, tudo bem, mas pra mais que isso não tinha espaço na minha vida.
Por isso não disse meu nome, e por que a mãe também gosta de pagar de misteriosa ne, faz parte do meu charme.

Sequei meu cabelo e coloquei um short branquinho e um cropped da mesma cor.
Nos pés coloquei minha rasteirinha branca e fui pra cozinha fazer algo pra comer.

Sou desperta dos meus pensamentos com meu celular que toca, no visor está o nome da minha mãe.

— Filhota, tem como você vir aqui na casa dos Lacerda deixar essa bolsa que eu esqueci aí encima da bancada — ela pede.

— Posso ir sim mamys, só vou tomar meu café e pegar o buso pra ir aí — respondo.

— Ok filha, obrigada, mamãe te ama —

— Também amo você —

Termino meu café, escovo meus dentes, coloco um perfume e faço uma maquiagem bem levinha.

Saio de casa, trancando tudo e vou em direção ao ponto de ônibus.
Era mais demorado de chegar na fazenda dos Lacerda por que o lote deles era um pouco afastado, meu coração apertou de imaginar minha mãe fazendo aquele percurso todo dia por tantos anos.

Quando cheguei, me identifiquei no portão eletrônico e entrei na fazenda.

Andei um pouco até a entrada dos fundos, Mayara sempre insistia que eu deveria entrar pela entrada principal, mas minhas mãe sempre me ensinou meu lugar, e eu não pretendo sair dele.

O lugar estava realmente uma loucura, correria para todo lado, gente pra cima e pra baixo levando e trazendo coisa, tudo pra festa de boas vindas do riquinho.

— Oi filha, obrigada por vir meu amor! — ela diz e eu sorrio entregando a bolsa pra ela.

— De nada mamãe — deixo um beijo na testa da mesma.

— Prova esse bolinho que eu fiz — minha mãe diz indicando com o queixo um bolo formigueiro em cima da bancada.

Como não sou maluca de negar o bolinho da mamãe logo pego um pedaço do bolo e coloco na boca, soltando um gemido de satisfação em seguida.

— Tainazinha, quanto tempo não te via aqui — Victor diz ao me ver, ele era um dos peões que cuidava dos gados aqui da fazenda, bonitinho, mas nunca dei muita abertura.

— Oi Victor! Como tá? — pergunto educada.

— Melhor agora que vi a mais bonita daqui — ele diz e em seguida recebe uma tapa da minha mãe com o pano de prato que ela tinha — Aí tia! —

— Olha o respeito com minha filha garoto — diz ela e eu apenas rio observando a cena.

Ele rouba um pedaço do bolo e sai correndo em seguida, me deixando sozinha com minha mãe novamente.

— Louco por você, é um menino bom filha, trabalhador, e não é feio... — minha mãe diz.

— Não é feio mesmo, mas minha vó dizia, beleza não põe mesa, e eu não tenho o menor tempo pra isso, to focada em outras coisas — digo terminando meu bolo.

— Tata! — Mayara diz entrando na cozinha e me vendo — Por que não disse que vinha? — perguntou.

— Vim rapidinho, só pra deixar uma coisa pra minha mãe — respondo e vejo a mesma me puxar pra um abraço.

— Vem, vem tomar um café comigo na sala — ela diz me puxando pra fora da cozinha de casa, olho pra mim mãe que assente pra eu ir.

Entramos na enorme sala da casa de sede, toda em móveis de madeira, ela me senta em um dos sofás e me oferece um café, o qual eu nego com educação.

— Você tem que vir mais aqui Tainá, é uma das poucas meninas dessa cidade que presta — ela diz e eu rio — De verdade amiga, você é novinha mas tem uma cabeça do caralho, e não digo isso só por que você respeita demais eu e o Júnior, mas pela tua trajetória, por ser trabalhadora, de verdade — ela diz e eu agradeço sem jeito.

— Você merece mais do que essa cidadezinha — não era a primeira vez que eu ouvia isso, e por mais de já ter ouvido algumas vezes, não me via muito fora daqui, claro que eu queria ver outros lugares, queria conhecer tudo, estudar tudo, saber de tudo, sempre fui assim, mas esse aqui é meu lar, e eu sabia disso.

— Você é foda também May, te admiro demais como empresária e como mulher, as coisas que você aguenta por aqui... — digo e ela sorri.

— Tem que ter paciência pra não surtar Tainá, de verdade, mas agora que o irmão do Júnior tá aqui as putinhas deram uma folga pro meu maridinho, tão querendo conquistar o novo Lacerda — ela diz e eu arqueio a sobrancelha — Coitadas, se tão achando que o André vai por alguma delas na garupa dele e levar pro Rio, tá complicado — rio com o comentário e ela sorri.

— Bom dia, bom dia — uma voz que eu conheço, mas não lembro de onde diz as minhas costas.

— Falando nele... — Mayara diz e eu me viro.

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