ENFEITIÇADO

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| taína gonçalves fernandes |

— Você vai enlouquecer de tanto trabalhar, Tainá — Amanda disse — Vamos, por favor. Você precisa se distrair.

Estávamos em casa, eu catalogava uns produtos novos no meu recém comprado computador.
Amanda no entanto estava comprometida em me levar pro parque de vaquejada dos Lacerda hoje.

— Eu tô me distraindo — dei de ombros, sem a olhar.

— Você não é máquina, Tainá. Mayara tá chamando a gente pra ver o Júnior correr, custa nada ir lá — ela insiste e eu a encaro.

A verdade era que voltar naquela fazenda me fazia lembrar de coisas que eu não queria.

Me odiava por ainda pensar no André, por que ele claramente não devia mais pensar em mim.
Fazia pouco mais de duas semanas que ele tinha ido embora e devia estar muito feliz de volta em São Paulo, vivendo a vida como se nada tivesse acontecido.
Eu tinha que voltar a viver a minha também.

— Beleza, Amanda. Vou com você — me dei por vencida observando Amanda comemorar.

———

Quando chegamos no parque o habitual ar denso que tinha uma mistura de poeira e fumaça de cigarro me invadiu os pulmões.
Mayara sorriu ao me ver, me puxando pra um abraço e me oferecendo um copo americano.

— Finalmente né, Taína — ela disse e eu sorri.

— Tava sumida mesmo — quem disse foi Guilherme, me abraçando de lado e dando um beijo na minha cabeça. Cumprimentei ele de forma educada, mas se eu desse confiança pra ele ia dar um problema tão grande que eu nem sei se valia a pena.

— Trabalhando muito — respondi, enchendo meu copo de um cerveja, hoje eu merecia beber.

Me sentei ao redor da mesa, do lado de Mayara e de Júnior, que já havia corrido e estava todo sujo.

— Como você tá, hein? — Júnior me pergunta em tom baixo, e eu dou de ombros.

— Tô bem. Não tem por que não estar — respondo e ele semicerra os olhos.

— Pô, Tainá, nunca passei a mão na cabeça do meu irmão, mas ele não tá errado como você pensa que ele tá — começa ele e eu reviro os olhos, não queria mais ouvir nada sobre aquela história — Ele nunca traiu namorada nenhuma. A mina que traiu o André lá em Sampa, por isso ele veio pra cá. Mas quando vocês ficaram meu irmão não tinha compromisso com ninguém —

— Mas a garota falou... —

— A garota é muito louca. Ela veio aqui justamente pra tentar voltar com o André, mas não deu certo. Meu irmão não quer ela — ele terminou e eu fiquei confusa — Ele teria te falado tudo isso, se você tivesse deixado —

Fecho os olhos, que merda de situação.

— Isso nem importa Júnior, ele tá em outro estado —

— Se tem sentimento importa — ele disse — Tem sentimento, Tainá? — pensei por uns instantes dando um gole profundo na minha cerveja.

— Claro que tem, Júnior. Gostei do seu irmão mais do que eu deveria ter gostado —

— Então importa, cunhada — ele disse me fazendo negar com a cabeça.

Se eu gostava ou não, não era importante.
Mas a bebida já estava começando a bater e junto da bebida a saudade vinha junto, que merda.
Lembrei do cheiro, do beijo, do toque, de tudo.
Tanto homem e eu fui gostar justo do que eu mandei embora?
E se eu mandar mensagem pedindo pra voltar?
Lembrei que também fiz questão de tirar ele das minhas redes sociais.
E duvido que ele me responderia, duvido que um dia voltaria.

Enchi mais uma vez meu copo americano, virando o líquido gelado de uma vez.

———

| andré magalhães lacerda |

— Se anima, porra — Lucas disse — Você ta com uma cara feia pra caralho —

— É a única que eu tenho, Lucas — dei de ombros.

Lucas tinha conseguido me arrastar pra um happy hour apenas por que era a inauguração do novo bar de um dos nossos amigos, mas porra, sem saco nenhum.

Um sertanejo do Jorge e Matheus começou e eu ri sem humor olhando pro Lucas.

— Você me odeia muito de me trazer numa balada sertaneja né, filha da puta? — pergunto dando um gole na minha long neck e ele gargalhou.

— Porra, Tainá fez história mesmo — ele diz e eu nego com a cabeça, sorrindo — Tem um quatro é par fudendo pra nós, Larissa e Bianca. — ele disse e eu neguei com a cabeça.

— Não quero mano, Larissa ta enchendo meu saco desde de meu avião pousou em São Paulo e eu não tô afim de mais problema  —

— Caralho André você tá chato pra caralho — Lucas continua e eu dou de ombros.

Já peguei muita rapariga e tem uma hora que cansa, porra. Vou fazer trinta anos, não vou ficar agindo que nem um moleque de vinte.

Rolava os stories do meu Instagram desinteressado pelo que acontecia a minha volta.
Até o storie de Amanda aparecer na minha tela.
Assisti e vi que ela estava no parque de vaquejada na minha família, rolei os olhos a procura de Taína mas preferia não ter achado.
A morena aparecia no canto conversando com Guilherme, rindo pra ele. Puta que pariu.

— Ah irmão, você nem sabe o contexto —

— Foda-se o contexto. Tainá nunca riu pra o filha da puta do Guilherme, agora tá aí cheia de dentes. Vai se foder porra — joguei o celular na mesa.

— Tainá não faria isso —

— Você sabe? —

— Eu sei e você também sabe, tá assim só por que não é você que tá com ela — ele disse eu bufei com raiva, sem querer admitir que ele estava certo.

Joguei o corpo pra trás na cadeira, não queria pensar nisso.
Levantei rápido indo em direção ao bar do clube, ia beber até esquecer que na eu amo aquela porra daquela menina.