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| taína gonçalves fernandes |

Fechei a loja por uma horinha para poder almoçar. Enquanto André não chega com o almoço aproveitei pra passar um paninho no chão da loja e deixar o porcelanato sempre brilhando.

Confesso que me admirei com a atitude dele de inventar um date no almoço. Achei mesmo que ele fosse o tipo de cara que só mandava mensagem em final de festa, mas ele até que me surpreendeu.

Uma batida no vidro da loja me despertou de meus pensamentos e eu fui em direção a porta.
Subi a grade e depois abri o vidro, avistando o loiro, que tinha um sorriso lindo nos lábios e várias sacolas mas mãos.

— Pra que isso tudo de comida homi'? — pergunto enquanto ele entrava, me dando um selinho.

— Eu como bem, Taína — ele disse com um duplo sentido que me deixou vermelha. Odiava ficar vermelha! E só o filha da puta do Lacerda me deixava assim.

— Senta aí — digo ajeitando a mesinha que tínhamos na copa do ponto onde ficava a loja.
Era bem organizo e principalmente limpinho, tinha o salão onde as meninas faziam as compras e onde tinha os provadores. Um banheiro para as clientes e uma copa com banheiro para funcionários.
Tudo com ar condicionado, por que se depender do clima daqui a gente morre derretido.

Lacerda tirou as coisas da sacola com minha ajuda, ele tinha ido comprar marmita na melhor churrascaria daqui, aquelas que a gente só vai em datas importantes sabe?

Peguei dois pratos no armário e os copos com talher, tinha improvisado um suco, o qual coloquei na mesa.

— De que é? — ele perguntou se servindo do suco.

— Maracujá — respondo e ele faz manha.

— Dá um sono do caralho, ainda mais depois do almoço — ele diz coçando a barba — Vou ter que te levar pra cochilar comigo depois daqui — continua, me fazendo rir.

— Você não trabalha não? —

— Eu sou meu próprio chefe — ele disse e riu — Já fiz as coisas da fazenda do Pai, to livre o resto do dia. Queria ficar com você —

— Nunca entendi o que cê faz, é formado em direto, cuida de fazenda, trabalha em prefeitura —

— É que o homem é multifuncional né? — ele brinca montando seu prato e me fazendo revirar os olhos. — Eu sou formado em direito e tenho pós em direito trabalhista, sempre foi pra cuidar das coisas do meu pai, mas acabou que montei uma empresa com uns sócios de São Paulo, e é um negócio meu mesmo. O trampo na prefeitura eu faço pra ajudar por aqui, mas não tenho saco nenhum pra ser político —

— Já da pra ser vereador, conhece todo mundo... — brinco, em razão do quanto o loiro era falado aqui na cidade.

— Eu não conheço ninguém não, elas que me conhecem — ele diz e eu rio alto.

— Mano você é podre —

— Você gosta — ele diz dando um beijo na minha bochecha — Vai sair que horas? —

— Fecho a loja às 18h — respondo comendo minha feijoada com picanha e farofinha.

— Venho te buscar — ele diz e eu assinto, como se ele mandasse.

———

Às 18h André realmente estava na porta, me ajudou a fechar tudo na loja e eu entrei em seu carro.

— Tá com fome? — ele pergunta enquanto eu coloco os cinto.

— Sempre tô! — respondo e ele sorri dando partida.

— Bora de sushi? — ele pergunta e eu o olho.

— Sei lá, nunca comi — respondo e ele me encara surpreso. — Que é garoto? —

— Como cê nunca provou sushi pô? — ele pergunta e eu dou de ombros.

— Nem sei, negócio cru. Nunca tive vontade — expliquei e ele acelera.

— Pois cê vai comer hoje —

— Vai devagar nesse carro André — digo vendo que ele estava a quase 90km por hora — Se eu não gostar vou te deixar lá e pedir um uber pra churrascaria na hora — digo e ele ri.

— Que não gostar fresca, vai gostar sim, impossível não gostar —

Quando chegamos na Villa Gastrô, a qual eu já tinha ido várias vezes, fomos em direção ao restaurante de sushi.

André pegou uma mesa pra nós e eu me sentei lendo o cardápio, onde eu meti meu Deus.

O loiro se sentou ao meu lado chamando o garçom.

— Boa noite, chefe! Vai ser um temaki salmão e camarão e um combo de hot por favor — ele diz lendo o cardápio — Pra beber uma Coca Cola e... — ele diz me esperando falar.

— Pode ser água — digo pro garçom que assente voltando para a cozinha — Se esses trem aí que cê pediu forem ruins eu não vou comer não Lacerda —

— Para de marra, prova de coração aberto — ele disse me dando um cheiro no ombro.

— Como foi teu dia? — perguntei enquanto ele fazia uma trilha de beijos no meu ombro.

— Adiantei as coisas do trabalho pra não ficar atoa, mas queria ter feito outras coisas... — responde, com os dedos na alça da minha blusa. — Cê ta trabalhando demais esses dias —

— Quero dar entrada no meu carro, to economizando pra isso — digo e ele sorri, quase orgulhoso.

— Vai dar certo morena, já tem carteira? — ele pergunta.

— Não, sem tempo pra começar auto escola — respondo.

— Tira um tempo, isso é importante. Ia até falar pra você contratar alguém pra ajudar você e a Amanda na loja —

— Não é fácil assim né André, ia aumentar o valor da folha... —

— Já pensou num investimento? Em ter um sócio investidor? — ele pergunta e eu penso por alguns instantes, nunca tinha pensado.

Antes que eu pudesse responder o sushi chega e eu agradeço mentalmente.

O garçom nos serve e eu encaro a comida, André ri da minha feição.

— Vai, prova — ele diz indicando o hashi com a liga — Perai, faz assim — me interrompe pegando ele mesmo o hashi e segurando uma bolinha empanada, ele molha no que eu imagino ser shoyo e leva a minha boca.

Mastigo enquanto ele me olha com expectativa.
Não sei o que eu achei.

— É comível — respondo sincera e ele ri alto enquanto eu como mais um.
Ok, talvez eu tenha gostado mais do que deveria.

ENFEITIÇADO Onde histórias criam vida. Descubra agora