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| andré magalhães lacerda |

Sou desperto pela segunda vez naquela manhã pela porta do quarto se abrindo.

— Quem era? — pergunto para Tainá sem abrir os olhos direito.

— Quem era o que, André? — mas não foi Tainá quem me respondeu.

— Sarah? — pergunto sem acreditar vendo a ruiva na minha frente — Que porra você tá fazendo aqui? — me levando num supetão.

Porra, só problema.

— Vim buscar você, André. Deixei você se isolar esse tempo mas tá na hora de voltar pra sua vida, voltar pra gente — ela diz me deixando boquiaberto, só podia estar muito louca.

— Que porra você tá falando? — pergunto ainda a encarando — Cadê a Tainá? Pra onde ela foi? O que você disse pra ela? —

— A menininha que me recebeu? Achei que ela trabalhasse aqui... — ela responde e eu fecho os olhos devagar.

— Que merda, Sarah — me levanto da cama indo em direção a porta do quarto e descendo as escadas de casa num pulo, sentindo Sarah me seguir — Victor, cadê a Tainá? — pergunto pra um dos funcionários do meu pai.

— Patrão, só vi ela pegando um táxi aí na porta, com a roupa do corpo mesmo — ele responde e se assusta quando eu bato na bancada de madeira com força, sentindo minha mão arder.

— Quem é essa, André? Por que você tá assim? — Sarah grita da sala, me fazendo bufar.

— Porra, Sarah. Cala a boca — Grito. Deixando o estresse me consumir.

— Aonde você vai? — ela pergunta quando me vê colocar uma camisa e pegar as chaves do carro — Vim até aqui pra gente se resolver, pra te levar pra casa —

— Não tem mais a gente, Sarah. Eu já tinha te dito. E agora também não sei se tem mais casa — respondo abrindo a porta de casa e indo em direção ao meu carro.

———

| taína gonçalves fernandes |

Burra.
Eu sou muito burra.

Burra que nem a Amanda foi em acreditar no pai do miguel.
Burra que nem minha mãe foi com meu pai.
Burra de um jeito que prometi a vida toda que não seria.

— Ele namora, Amanda. O André tem uma namorada patricinha de São Paulo e ela veio buscar ele aqui — expliquei, limpando as lágrimas que beiravam meus olhos antes de deixar que elas caíssem.

— Calma, Tainá — ela disse, me entregando um como de água — Você já falou com ele? —

— E nem quero! Capaz de eu falar algo que vá me arrepender depois — respondi e ela balançou a cabeça negativamente.

— Porra, você não achar legal ouvir o André? —

— Amanda, eu dei pra ele. Ontem esse mentiroso veio com papo de me levar pra São Paulo, fez supresa, fez mil coisas. Mas errada sou, de ter acreditado — continuo.

— Você não pode se culpar por ter se apaixonado. — ela diz e eu a olho — Por que você se apaixonou, Tainá. Você sabe —

Antes que eu pudesse responder a campainha da minha casa toca, imagino ser Mayara, que disse que daria um jeito de sair do estúdio e vir me ver.

— Vou atender — Amanda diz, se levantando e indo em direção a saída do meu quarto.

— Cadê a Tainá? — a voz faz meu peito se apertar.

— André, acho que não é uma boa hora.... — minha prima começa mas o loiro não parece dar importância, por que apenas o vejo abrir a porta do meu quarto.

— Saí daqui, André — peço, assim que ele me vê.

Eu odiava que ele me visse desse jeito.

— Porra, Tainá. Me escuta, por favor. Te liguei pra caralho — ele começa e eu nego com a cabeça.

— Não quero te ouvir, quero que você vá embora e deixe a minha vida do jeito que era quando você entrou — começo.

— Tainá. A Sarah é... —

— O que? Vai falar que a menina é maluca? Que nem todos os homens canalhas fazem, né? — comecei, ele tentou me interromper mas eu não deixei — Quando você chegou aqui eu sabia que tinha algo de errado em você, sabia exatamente que você era só mais um moleque mimado e cansado da cidade, querendo distração. E eu fui essa distração né? — ele fica sem palavras, e meus olhos marejaram.

— Volta pra São Paulo. Volta pra sua vida e me deixa aqui. Enterra essa história que aconteceu por que acabou. Veio, e já foi — minto, decidida.

— Eu ia ficar Tainá, se você me pedisse — ele sussurra — Se você me quisesse aqui, eu ficaria — a voz mansa dele continua, e por um segundo eu esqueço que ele tem muito além de uma empresa em São Paulo, ele tem uma mulher lá também.

— Não quero — afirmo, e os olhos do loiro parecem marejar. Ele assente com a cabeça se virando e saindo do meu quarto.
Fecho a porta antes que ele pudesse olhar pra trás, acreditando que seria melhor assim.
Quando ouço a porta da frente se fechar ficou impossível segurar as lágrimas presas. Amanda estava certa, eu havia me apaixonado, mas não podia ter deixado isso acontecer.

ENFEITIÇADO Onde histórias criam vida. Descubra agora