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| taína gonçalves fernandes |

Quando passo pelo portão enorme da fazenda dos Lacerda, Mayara já me esperava na porta da casa principal.

Ela usava uma roupa de ficar em casa, o rosto sem maquiagem e o cabelo despenteado.

— Como você tá? — ela me perguntou, enxugando do meu rosto das lágrimas que escorriam.

— Mayara, não estávamos bem. Ele foi viajar e não estávamos bem... — não aguentei e desabei assim que ela me abraçou — Que arrependimento...só queria voltar pra ontem a noite e não deixar ele ir embora, não deixar ele sair de casa — confesso, enquanto ela passava as mãos nas minhas costas.

— Não pensa assim agora, Taí. Vocês vão ter muito tempo de se resolver ainda, calma amiga — ela disse, tentando me tranquilizar.

— Tainá, como você tá? — Júnior me pergunta, ele tinha os olhos vermelhos, o cabelo bagunçado também, aparência cansada.

— Tô tentando ficar calma, alguma notícia? — pergunto e ele nega com a cabeça, enquanto entramos na casa.

A nova moça que trabalhava na casa dos Lacerda foi me trazer uma água com açúcar, para que eu me tranquilizasse.

O pai dos meninos não saia do telefone, fazendo ligações atrás de ligações.

E eu estava apoiada do no ombro de Mayara, que tentava me acalmar.

Pensar que ele tinha me pedido pra ser namorada dele ontem, pra viver com ele, pra ir pra São Paulo com ele e eu havia recusado. Havia recusado por medo, medo de tentar, medo de que ele partisse meu coração.
Mas a dor que eu sentia agora, a dor que eu sentia de imaginar ficar sem ele, era muito pior do que a dor de me entregar sem ter certeza do que ele faria.
Ele podia partir meu coração como quisesse, ainda sim doeria menos do que não ter ele comigo, e agora eu enxergava isso, talvez tarde demais.

Meu coração apertou e as lágrimas voltaram a descer.
Se algo sério acontecesse com André e eu não tivesse a chance nem de tentar com ele, eu não me perdoaria.
Não me perdoaria de não ter me entregado a esse amor.

— Acharam ele — o pai dos meninos disse eufórico, voltando pra sala. Eu e Júnior nos levantamos num pulo — Eles estão bem. Estão todos bem. Houve uma turbulência e um pouso bruto demais em área de risco. Estão levando André e o piloto pro hospital. Mas eles estão estáveis —

— Graças a Deus — agradeci, com a mão no peito, sem ter vergonha de chorar de alívio.

Abraço Júnior apertado, que parece finalmente conseguir respirar aliviado.

— Em qual hospital ele está? Podemos ir lá? — pergunto nervosa.

— Levaram ele pra Santa Casa primeiro, mas agora estão trazendo pra o Albert Segundo, do nosso plano de saúde. Vamos lá agora, vem com a gente, Tainá — o mais velho me diz, e eu sou rápida em assentir e pegar minhas coisas, seguindo-os em direção ao carro.

———

Só ia conseguir me sossegar quando visse André.
Tínhamos acabado de chegar no hospital, o mesmo
hospital que André trouxe a minha mãe quando ela passou mal. Me lembrava desse episódio com carinho, talvez tenha sido ali que comecei a me apaixonar por ele.
Júnior pedia notícias e não muito tempo depois um médico veio falar conosco.

— Familiares do André Magalhães Lacerda? — ele pergunta e nos concordamos com a cabeça — Muito bem, o André deu muita sorte. Poderia ter batido forte a cabeça durante o pouco forçado, mas ele teve apenas uma concussão. Desmaiou por alguns minutos, mas entramos com um remédio pra enjoo e agora ele está estável. Assim que ele acordar, liberamos pra visita. No momento é importante que ele descanse — o médico disse e eu respiro, aliviada.

— Te falei que ia dar tudo certo! — Mayara diz, enquanto me abraça apertado.

— Obrigada, May — agradeço com gratidão, abraçando ela de volta.

Pego um café pra mim, me sentando na cadeira do hospital novamente ao lado do pai de André.

— Você não vai pra casa, minha filha? Se quiser, peço um uber pra você — ele oferece mas eu nego com a cabeça.

— Quero estar aqui quando André acordar — respondo e ele sorri.

— Olha, Tainá. Quando o André me disse que estava com uma menina daqui, eu fiquei desconfiado. Pensei que Júnior tinha achado a única boa. Mas me enganei, Rute criou você direitinho, menina. — ele diz, e quando termina sorrio pra ele — Fico feliz do meu filho ter escolhido você. Mas eu te peço, ele tem um coração grande, até demais. Cuide para que não seja quebrado — o mais velho pede, segurando a minha mão.

— Pode deixar que eu cuido — respondo e ele sorri, deixando um beijo sob a minha mão.

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