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| taína gonçalves fernandes |

Passava das dez horas quando eu estava em casa adiantando a roupa suja e começando a ajudar minha mãe no almoço quando a campainha tocou.

Imaginei ser o André vindo mais cedo almoçar mas me surpreendi quando vi Mayara na porta, com os olhos levemente vermelhos e o cabelo bagunçando.

— May? Nem avisou que vinha... — digo dando passagem pra que ela entrasse.

— Aí, Taína. Desculpa, mas tava meio desesperada — ela diz se sentando no meu sofá.

— O que aconteceu? — pergunto e ela leva as mãos até a cabeça, nervosa.

— Pô Taí, acho que eu to grávida — ela diz com os olhos ainda vermelhos, esconder o sorriso foi inevitável.

— Amiga, mas isso não é bom? — pergunto e ela dá de ombros.

— Sei lá, Júnior e eu não estamos casados a muito tempo. Sei que ele ainda queria fazer muita coisa, viajar pra muitos lugares. Ele sempre me lembra do anticoncepcional, mas vacilei esse mês, foi erro meu — ela desabafa e eu me sento ao seu lado.

— Tá atrasada quanto tempo? — pergunto.

— Não da pra saber, o anticoncepcional não me deixava menstruar. Mas tô vomitando faz uma semana, dor de cabeça todo dia depois de comer. Júnior queria me levar no médico no fundo eu sinto, eu sei. —

— Cê acha que ele não vai gostar? —

— Não sei amiga. O Júnior gosta da nossa dinâmica a dois, ele sabe que eu quero filhos, mas parece que ele gosta de me ter só pra ele, sabe? Não sei se faz sentido —

— Faz. Mas sofrer por antecipação não vai te ajudar. Cê tá com o teste aí? — pergunto e ela assente.

— Não queria fazer sozinha — admite e eu concordo, levando ela até o banheiro.

Mayara faz xixi e fico na porta do banheiro, esperando os cinco minutos do clear blue.

— Porra — Mayara sussurra e me levanto indo até a mesma. Quando vejo o resultado positivo não tenho outro o instinto a não ser abraçá-la — Porra, Taína. Porra. — ela continua, me abraçando forte.

— Calma Mayara. Júnior vai amar essa criança tanto quanto ama você — sussurro ouvindo seu choro — Vem, vamos sair desse banheiro. Vou pegar uma água pra você —

Levo ela pro meu quarto e minha mãe leva uma água de açúcar pra Mayara, que chorava no meu ombro.

— Calma, minha filha. Todo homem sonha em ter um filho, um herdeiro! — minha mãe diz e Mayara nega com a cabeça.

— Gente, vocês não entendem. Júnior sempre disse que gosta da nossa vida a dois, que gosta de me ter pra ele, sem precisar dividir com filho... — ela explica, voltando a chorar no meu ombro.

— Amiga, você só vai ter certeza da reação dele se contar. — digo e ela assente.

— Eu vou, vou contar. Preciso pensar em como —

Um tempo depois, na cozinha, Mayara comia um bolo de cenoura que minha mãe havia preparado, já mais calma.

— E o Dé? — ela pergunta com um sorriso no rosto.

— Ele dormiu aqui, disse que vem almoçar —

— Tá morando aqui? — pergunta e eu gargalho.

— A vida é muito curta pra você não viver uma vida de casado com ficante — digo ela sorri — Ele me chamou pro aniversário do pai dos meninos — digo e ela arregala os olhos.

— Meu Deus, então é sério realmente amiga. Júnior só me levou pra conhecer a família quando estávamos namorando — ela disse e eu começo a tremer.

— Aí, May. Não me deixa nervosa, já to surtando com essa — digo roendo as unhas.

— Você acha que ele vai te pedir em namoro quando? —

— Amiga, sei lá. Nossa situação é complicada, nem sei quando ele volta pra São Paulo. Não me imaginava dentro de um relacionamento, imagina um a distância — digo.

— Cê já pensou em ir com ele? —

— Mayara, eu tenho minhas coisas aqui né, tenho a loja, tenho minha mãe, a Amanda, o Miguel — digo — Eu ia fazer o que em São Paulo? Não conheço nada, não conheço ninguém, ia viver do que? — pergunto.

— Calma, Taína. Você é adulta e ele também, e relacionamentos adultos envolvem sacrifícios, assim como ele se sacrifica em ficar longe da própria empresa pra passar um tempo com você —

— Vamos mudar de assunto, Mayara. A gente nem tem um relacionando rotulado ainda, vou deixar pra pensar nisso quando nesse dedinho aqui tiver uma aliança — digo mostrando minha mão e fazendo Mayara sorrir.

— Então eu já vou, amiga. Tenho uma cliente agora de tarde. Manda um beijo pro André por mim! — ela disse se levantando — Obrigada pelo bolinho e pelo apoio —

— Tô aqui May. Quando contar pro Júnior diz pra mim, vai dar tudo certo — digo abraçando minha amiga.

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