ENFEITIÇADO

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| taína gonçalves fernandes |

Hoje a galera tava caçando perder os limites.
Estávamos esquentando pro show, que começava ás 21h.

Mayara já estava com sua habitual garrafa de tequila embaixo do braço, me convidando a dar shots.

Os meninos arrumavam as coisas no carro, já que iríamos todos em um só.

— Já Tainá? — André disse ao me ver virando um shot de tequila. Sorri para o loiro que balançou a cabeça negativamente.

— Culpa da sua cunhada — respondo dando de ombros sentindo suas mãos em cima cintura. Ô perfume gostoso que aquele homem usava.

— Tô vendo ela te arrastando — ele diz tirando uma mecha de cabelo do meu rosto — Você tá linda pra caralho... — diz ele pela décima vez desde de que me viu arrumada pro show.

Depois de mais alguns minutos saímos para local do show. O DJ que abria o show do Nattan tocava uma sequência de funk que já me deixava com vontade de dançar.

Quando chegamos ao nosso camarote já tinham alguns amigos dos meninos lá.
Guilherme, César, Hugo e duas meninas que estavam com eles, essas eu não conhecia.

— Taínazinha! Difícil te ver desgrudada do André agora, né? — Guilherme disse quando veio me cumprimentar e eu sorri amarelo, percebendo os olhares do loiro pra cima de nós.

Fui educada com ele e com todo o resto do pessoal, inclusive com as duas meninas que estavam lá.

— São só vocês? — Mayara perguntou pra as meninas, que descobrimos se chamar Vívian e Carol e serem daqui de Uberaba mesmo.

— Que nada, Rodrigo e Enzo tão chegando aí com mais duas meninas. Parece que são da cidade de vocês — Vívian, uma loira simpática respondeu e eu e Mayara nos entreolhamos.

— Vixe! Vou começar a beber então — A morena diz fazendo as meninas rirem.

O resto das pessoas não demorou chegar.
Rodrigo entrou no camarote de mãos dadas com Camilla e Enzo com as mãos na cintura da Luana.

Mayara me olhou sorrindo quando as duas chegaram.
— Sabia que essas aí iam arranjar algum jeito de se enfiar no camarote — ela sussurrou pra mim, que dei de ombros.

As duas só cumprimentam os meninos da nossa roda, os únicos que elas conheciam. Quando chegou a vez de Camilla falar com André observei o jeito como ela arranhou de leve a nuca dele, ele me olhou instantemente e eu só dei de ombros. Não era problema meu. Mas se tinha uma coisa que eu odiava era rapariga.

Tirei umas fotos com Mayara e as meninas daqui de Uberaba e observei André vir até mim.

Lembrei do dia que Camilla foi até minha loja e das coisas que ela falou do André, impossível esconder minha cara de puta, ainda mais com o Gin que já circulava no meu sangue.

— Que bico é esse? — ele perguntou me roubando um selinho. Não respondi, fazendo com que ele colocasse as mãos na minha cintura colocando mais nossos corpos — Hein? — ele sussurrou no lóbulo da minha orelha.

— Cê sabia que ela vinha? — perguntei e ela negou.

— Ninguém sabia. Rodrigo só avisou que ia trazer duas meninas — ele explicou e eu assenti.

Camilla avistou eu e André juntos em um dos cantos do camarote e sorriu de lado, debochando.
— Você não é a dona daquela lojinha no centro da cidade? — Ela perguntou e o olhar de Mayara se virou instantemente.

Fiquei sem ação nenhuma. Que porra de pergunta era essa?

— Ela é sim! E você? Trabalha onde? — Mayara respondeu antes que alguém pudesse falar algo. Nem Camilla nem Luana responderam a morena, apenas rindo como se minha amiga tivesse exagerado.

— Menina sem noção do caralho — André disse quando voltei a o olhar.

— É, sua ex peguete né — respondi e ele balançou a cabeça negativamente, colocando a mão no meu rosto. Nem ligava para o que falavam de mim, mas levar desaforo de vagabunda era demais.

— Que ex peguete, mulher? — ele disse pegando o celular e mostrando as conversas dos dois — Ela me infernizou por uns dias e a gente ficou umas duas vezes —

Tinham mensagens dela recentes, de dias atrás, as quais ele nem respondeu.

Olhei pra ele, que não tinha obrigação nenhuma de fazer isso e sorri. Me repreendia toda vez que minha barriga ficava gelada ao olhar para o loiro. Não entendia como alguém podia mexer comigo assim em tão pouco tempo, e saber que aquilo tinha um prazo de validade não me impedia de me envolver mais ainda.

Puxei ele pra um beijo, fazendo carinho na sua barba com minhas unhas até sentir sua mão forte apertar minha cintura.

As luzes do palco estouraram e a voz do Nattan soou, junto com o ritmo de umas das suas músicas.

— Conheci uma americana lá na vaquejada, ela falava comigo, eu não entendia — cantamos em uníssono. Todos gritando e extremamente felizes. Mayara puxava um storie mostrando a nós e depois o palco.

O show seguiu e o Nattan era foda mesmo! Não deixou o astral baixar em momento nenhum, até esquecemos que a Camilla e Luana estavam com cara de nojo do outro lado do camarote.

— A música que eu vou cantar agora é um cover de uma que eu curto demais! Quero todo mundo se desmantelando — Nattan gritou do palco enquanto dava um gole em alguma bebida.

Gritamos em resposta, e os gritos se tornaram mais altos ainda quando o solinho de "Verdadeiro Amor" começou.

Eu e André nos olhamos instantaneamente. E eu soube que ele também se lembrava.
Essa música tocou no dia em que nos conhecemos, na primeira vez que dançamos juntos.
Quando ele já tinha mexido comigo e eu nem sabia que ele era ele.

Sem você eu não teria
Motivo algum para viver feliz
Quantas vezes te falei
Seu amor pra mim se fez
Dentro do meu coração

Eu e o loiro dançamos agarrados entre risos, os olhos azuis fitando o fundo das minhas pupilas.

— "Vem que eu te quero, amor. Eu sempre fui e sou, o seu verdadeiro amor" — Ele cantou com a boca no meu ouvido, me arrepiando por inteira — "Não deixe tudo pra depois. O que houve entre nós dois, só o tempo poderá dizer..."  — Continuou ele. Deixando um beijo na minha bochecha.

Olhei para ele quando ele me girou, encaixando-me entre suas pernas e me abraçando.

— Aí, André... — sussurrei fazendo um carinho na sua barba por fazer.

— Diz, minha morena — ele disse, talvez pelo álcool em nossos sangues — Diz o que cê quer de mim que eu te dou — diz com um sorriso, me abraçando forte.

Quando eu tinha 15 anos prometi pra mim mesma que não ia cair em lábia de homem safado que nem aconteceu com a minha mãe e com Amanda, mas tava difícil demais não cair nessa.