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| taína gonçalves fernandes |

Finalmente tinha encontrado uma tomada pra carregar meu celular!

Eu e Larissa suspiramos aliviadas ao ver nossos aparelhos ligando.

Tínhamos parado num posto de gasolina pra comprar uma água, comida, e carregar nosso celular.

Eu tinha que falar com André, me desculpar pelo atraso e por ter passado dos limites hoje com a Lari.

A verdade era que eu descontei todas as minhas incertezas, mágoas e tristezas numa garrafa de Gin.

Depois do que eu ouvi da Sarah no banheiro, foi difícil engolir a vontade de chorar.
Me lembrei do por que eu não cultivava sentimentos.
Era por que eles machucavam.

Sei que André não tinha culpa nenhuma do que falavam dele, e reconhecia ter agido errado com meu namorado nos últimos dias.
Tudo que ele fez até agora foi tentar me deixar confortável aqui, e me fazer sentir amada.

E eu não quis admitir pra ele que por trás de toda a minha pose, eu estava insegura. Pela primeira vez na vida, estava insegura com terceiros.

Agora, já com menos álcool no corpo, consegui reconhecer que se o André quisesse estar com a Sarah.
Ele estaria com ela. Mas ele me escolheu, e e me escolhe todos os dias.

Arregalei os olhos, finalmente conseguindo dados móveis no meu celular e abrindo o meu WhatsApp.

Mais de 30 mensagens do meu namorado apareceram na tela, sorri, admirada com a preocupação dele mas já prevendo que ia ter que me explicar pelo perdido. Se fosse ele fazendo uma coisa dessas comigo com certeza o querido já seria um homem morto.

Antes de abrir o chat com André pra respondê-lo, Lari me mostra o celular dela, no qual meu namorado já ligava pra ela.

Sorrio quando ela atende, e me surpreendo quando consigo ouvir a voz do loiro de onde eu estou de tão alto que ele está falando.

— Porra, finalmente alguma de vocês duas atendeu — ele grita e Larissa ri, junto comigo.

— Relaxa, amigo. A gente ficou sem bateria e parou aqui no posto Shell — ela diz e ele desliga a ligação na cara da Larissa, que me olha surpresa — Ele tá puto — ela diz.

— Vacilei de não ter respondido as mensagens dele — respondo e ela assente.

— Pior que a Sarah saia, fazia e acontecia por aí e ele nem ligava quando eles namoravam. Nunca tinha visto ele puto assim por causa de ciúmes — ela diz e eu dou de ombros — Vem, vamo esperar ele ali antes que sobre mais ainda pra mim por ter te arrastado pra festa —

———

Uns cinco minutos depois o Civic do André estacionou na frente do posto e eu me despedi da Lari, entrando no carro dele.

— Oi, amor — digo me inclinando pra beijar seu rosto, no entanto percebo que o loiro não se move.

— Porra, custava atender? — responde, dando partida no carro e seguindo, ainda sem olhar pra mim.

— Desculpa, cara. A gente bebeu e ficou sem bateria. Lari ia me levar pra casa assim que a gente terminasse de comer ali no posto — digo, admitindo meu erro.

— Beleza, Taí — responde, pisando no acelerador. Encostei no banco, deixando ele lá com a marra dele. Ia respeitar o momento dele, não tava afim de confusão e querendo ou não, ele estava certo.

Quando ele passou pelo segundo sinal vermelho e quase ultrapassou os 200 por hora eu arregalei meus olhos.

— Para de dirigir que nem doido, porra. — digo, mas ele apenas ri sem humor, acelerando mais ainda o carro — Ou você diminui isso ou então você para o carro, André — grito e ele para o carro, em uma das ruas próximas ao nosso condomínio.

— Já te pedi desculpas, mano. Qual seu problema? — pergunto e ele me olha, então percebo os olhos azuis dele vermelhos.

— Meu problema, Tainá? Porra — ele começa, nunca tinha visto André puto daquele jeito — Se você tava afim de beber pra caralho, me ligava que eu ia até você e a gente voltava junto. Mas sumir, não atender celular, ficar bêbada com quem você conheceu outro dia. Que porra você tá querendo que eu pense? — ele diz e eu fico confusa.

— O que exatamente você tá pensando? — perguntei, realmente ansiosa pra saber o que ele estava insinuando.

— Porra, Taí. Fala a verdade pra mim, cê fez alguma coisa? — ele pergunta e eu abro a boca, desacreditada.

Meus olhos se enchem de lágrimas, como ele podia pensar aquilo de mim.

— Como você consegue pensar isso de mim, André? — pergunto, e ele desvia o olhar do meu. Rio sem humor. — André, larguei tudo pra vir pra cá com você, e nem olhei pra trás. Deixei tudo lá e me entreguei nesse sentimento, não tenho nada aqui além de você, e mesmo com todas as dúvidas e incertezas eu não me arrependi em momento nenhum. Hoje foi o único dia desde de que eu vim pra cá que eu saí com alguém se não você, que eu fiz uma amiga. Que eu saí, bebi e curti tal qual eu fazia em Minas Gerais e tal qual eu vou fazer sempre! E isso não é motivo de desconfiança. — digo, me esforçando pra esconder minha voz embargada.

— Tainá, você ficou estranha a semana toda, sumiu a noite inteira, bebeu, e eu ainda ouço da Sarah... — o interrompo.

— Da Sarah, André? — digo e ele fecha os olhos, percebendo o que tinha dito — Quando que você falou com essa menina? Que porra que você ouviu? — pergunto, aumentando a voz.

Horas antes ela tinha dito que ele estava comigo só pra tapar o buraco do vazio que ela deixou, só pra suprir a carência dos dois.
E agora descubro que os dois andam se falando?

— Tainá, fui atrás de você no Lounge e ela estava lá. Falou um monte... —

— E você acreditou nela? — respondo, incrédula — André, posso ter bebido bastante hoje a noite mas em nenhum momento perdi minha consciência. Em nenhum momento desrespeitei você e nem o nosso relacionamento. Não sei se a minha palavra vale mais que a da Sarah mas é o que eu tenho pra dizer —

— Porra, óbvio que a sua vale mais — ele diz, bufando de irritação.

— Não sei, André! — grito — Ela diz aos quatro cantos que você só ta comigo pra irritar ela, que qualquer hora vai voltar com ela e que ela conhece você melhor que ninguém. Eu cheguei aqui ontem, não sei mesmo! — desabafo, sem conseguir me conter.

— Para, Taína. Para — ele diz, segurando de leve meu pulso para que eu olhasse pra ele — Eu amo você. Se eu quisesse estar com ela, eu estaria. Mas eu não quero, porra. Eu trouxe você pra cá, e eu quero você comigo, mais ninguém. — ele diz, acalmando meu coração.

— Eu nunca te trairia, André. Nunca faria isso com você — respondo, com a voz mais baixa e ele assente, me puxando ele.

— Eu sei, morena. Me perdoa — diz ele quando subo em seu colo — Só não faz mais isso, me atende quando eu te ligar, criatura — ele diz, puxando meu cabelo de leve.

— Quase chamei a polícia — continua ele, me fazendo sorrir — Não vamos mais deixar terceiros interferirem no nosso relacionamento, tá? — ele pede, e eu assinto, antes que ele me puxe pra um beijo.

— Tudo bem — concordo, deixando que ele me abrace apertado, pressionando minha intimidade com a dele.

———

ENFEITIÇADO Onde histórias criam vida. Descubra agora