Roger.
Mulher com raiva é o cão de buceta e saia! Podem anotar que é a mais pura verdade. Eu fui fazer uma boa ação pra empresa e agora tenho que lidar com a marra da Belisa. Botou na cabeça que a Kamila tava quase subindo no meu colo e eu que me vire pra explicar pra ela que não tem nada a ver.
Minhas férias acabaram hoje e a Kamila já tinha me ligado uma semana antes pra avisar que eu tinha que renovar meus exames. Faz parte da vida de piloto, é exigência da profissão então não tinha porque negar a ir no dia marcado. O que eu não sabia era que ia ser realizado no lugar que a Belisa trabalhava.
Eu tava tranquilão, sorria pra ela e ficava secando na cara de pau porque tá no meu nome, quem atua ali sou eu e porque ela é gata. Por trás de tanta simpatia e dedicação, ninguém imagina quem é ela dentro de quatro paredes e que bom que eu sou o sortudo. Admiro demais a mulher que a Belisa se tornou, papo reto.
Eu tava nervoso, mas era com a parada do Imperador desaparecido e toda hora falando nesse bendito sobrenome que eu carrego. Já forjaram o Fernandinho e de certa forma eu corria o risco de passar pelo mesmo.
Pra piorar, eu filho da Poderosa e do Raro, aí já viu também né? Fácil de nego querer botar a mão em mim pra pegar os dois.
Graças a Deus, eu vou estar igual maluco voando pra lá e pra cá.
Kamila: Olha, o sobrenome bem parecido com o seu. - sorriu.
Roger: Se fosse só o sobrenome, eu tava sossegado. A gente tem o mesmo sangue também. - olhei preocupado pra televisão.
Kamila: Sério? Nem fala uma coisa dessa em voz alta. - falou com a boca mais próxima ao meu ouvido.
Roger: Não costumo falar muito sobre, mas meu sobrenome não colabora muito. - dei um sorrisinho de lado.
Kamila: Acontece de ter um ou outro parente que mexe com coisa errada, toda família tem.
Como que explica agora que noventa por cento da família Carvalho Falconi é da bandidagem? Que três gerações antes de mim é envolvido ou tem crime nas costas? Que os outros dez por cento são aqueles que jamais teriam cacife pra sustentar a responsabilidade que é de seguir o legado criminoso que começou na década de setenta?
Se juntar tudo mesmo e se for parar pra pensar, o Complexo do Alemão tá na mão da minha família a mais de cem anos e meu bisavô passou pouco mais de trinta anos mandando por lá.
Ao mesmo tempo que a gente tem amor ao sobrenome e a quem eles pertenciam, a gente tem ódio pela parte negativa que não tem pra onde fugir. Eu fui bem recebido nos lugares em São Paulo até nego ficar sabendo de quem eu era filho.
Não só filho, mas também neto, bisneto e tataraneto. A minha árvore genealógica toda foi muito divulgada na época. Nego já não ligava nem pra minha cor, até porque preto é a cor do desejo feminino.
Prova disso foi que eu trepei com muita loirinha de olho azul, de olho verde, branquinha com a bucetinha rosa, morena, mulata, rica, classe média entre o ensino médio e os tempos de faculdade… Nego só me olhava feio por ser filho de traficante.
Roger: Digamos que uma boa parte da minha família mexa com coisa errada, mas fazer o quê? Eu não tenho nada a ver com o que eles fazem. Tem gente que eu não vejo desde que eu era moleque e que já morreu, inclusive.
Fiz a cena do desapegado familiar mesmo! Meu pai que me ensinou… “Se for pra você ter uma vida melhor que a minha, me renegue e renegue a sua mãe até a morte. Diga que foi criado por outra pessoa. A gente não vai deixar de te amar nunca.”
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DO JEITO QUE A VIDA QUER 4
FanfictionFabiana e Murilo morreram e seus familiares se afastaram após uma briga. Será que um dia a família Falconi volta a ser como antes?