Capítulo trinta e quatro.

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Fernando.

“O traficante Imperador acaba de ser considerado foragido pelo Ministério Público do Rio de Janeiro. Pablo Guilherme Andrade de Carvalho Falconi apontado como chefe do tráfico de drogas no Complexo da Penha na zona norte do Rio foi dado como desaparecido na manhã de hoje.”

Eu que tava concentrado no trabalho até soltei a caneta quando eu vi aquilo na tv do escritório que eu trabalhava. Pablo desaparecido? Piada! Como que alguém some de um presídio sem mais nem menos? Ainda mais de Bangu um?

Jamerson: Não é teu parente não, Fernando? O sobrenome é igual. - o puxa saco do meu chefe falou chamando a atenção de todo mundo que tava presente.

Sempre tem um né? O do escritório era esse arrombado, pô! Ele me detestava e eu nem sabia o motivo. No mínimo deve querer me dar, só que eu não curto viado pô.

Fernando: Claro que é. - falei sério e continuei trabalhando.

Ou pelo menos tentando. Quanto mais a filha da puta do jornal falava, mais o urubu me encarava de boca aberta.

Jamerson: Hoje vai ter operação na Penha porque ele deve tá lá, com toda certeza.

Deise: Tu é investigador agora? - olhou pro Jamerson.

Jamerson: Não, mas todo mundo sabe que essa família do Fernando é problemática, quase todo mundo traficante.

Fernando: Antes traficante do que fofoqueiro. - desviei o olhar do computador pra ele - E pra sua informação, nem todo mundo é traficante. - sorri.

Valmir: Podia dormir sem essa, bicha pão com ovo. - riu.

Ninguém lembra que meu pai é médico, nem do meu tio ex jogador de futebol e dono de agência esportiva e pior ainda da minha tia advogada criminalista, mas nego lembra dos meus parentes traficantes. É surreal de louco!

Minha preocupação era a Sheron. Me preocupei tanto que passei o dia tentando falar com ela, mas quem disse que ela atendia o celular? Todo mundo sabe a idolatria da Sheron pelo Imperador e se acontece qualquer coisa com ele, ela fica mal.

Como esperado, o fim do dia é várias blitz em vários pontos da cidade, operação no Complexo e todo mundo caçando o Imperador igual maluco. Trânsito na linha vermelha tava um inferno do caralho.

📲 Sheron

Fernando: Onde é que tu tá, garota? Te liguei várias vezes e tu não atendeu.

Sheron: Meu pai sumiu, ninguém sabe onde ele tá! Minha mãe foi pra Bangu com a minha avó, eu tô desesperada, eu não sei o que fazer.

Fernando: Vou brotar aí, tu tá por onde?

Sheron: Vila da Penha, eu saí da favela antes da polícia chegar e minha madrinha quer que eu atravesse pra Maré.

Fernando: Eu vou te buscar aí e te deixo lá, pô. Melhor do que tu ficar aí sozinha.

Sheron: Tá bom.

📲

Desliguei a chamada e continuei no meio do trânsito, até que andou um pouco e tudo que é tipo de carro tava sendo parado e revistado. Não era eu que ia ser excessão, mas não mesmo.

— Documento do veículo e habilitação, por favor. - o cu azul falou.

Fernando: Tá na mão. - falei tirando os dois da minha carteira.

O filho da puta que tava segurando o documento do meu carro ficou de fofoca no ouvido do outro igual mulherzinha. Um pedacinho de sobrenome e um preconceito velado e perseguição até o fim da vida.

Noronha: Desce do carro que nós vamo revistar. - o outro falou e eu desci.

Mal sabia eu que o inferno na minha vida ia começar agora, ou melhor, tava esperando já. Quem não tava esperando era a minha paciência.

Aguiar: Carvalho Falconi… - falou olhando minha habilitação pela milésima vez - Tu é o que do Imperador?

Fernando: Até onde eu sei, meu primo. A mãe dele é irmã do meu pai.

O pai dele também é irmão do meu pai, mas pra quê expor a família assim né?

Aguiar: Tu sabe que nós tamo procurando por ele né?

Fernando: Isso não é problema meu e não faço a menor ideia de onde ele tá.

Aguiar: Não? Tu sabe que eu posso te levar detido por desacato a autoridade?

Fernando: Sei, mas sei também que não pode abusar do teu poder até porque tô colaborando com o seu serviço. - falei irônico.

Aguiar: Tu é muito abusado mesmo. - respirei fundo - Abre o porta mala lá, Noronha. Vê se não tem nada e nem ninguém.

Nessa daí ele também mandou que eu tirasse a camisa, avaliou minhas tatuagens e me revistou com direito a passada de mão em cheio no meio das minhas pernas.

O resumo desse caô, foi que os caras me forjaram, botaram um tablete de pó no meu porta mala. Ainda tomei tapa na cara e fui levado pra delegacia cheio de ódio.

Liguei pra Ayla que é advogada, demorou um tempo e ela brotou. Expliquei a situação pra ela, contei o que aconteceu e ela chegou a bater boca com o delegado, ameaçou fazer corpo de delito e processar geral porque ia ser provado que aquele filho da puta tinha me batido porque eu respondi ele muito mal.

Adivinha? Fui liberado porque eu era réu primário, endereço fixo, emprego e os caralho, mas ia responder pelo crime de tráfico por causa do tablete no porta mala.

Eu nem uso essas porras, pô! O máximo é um baseado, mas eu sei onde usar e jamais ia botar qualquer porra dessa no meu carro.

Fernando: Essa porra não fica assim não, tá me entendendo?

Ayla: Tu vai pra casa e procura se acalmar, não faz besteira. - falou assim que eu saí da delegacia.

Fernando: Não apanhei na cara nem do meu pai, imagina desses filho da puta, Ayla. - entrei no carro dela puto porque meu carro ficou apreendido.

Ayla: Não vai fazer merda não, cara! Tua mãe tá uma pilha de nervos, tu vai pra casa e vai ficar lá com ela.

Fernando: O último que bateu em mim, Ayla, a minha avó mandou matar e duvido que se ela ou meu avô tivesse vivo ia tá acontecendo isso aí.

Ayla: Eu sei, mas eles não estão mais e agora a gente tem que resolver tua situação da melhor forma possível.

Melhor forma possível é nego com a boca cheia de formiga, mas não tem problema não… O tempo é rei!

DO JEITO QUE A VIDA QUER 4Onde histórias criam vida. Descubra agora