Capítulo cinquenta e nove.

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Safira.

Cansei.

Cansei de viver uma vida de mentiras, cansei de me colocar em último lugar quando eu deveria estar em primeiro, cansei de me desdobrar em mil pra ver tudo indo bem, cansei de ser chacota, cansei de ser chamada de chifruda, corna, maluca que aceita o marido com sabe lá Deus com quantas mulheres. Cansei de viver em função do Marcelo, mas o Marcelo viver em função da Janine, da Verônica e servir ao Índio.

Eu conheci o Marcelo aqui no Parque União, a gente cresceu na mesma rua, frequentou os mesmos lugares e acabou que despertou o interesse nele em mim. Como ele sempre foi um cara bonito, eu fiquei! Contra a vontade da minha mãe que já tinha passado poucas e boas com meu pai, mas eu bati de frente porque achei que com ele, eu seria diferente e eu teria pulso pra impedir que o destino se repetisse comigo.

Eu novinha, boba toda, bem iludida! Ele foi o primeiro homem da minha vida e eu a primeira mulher dele e me levou pro mundo junto com ele. Pra mim, ele foi único, já eu nunca fui a única e eu entrei em uma de que eu tinha que ser perfeita pra ele e tinha que dar o que era o sonho dele. Um filho!

Índio sonhava em ser pai.

Foi aí que eu engravidei pela primeira vez. Foi uma festa imensa, uma felicidade que eu nem sei explicar, sabe? Na ultra-som, a gente descobriu que era um menino. Marcelo ficou igual pinto no lixo, festa e mais festa no Parque União, coisa de doido! O nosso casamento estava tudo as mil maravilhas, eu nunca desconfiei de nada e a gente continuou vivendo bem.

Quando o Rafinha tava com cinco anos, a Bel nasceu e veio pra nos completar mais ainda. Foi festa de novo, a gente se sentia as pessoas mais felizes do mundo. Belisa era pra se chamar Isabel, mas ele bebeu tanto que registrou a menina como Belisa. Eu quis matar ele, mas depois eu fui gostando do nome e ficou Belisa mesmo.

O tempo foi passando, meus filhos crescendo e enquanto isso, Marcelo comendo a Verônica por aí. A Verônica trabalhava de inspetora na escola onde os meninos estudavam, só que ela trabalhava só o período da manhã. Meus filhos estudavam a tarde, Marcelo levava eles pra escola e ela dava a buceta pra ele a tarde. É, ela esperava por ele pra pegar uma carona. Nela, ele fez três filhos. A mais velha é a Isabela e ela é mais nova que a Bel só dois anos. Depois vieram Victor e André, um tem dezessete e o outro quinze.

É, ela mal se recuperou da gestação e logo estava grávida de novo.

A Janine apareceu depois e essa nem daqui era. Essa ele achou lá na Vila Kennedy. Como? Não sei, mas trouxe ela pra morar na Nova Holanda com ajuda do irmão do Raro. Bancou de tudo, da mesma forma que fez com a outra e não diferente, fez filho nela também.

Por ironia da vida, nenhuma sabia da outra! Nisso ele foi profissional por um tempo, noventa por cento do tempo ele dividia entre as outras duas, porque a noite ele dormia em casa. Pra não ter dúvida entre elas, uma vez ou outra que ele ia. Dizia pra mim que ia passar a noite na boca, a favela tava com ameaça de invasão e ele tinha obrigação de estar lá.

Isso foi ficando frequente e eu comecei a desconfiar. Vasculhei o celular, vasculhei tudo o que podia, mas nada de qualquer vestígio de traição. Ainda sim, eu estava desconfiada e joguei com ele. Falei que precisava colocar silicone, chorei que tava insatisfeita com meu corpo e queria dar aquela recauchutada. Ele esperto, fez minha vontade e eu taquei cachaça nele no dia que ele marcou e me contou.

Marcelo depois de bêbado é capaz de falar até quem matou John Kennedy. Ele foi pra casa das outras e deu o serviço pra elas também, resultado? Muita briga na clínica e fora dela. Mas, continuei com ele, imagina se eu ia deixar meu marido e as minhas coisas pras outras, ia nada. Eu sabia que ele não ia largar nenhuma, foi aí que a Verônica propôs esse pacto de maluco que eu aceitei.

DO JEITO QUE A VIDA QUER 4Onde histórias criam vida. Descubra agora