Capítulo setenta e seis.

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Fernando.

Ver meus tios naquele momento, naquela ocasião me trouxe um desconforto e uma sensação de que a casa caiu e pela cara dos dois eu tinha certeza que a qualquer momento eu ia levar um cacete dos dois pra nunca mais me esquecer. Mas que caralho também, eles parece que sentem, inferno.

Olhei pro Jetta esperando uma explicação e ele apenas negou com a cabeça e soltou um “Foi mal, irmão” sem voz. Olhei pra Alana que de morena tava branca e não era pra menos, tio PH tava com cara de bicho olhando pra ela e eu não duvido nada ele resolver pegar ela na porrada de novo.

PH: Me explica que vontade é essa de fazer merda que vocês tem? Vocês tão querendo mandar o resto da família pro Irajá e não tão sabendo pedir, é isso? - parou na nossa frente e cruzou os braços - Teu pai se visse isso aqui que eu tô vendo, eu nem consigo imaginar o que ele faria, mas consigo imaginar o tamanho da decepção porque nessa matéria eu virei até especialista. - desviou o olhar pra Alana.

Jetta e LC mandaram os caras do Chapadão irem saindo e dessa forma ficou apenas os caras que vieram acompanhando a Alana e os que vieram acompanhando meus tios, porém todos afastados de nós.

Fernando: Tio… - ele me interrompeu.

Falcão: Quando eu descobri, eu não quis acreditar, torci um milhão de vezes pra ser mentira, mas agora te olhando, te vendo segurando essa porra, me faz pensar vários bagulho e me faz pensar no meu irmão e na tua mãe, eles mereciam isso não. - negou com a cabeça.

Fernando: Eu tenho meus motivos, tio! Até um dia desse eu não tinha pisado numa delegacia, além da humilhação, ainda levei na cara e agora meu nome tá lá e eu tô sendo processado pelo que eu não fiz. É fácil demais vocês me julgarem, falarem um montão em nome do meu pai, mas até ele no meu lugar tenho certeza que faria pior. - rebati.

Falcão: Não faria não, porque no dia que ele quase fez, nós foi lá e fez o serviço por ele justamente pra não manchar o nome dele. - se aproximou de mim e cruzou os braços.

Fernando: Não seria diferente se isso acontecesse com ele, eu conheço meu pai e vocês conhecem o irmão que tem.

PH: O problema era pessoal dele, mas nós se meteu porque apesar de qualquer coisa, de toda briga que já rolou, nós ainda é uma família e tamo aqui pra entrar no problema e não é porque nós tava com a atenção virada pro problema do Imperador em Bangu que eu me esqueci do que fizeram contigo. Eu tava lembrado até demais e mandei buscar, mas o que me trouxeram foi que os maluco tava morto e que tu tinha passado o cerol. - abriu olhão.

Fernando: E fiz mesmo! Subi o Chapadão, fiz acordo com o Jetta e com o LC, eles me davam os caras, eu ia passar o cerol e ia trabalhar pra eles. Eles cumpriram a parte deles e eu fiz a minha. Executei e joguei os corpos pro meu casal de jacaré e não me arrependo de nada. Se tivesse que fazer de novo, eu faria! Que porra é essa, pô? Eu estudei igual maluco, quase arranquei meu cabelo fazendo a porra do TCC, foi outra luta defender a porra pra depois de estabilizado eu ser forjado por causa de sumiço de Imperador? Ah tio, não fode pô. - esbravejei.

Alana: Desde quando tu tem um casal de jacaré, ô lacoste da shopee? - olhou pra mim.

Fernando: Comprei junto com a cabeça dos caras, foi o melhor investimento até agora.

Falcão: Só pode tá de sacanagem com a minha cara, não tô ouvindo isso não.

PH: Tu tá fazendo o quê aqui também? Porque tua mãe tá crente que tu tá se dedicando a faculdade, tomando conta de filho dos outros e sabe lá Deus se não anda tendo um caso com o Atacante.

Alana: Tô fazendo tudo isso sim e inclusive só tô aqui porque o Atacante tá fora do Rio e foi o senhor mesmo que mandou ele ir pra São Paulo, tá lembrado?

PH: Tu não tem vergonha de falar isso não? Sabe que se tua mãe tivesse aqui agora, ela ia passar mal de tanto desgosto que ia ter contigo. - puxou ela pelo braço.

Falcão: Solta ela, irmão, não é por aí que as coisas vão se resolver.

Alana: Foi o senhor que disse que pra sobreviver, eu ia ter que me virar, não foi? Então, me virei e tô de pé muito melhor que antes. Eu devia lhe agradecer pela surra que eu tomei lá no Parque União, mas eu não vou e sabe por quê? Não vou inflamar seu ego, porque quando eu precisei do senhor, o senhor me jogou pras cobras. - puxou o próprio braço.

PH: Tu merecia ter o fim que a tua tia tomou na mão do meu pai! Pro tanto que tu aprontou, tu merecia um caixão e vela preta. - esbravejou furioso.

Alana: Na mão do meu avô não, na sua! Quem executou a tia Yasmin foi o senhor e se eu merecia porque que o senhor não fez? - riu sem humor - E essa é fácil de responder, não fez porque o meu irmão não ia fazer seu papel! Imperador jamais arrancaria meus olhos por mais que eu estivesse errado. - quase gritou e meu tio sentou a mão no rosto dela, automaticamente a marca ficou no rosto dela.

Falcão: Puta que pariu. - fez careta e me encarou.

Alana: Vai, bate mais! Quando acaba teu argumento, te sobra só a força, mas eu vou te falar que quem não faz questão de lhe dirigir a palavra sou eu. - esbravejou com maior tom de voz.

PH: Tu querendo ou não, teu pai sou eu e não vou aturar desrespeito teu e nem de ninguém. Tu se esquece de quantas vezes eu passei a mão por cima da tua cabeça quando tu tava errada. Tu lembra que eu te larguei a Deus dará, mas esquece de tudo de bom que eu te fiz durante vinte e cinco anos. Nunca vi tanta ingratidão num ser humano só, mas é isso, tá certa.

Alana: Não esqueci não, mas não vou esquecer que me deixou na rua e se hoje eu tô aqui na sua frente tenha certeza que não foi pelo senhor. No fundo, lá no fundo, o senhor queria era que a polícia tivesse sumido comigo, igual fariam com o Pablo, mas Deus não dorme e essa conta chega. - respirou fundo - Não tenho mais nada pra fazer aqui! Bença tio. - se virou pro tio Falcão.

Falcão: Deus te abençoe, depois eu converso contigo que isso não é coisa de se falar pro teu pai. - falou serinho.

Alana: Nada além da verdade, tio! - beijou a mão dele e ele a dela - Tchau Fernandinho. - me abraçou e senti meu ombro molhar com algumas gotas de lágrima.

Fernando: Vai devagar, esfria essa cabeça e Deus é contigo. - falei no ouvido dela - Depois eu ligo pra você, tá bom? - sequei as lágrimas dela e beijei o topo de sua cabeça.

Alana: Deus é contigo também, nego. - acariciou meu rosto e fez o sinal da cruz na minha testa.

Alana passou por ele e nem o olhou, entrou no carro, acelerou e saiu de lá cantando pneu. Tio PH respirou fundo e tio Falcão olhou pra ele com a cara feia. Certeza que ele tá pensando em dar uns cascudos no tio PH, porque toda vez que ele abre a boca é pra falar besteira.

Falcão: Agora nós. - olhou pra mim.

Fernando: Agora nós nada, tio! O bagulho já tá feito.

PH: É? Tá feito? Então pronto, não vou discutir contigo não, vou te dar vinte e quatro horas pra tu ir falar pro teu pai, passado esse tempinho, se tu não der o papo pra ele, quem vai dar sou eu. - falou firme.

Fernando: Precisa isso tudo não, vai lá agora e fala! Pra que passar vontade?

Falcão: Bibi Imperatriz encarnou em tu agora é?

Fernando: Não, mas tô com a porra do saco cheio e na moral? Não fui o primeiro e nem vou ser o último, tá no sangue. - me bolei.

PH: Não tenha dúvida disso! Eu não vou deixar o meu irmão no escuro, ele vai ficar sabendo sim e você que se vire com ele. Tu tá pensando que isso aqui é molezinha? Segue em frente, filho.

Falcão: Tá todo mundo de cabeça quente aqui, vamo esfriar pra poder resolver isso da melhor forma.

Foi assim que do Chapadão eu fui parar no alto do Alemão. Tio Falcão fez eu ir pra lá, começou a conversar comigo igual gente, mas pra mim não tinha acordo, eu não ia sair da vida bandida, mas ia levar o padrão de vida e já tinha ideia de como eu ia fazer isso.

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