Capítulo noventa.

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Fernando.

Alguns instantes antes da invasão.

Falcão: Tu já falou com teu pai? Davi não vai entender legal se tu não der as caras pra ele.

Fernando: Falei, tive que mentir que tava na casa de uma mina aí e que eu ia levar ela pra Araruama.

Falcão: Concordo com isso não, bagulho feio pô. - negou com a cabeça - Tu tem certeza que essa porra vai dar certo? Tu tá indo, mas eu não tô concordando com essa porra aí não. - falou escaldado - Se acontecer qualquer coisa contigo, teu pai vem de bicho pra cima de mim e do PH. - era a milésima vez que ele falava isso.

Fernando: Tá tudo esquematizado, tio. O bonde do LC tá fechado comigo, já tá todo mundo sabendo e bom, ofereci uma meta alta pros cara que fechar comigo. Faz tempo que eles tão andando na vacilação, não tem erro! - falei convicto - Depois eu tiro o preju no rendimento das bocas quando tiver organizado lá, não tem caô.

Falcão: Mesmo assim vai descer um bonde daqui pra te dar reforço e pra garantir tua segurança. Não confio nos cara e o papo é esse. - fez carinho no meu ombro, claro que do jeito dele - Sem muito estrelismo, passa o cara e mete o pé de lá e com o resto da cúpula eu saio a teu favor depois.

Fernando: Tio PH tá ciente, vai dar em nada.

Falcão: Os cara vai querer saber motivo, não deu tempo de avisar ninguém e não se mata um de nós assim sem mais nem menos. Isso é assunto meu e do PH, tu só se preocupa em passar o cara e meter o pé sem chamar a atenção, já é?

Fernando: Já é, tio! - fiz um toque com ele e aproveitei pra pedir a benção.

Falcão: Deus te abençoe, moleque! Armamento tá dentro do carro, mas leva essa aqui contigo. - tirou uma pistola da cintura - Foi da minha mãe, meu pai deu pra ela quando ela tava grávida de mim.

Fernando: Não sabia nem que o senhor usava, pensei que tinha guardado na sua casa. - abri um sorrisinho.

Falcão: E eu guardei, mas tô te dando porque é uma forma de tu se sentir perto da tua vó e de onde ela estiver que ela interceda por tu. A escolha que tu fez é difícil e daqui pra frente o bagulho vai ficar doido. Tu tem saída ainda, se tu não quiser ir, eu desço no teu lugar.

Fernando: Valeu tio, mas eu faço questão de ir pessoalmente. - respirei fundo - Quem não devia ir era o senhor e o tio PH, já tão de idade já.

Falcão: Idade é só um número e nós tá inteirinho ainda. - riu - Meu pai com a memória removível dava conta de fuzil, imagina eu e PH que o juízo ainda tá no lugar.

Fernando: Mancada zuar o pretão, ele era brabão com a paz terrível dele. - nós rimos e ele me abraçou.

Falcão: Falconi e paz nunca rolou, filho, essa é a verdade. - respirou fundo.

Eu ia discordar, mas antes que eu pudesse abrir a boca, LC me ligou pra me lembrar do horário de descer pra transportar as cargas que é justamente no horário da invasão.

Achei muito propício, porque LC por mais filho da puta que seja é bem articulado, até mais que o Jetta, então com ele fora do Chapadão, o outro ia entrar em choque mais fácil. Inclusive, o próprio Choque vai puxando um bonde da Penha junto com o Imperador.

Me despedi do meu tio, avisei pro Tricolor que eu tava descendo e inclusive ele ia dirigindo um dos carros que ia fazer minha segurança e combinei com ele o ponto que ele ia ficar de início pra não chamar a atenção do LC.

Cheguei no local marcado, puta galpão longe pra caralho, tinha uns caras já do lado de fora e com esses eu não tava nem contando que viriam. Ali eu já tinha entendido que o filho da puta tava pra tróia mesmo. Meu tio fez bem em mandar um bonde maior atrás de mim, ia dar merda pra caralho. Orei mentalmente, soltei um me ajuda, vó sem voz e entrei.

LC: A parada tá chegando de caminhão, tudo o que tu tem que fazer é ajudar a descarregar, ajudar botar naquele carro e transportar pro Chapadão.

Fernando: Tranquilo, sem caô. - falei tranquilão.

LC: E Alana? Deu as caras já? - perguntou parecendo me analisar.

Fernando: Deu nada, só mandaram um vídeo que a gente não sabe nem onde que é o lugar. Meu tio tá desesperado, aliás, nós tudo né?

LC: É, mexer com família é foda, inadmissível. - bateu no meu ombro.

Fernando: Concordo plenamente, mas com nós nada fica no oculto muito tempo e agora não vai ser diferente, assim espero. - fiz careta.

LC: Vai não, logo logo se resolve essa parada, Fernandin, esquenta não, mano. - falou com a maior cara de pau.

Foi dureza ter que ouvir aquilo como se eu não soubesse de nada, só Deus sabe o quanto eu tive que segurar a porra da língua, mas segurei. A carga chegou, estacionei o carro e abri o porta mala, ajudei os caras a descarregar o caminhão e colocar na mala.

Fernando: Tudo pronto pra nós partir. - fechei o porta mala e me virei pro LC.

LC: Tranquilo, agora vocês pode ir na frente porque qualquer coisa vocês já avisa se a pista tiver salgada. - falou pros outros caras - E nós vamo contigo, Fernandinho, aí nós vamo esperar mais um tempinho pra poder sair.

Fernando: Ótimo. - falei concordando. Otário, mal sabe ele que o feitiço vai cair nele mesmo.

Os cara foi saindo nos carros, ficou eu, LC, Bin, Seedorf, Dedo Nervoso que nós chama de DN e do Biscoito.

Biscoito e DN era fechado comigo, já o resto era fechado com o LC.

Fernando: Eu vou no banheiro, é o tempo que dá pra se organizar pra meter o pé.

E eu fui, só que tudo não passou de uma estratégia pra atrair ele pra cima de mim. Fiquei por trás da porta que ficou aberta e ele veio igual um rato, armado, quando ele entrou aí eu fui pra cima dele na porrada pra fazer ele soltar a porra da pistola. Segunda regra no tráfico é nunca ficar de costas pro inimigo, é a pior merda que tu pode fazer.

LC: Eu vou te matar, porra. - falou tentando se soltar de mim.

Fernando: Não mermo! - falei alto.

O pau cantou entre nós, ele tomou porrada, eu tomei também, nós foi rolando pelo chão do banheiro e a bala comendo do lado de fora do banheiro. Num descuido meu, ele se esticou pra pegar a pistola e ia atirar em mim. Eu puxei a minha que estava presa nas minhas costas e apertei o gatilho sem dó. O tiro que ele ainda chegou a dar, bateu na parede e voltou no meu braço de raspão.

Fernando: Filho da puta. - falei bolado e tirei a camisa pra enrolar no braço.

Tricolor: Coé Fernandinho, tu tomou um tiro, rapá? - chegou no banheiro e abriu olhão quando viu meu braço e minha camisa manchada de sangue.

Fernando: Foi de raspão, mas tô de boa. - levantei de uma vez e dei um chute forte no rosto do LC que já tinha ido pro colo do capeta - Menos um fazendo peso na terra!

Tricolor: Tem certeza que tu tá bem, mano?

Fernando: Absoluta, pra me derrubar nego vai precisar de um calibre maior e de mira boa. Só tá queimando essa porra, mas tá tranquilo.

Tricolor: Vai desovar o corpo onde? - me olhou.

Fernando: Queimar lá no Alemão, é o jeito. Na madrugada é a hora ideal. - abri um sorrisinho.

Isso aí nós fez, pegamos o corpo do safado e taquei no porta mala do carro do Tricolor. O bonde que tava com o LC tava tudo morto, resolvi deixar essas porra aí mermo, mandei um dos menor avisar que o LC tinha caído e puxei o bonde pro Alemão com os cria.

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