Capítulo quarenta e seis.

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Fernando.

Falconi não tem um dia de paz, mermão.

Voltei pro Rio de Janeiro pra retomar meu trabalho, quando cheguei no escritório advinha quem foi chamado na sala do meu chefe? Isso mesmo, eu. Ele falou comigo como se estivesse pisando em ovos, mas o resumo disso foi uma demissão por conta do meu processo e por causa da minha família.

Laércio: Nada pessoal, nada contra você que fique bem claro. Você é um ótimo profissional, mas os clientes têm essa preocupação e manter você por mais competência que tenha, desperta preocupação nos nossos clientes. Desejo que você encontre seu caminho e que essa má fase passe logo.

Fernando: Não fode. - levantei da cadeira boladão.

Respirei fundo e só fingi que aceitei. Tirei minhas coisas da minha antiga mesa, botei no carro e fui embora. Eu tava muito puto, xinguei todo mundo. Isso não teria acontecido se o filho da puta não tivesse me forjado.

Então se nego tava me chamando de bandido, agora eu ia fazer jus ao nome e não ia esperar minha família dar ordem de porra nenhuma. Desde moleque eu sou habituado a ver bandido, a frequentar baile funk em várias favelas então digamos que minha relação de amizade com os caras tá em dia. Então, fui pro Chapadão.

Trindade morreu na cadeia com uma doença braba lá e a Ísis pegou os dois filhos e foi morar em Belo Horizonte, perto da Bruna e do Dinho. De vez em quando é que eles vêm pro Rio de Janeiro. É raridade mesmo!

LC: Fernandin, tá perdido? - fez um toque comigo. Era o sub do Chapadão.

Fernando: Tô nada, irmão! Impossível esquecer o Chapadão. - sorri - Coé, Jetta tá aí?

LC: Jetta foi pra Mineira, deve tá voltando de noite, mas nós pode desenrolar ou é só com ele?

Fernando: Pode ser contigo mermo.

LC: Então bora lá em cima, melhor pra nós jogar conversa fora.

Nós entrou num barraco, subiu pra laje e só tinha nego de fuzil até os dentes na segurança. Ele sentou numa cadeira e eu sentei num banquinho.

LC: Dá o papo.

Fernando: Tu tá ligado no caô que tá com a minha família né?

LC: O comando todo tá sabendo e pra ser sincero contigo, nós tá preocupado com a direção dessa parada aí. Cai pra cima de nós também, mas tu nem é envolvido, qual foi?

Fernando: Os cana me forjaram, perdi meu trabalho e tô sendo processado. Eu não tinha nada a ver com o Imperador, pô. - dei uma pausa - É meu primo, gosto dele um montão, mas o que ele faz é problema dele. Eu não tinha nada a ver, aí o maluco me forjou de traficante e ainda me bateu. Eu quero vingança. - falei sério - E em troca, eu faço serviço, dou plantão na boca e tudo mais.

LC me olhou surpreso, como se eu tivesse dito um absurdo.

LC: Coé, Fernandin! Tua família tá sabendo disso? Teu tio é o 01 do comando e ele vai deixar por isso mesmo é nunca.

Fernando: Por enquanto tão focado no Imperador, tão caçando ele, meu tio, Babi e o resto. - respirei fundo - Tô cheio de ódio e vim pra cá pela amizade que nós tem desde moleque. Se tu não me considera… - ele me interrompeu.

LC: Quem foi que falou que eu não te considero? Tá malucão? Nós te tem como irmão, mas matar polícia não é de qualquer jeito. - me olhou sério - Vou bater a situação pro Jetta, tenho certeza que ele vai concordar também.

Jetta: Eu vou concordar com o quê? - apareceu na laje do nada por trás de mim - Ih, coé Fernandin. Tava sumido em, mano.

Fernando: Tava recluso, tu sabe que o bagulho tá foda pra minha família.

Jetta: É, maior esculacho isso que fizeram com o Imperador, né mano. - fez careta e fez um toque comigo - Coé, tá precisando de alguma coisa?

Fernando: Tô, vingança.

Jetta: Ih, rapá… Quem foi que mexeu contigo?

Comecei a contar a situação toda pro Jetta, a mesma coisa que eu falei pro LC.

O Jetta é lá do Adeus e o LC é da Grota, os dois cresceram jogando bola com a gente. O Jetta foi segurança do tio PH, depois foi pro Chapadão e quando o Trindade foi preso, ele ficou de frente. Depois da morte do Trindade, ele passou a ser dono de lá.

O LC era gerente da boca da Alvorada e foi pro Chapadão depois que o Jetta ficou de chefe por lá. Tio PH não queria deixar ele ir não, LC é de confiança dele, mas aí eu dei o papo nele e convenci que era melhor deixar o LC ir. Até porque Chapadão, Alemão e Penha sempre tiveram boa relação por conta da amizade entre os chefes.

Jetta: Caralho, filho da puta esse maluco aí! Tá de tiração, mas aí nós tamo contigo e vamo entrar dentro do teu problema. Tu é nosso amigo e nós vai te fortalecer. - apertou minha mão - Quem é os maluco, me passa a visão!

Fernando: Vou te passar, mas queria mais uma coisa também. - olhei sério pra ele.

Jetta: Fala aí, se tiver no alcance nós resolve.

Fernando: Quem quer passar os cara pessoalmente, sou eu.

LC: Pera aí, irmão, acho que eu não entendi legal não. - abriu olhão.

Fernando: É essa parada que tu ouviu, os cara me agrediu, um tapa no rosto pra mim é imperdoável. Nunca levei na cara nem do meu pai e o último que me bateu, minha vó mandou encomendar a alma pro capeta. - falei serinho.

Jetta: Tu tem certeza disso? Escolha dessa é perigosa, muitas vezes não tem volta, irmão.

Fernando: Nunca falei tão sério em toda minha vida. - respirei fundo - Se alguém batesse na tua cara, tu ia ficar de boa?

Jetta: Eu ia mandar o maluco pro buraco, pô, cara de sujeito homem se respeita, tá maluco. Mas aí, eu sou erradão, tu não pô! Tu é cria de favela, mas tu é playboy, tu tem tua caminhada certo pelo certo.

LC: E tu tá ligado que vida bandida é caminho sem volta. Ou tu vai de cana, ou tu vai de ralo. - me olhou e eu balancei a cabeça concordando.

Fernando: Eu tô sendo processado por tráfico, essa porra vai manchar meus antecedentes pro resto da vida. Onde que eu vou arrumar outro emprego na minha área com meu nome manchado? Eu vou levar fama fazendo e agora é questão de honra.

Jetta: Beleza, tu quer fechar? Nós fecha contigo e tu com nós. - fizemos um toque.

LC: Primeiro nós resolve teu problema com os polícia, depois tu vê direitinho se tem disposição pra segurar a responsa.

Fernando: Não tem esse bagulho de pensar, já subi decidido. - falei sério.

Eu vou honrar esse “de Carvalho Falconi” que nego inventou de botar em mim.

Se ter o sangue da Imperatriz e do MK correndo nas veias é uma doença, então eu vou ser o novo câncer do Rio de Janeiro.

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