Capítulo trinta e oito.

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Gabriela.

Há anos eu vivo com ajuda de calmante pra dormir, mas desde que meu filho foi preso eu não sei o que é dormir direito e desde que eu fui informada do desaparecimento dele eu não consigo dormir mais. Minha vida se divide entre Bangu e o escritório desde então e eu só ia parar quando achasse meu filho.

Vivo ou morto! E ainda que estivesse morto, eu ia atrás do corpo do meu filho mesmo que fosse só pra levar pro Irajá junto dos meus pais.

PH queria que eu fosse pra Goiânia com ele e o resto da família, neguei e negaria até a morte. Eu não conseguiria ver minha neta chorando pelo pai e eu ficar lá de braços cruzados esperando que façam o que eu deveria fazer como mãe.

Otávio: Doutora Gabriela, essa situação tá ficando insustentável até pra mim. - o diretor do presídio falou.

Caroline: Como se a gente gostasse de vim aqui todo dia. - falou nervosa.

Gabriela: Tá insustentável, mas eu quero notícia do meu filho! É simples, me leva pra dar uma voltinha nas galerias do Comando e se eu não achar meu filho, eu saio.

Otávio: Eu não posso fazer isso, é contra a lei e a senhora sabe.

Gabriela: Estamos só nós, não precisa me falar sobre a lei. Quando você engatinhava no direito, eu já era usada como referência na faculdade. Meus advogados já fizeram o pedido e essa hora tá em análise do juiz, mas vamos quebrar a burocracia.

Otávio: Bem que dizem da sua fama de ser carne de pescoço.

Gabriela: Mais cedo ou mais tarde, eu vou entrar e vai ser sacudindo um papel assinado nem que seja pelo desembargador e aí nem você vai poder impedir.

Otávio: Se eu cair, eu levo você junto.

Gabriela: Isso não vai acontecer, estamos no Brasil. Meu filho é muito amado pela minha família e se o senhor dificulta o processo de localização, meu pessoal vai ficar muito irritado. Eu não faço mal pra uma mosca, afinal, tô velha já e perto da aposentadoria, mas os mais novos eu não garanto. As notícias chegam nos ouvidos deles de uma forma ou de outra.

Otávio: Isso é uma ameaça, doutora?

Gabriela: Não. - neguei com a cabeça - Eu tenho uma sobrinha que é procurada pela justiça a mais de vinte anos, dizem que ela manda lá no Parque União, tem vinte e dois anos que eu não vejo ela, mas ela tem meu filho como irmão dela. - menti.

Falo com a Babi até hoje! Nem mesmo a confusão entre meu marido e ela fez com que eu virasse as costas pra ela. Ela tem os motivos dela e eu só respeito.

Otávio: Vou te acompanhar, mas só entra você, ela não. - olhou pra Carol.

Caroline: Mas ele é meu marido, sogra, eu.. - olhei pra ela e fiz sinal.

Gabriela: Eu sei o quanto você o ama, mas se a gente impõe condição, tem que aprender a ceder também. Eu vou lá por mim, por você e pela Sheron. - a abracei forte.

Caroline: Então tá certo, eu espero a senhora aqui. - me abraçou e beijou minha testa.

Otávio abriu a porta pra que eu pudesse sair e isso eu fiz. Ele chamou dois carcereiros pra que pudéssemos fazer essa tour pelas galerias onde ficavam os homens do comando. Pela hora, os caras estavam no pátio, na hora do banho de sol e era pro meu filho estar lá.

Olhei cela por cela e principalmente a cela onde estaria o Pablo, reconheci suas camisas e confesso que eu comecei a chorar calada, até botei a mão na boca pra evitar barulho. Fiz questão de ir pro pátio onde os presos tomavam banho de sol.

DO JEITO QUE A VIDA QUER 4Onde histórias criam vida. Descubra agora