Capítulo sessenta e quatro.

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Belisa.

Quando o Roger foi transferido pro StarMed, ele já tinha sido operado, mas seguia num estado delicado e só dependia dele e das vontades de Deus pra se recuperar. Eu acompanhei tudo do lado de fora, inclusive a chegada de uma boa parte da família do Roger. As avós, alguns primos, a tia gêmea e a polícia, claro.

Estavam sedentos igual carniça esperando a mãe ou o pai dele aparecer. Tanto que meteram o louco pra cima da Dona Maísa que teve que responder várias perguntas e uma delas era onde estava a irmã. Um fato constrangedor que se não tivesse sido a presença da dona Carol, madrinha do Roger, talvez a dona Maísa fosse levada pra delegacia.

A noite caiu e eu continuei lá aguardando alguma notícia boa. Leonardo chorava igual criança, eu já não tinha mais lágrima pra chorar e a Paula tentou me convencer a ir pra casa, mas neguei. Tudo era silencioso, mas estranhei quando começou o entra e sai de enfermeiro da UTI durante a madrugada.

No meio deles, tinha dois de aparência duvidosa e eu tive certeza quando aqueles olhos piscaram pra mim no momento em que passavam na minha frente. Eu conhecia aqueles olhares periculosos de longe, tio Raro e tia Poderosa estavam no hospital e vieram ver o filho com os próprios olhos. Ela me estendeu a mão e fez sinal pra que eu a acompanhasse.

— Ela não pode ir. - um dos enfermeiros falou pra ela - É uma UTI, não uma enfermaria.

Poderosa: Não vai demorar, prometo. - falou autoritária.

— Mas.. - foi interrompido.

Raro: Ela é mulher do meu filho, é da minha família e ela vai entrar também. - falou por fim.

— Tudo bem, mas a bolsa dela não pode entrar, por causa do… - foi interrompido novamente.

Poderosa: Não tem problema! Filha, entrega sua bolsa pra ele guardar, por favor.

Belisa: Claro, não tem problema. - tirei a bolsa do ombro.

Entreguei minha bolsa para outro enfermeiro que estava responsável por guardar meus pertences e com o cu na mão passamos na frente dos policiais sem maiores problemas. Ao entrar na sala da UTI, passamos pelo processo de esterilização e depois os enfermeiros se dispersaram, restando eu e meus quase sogros em volta da cama onde o Roger estava.

Roger estava lá, cheio de fios presos pela região do peito, uma puta faixa entre aquela divisa do peito e início do abdômen. Seu dedo estava preso ao oxímetro que mostrava suas informações vitais. Batimento cardíaco, saturação e pressão arterial e pra ser sincera, não tava legal o que eu estava vendo. Pra completar, estava tomando soro pela veia do braço e respirando com ajuda de aparelhos.

Poderosa: Meu filho, sou eu, a sua mãe… - se aproximou dele, começou a chorar e a acariciar o rosto dele - Eu tô aqui, meu amor, ninguém mais vai te fazer mal.

Eu também não aguentei, comecei a chorar junto com ela, pois naquela situação só não tendo coração pra não se comover junto. Eu tinha medo! Um medo que eu nunca senti antes, parecia que era eu que estava naquela cama e que a minha vida dependia do Roger.

Poderosa: Eu vim assim que soube de você, meu amor. A mamãe não vai deixar por isso mesmo, eu te prometo. Por favor, meu filho, reage! Não deixa a sua mãe, você me prometeu que me levaria pro Paraguai assim que eu comprasse um avião particular. Seu pai e eu amamos tanto você, não é justo com a gente. Passei tantos anos longe de você, te acompanhando de longe e agora que você tá aqui perto de mim de novo, perto do seu pai, da sua família, acontece isso?! Meu Deus, que castigo é esse? Roger, eu prefiro morrer do que ver você morrer, não faz isso comigo, meu filho. Você é a nossa vida, meu amor, não é Richard?

DO JEITO QUE A VIDA QUER 4Onde histórias criam vida. Descubra agora