Capítulo oitenta e um.

592 118 30
                                    

PH.

Acordei cedo, tava um dia meio assim cinzento porém com o sol querendo sair. Não sei se foi milagre ou algo parecido, mas consegui dormir bem e até sonhei com meu pai. Faz mais de vinte anos que ele foi embora e eu nunca havia sonhado com ele.

💭

Tava no alto do Alemão, o sol tava começando a se por e as milhares de luzes iam se ligando conforme ia escurecendo. O vento batia no meu rosto e eu começava a sentir o cheiro do perfume das rosas. Olhei pro lado e meu pai aparecia saindo do meio de uma luz branca e forte.

MK: O quanto esse Alemão ainda é mais bonito visto daqui, ainda não tem ninguém que explique. - meu pai falou sentando do meu lado.

Meu Murilo véi de guerra estava todo de branco e no momento em que ele se sentou do meu lado, eu me senti em paz.

PH: Pai? O que o senhor tá fazendo aqui? - falei um pouco assustado.

MK: Vim te visitar, filho. Faz um tempo que eu tava querendo fazer isso, mas a gente só vem quando tem permissão. - sorriu - O tempo passou, a idade tá chegando e você repetindo os meus erros. Eu esperava que tu fosse ser mais original e não uma cópia minha.

PH: Do que o senhor tá falando, pai?

MK: Tua cabeça dura tá te impedindo de ver a besteira que tá fazendo com você mesmo. Paulo Henrique, eu não consigo descansar, a sua mãe não consegue também. A alma da sua mãe chora e a minha sofre.

PH: O que eu tenho que fazer pra isso acabar? Eu jamais queria que isso acontecesse com vocês.

MK: Acredita em mim, você sabe o que fazer, seu coração já te indicou. Só não espera pra fazer tarde demais!

PH: O senhor me perdoa? - olhei pra ele e ele acariciou meus cabelos sorrindo.

MK: Eu sempre te perdoei porque eu te amo, filho! Em vida eu te amei muito, até nos dias que eu errei, eu te amei e não tenha dúvida que eu ainda te amo muito. Tenha certeza disso tanto quanto as palavras de Deus e você precisa d’Ele muito mais do que imagina!

PH: Vamo pra casa, pai? Tá tudo do mesmo jeito que você e a mãe deixou.

MK: Eu vou, mas você vai acordar. Vai ter muito o que fazer daqui pra frente. - sorriu, beijou minha testa e se levantou.

PH: Me espera, pai! Não vai embora agora. - levantei também.

MK: Eu tô aqui pra quando você precisar de mim.  - tocou no meu peito - Deus te abençoe, filho.

💭

E foi assim que eu acordei chamando pelo meu pai, fazendo Gabriela acordar assustada também. Chorei nos braços dela igual criança por um bom tempo. Até pensei em relutar, mas depois não teve jeito, Gabriela me obrigou a sair do morro direto pro centro espírita.

Chegando lá, fomos levados pra uma sala, era tudo muito simples, o médium sentou, pegou a caneta, colocou uma mão cobrindo seus olhos e sem falar nada começou a escrever sem parar em um monte de folha. Uma moça estava encarregada de tirar as folhas conforme iam se enchendo e eu olhei pra Gabriela um pouco assustado. Ela segurou minha mão e quando dei por mim as lágrimas caíram do meu rosto e ali abaixei o rosto.

— Filho de Fabiana de Carvalho Falconi. - o médium falou e eu levantei o rosto novamente - Vou começar a ler a carta que sua mãe escreveu e bem que ela disse que antes de começar você estaria chorando. - ele me ofereceu um lenço vermelho. Minha mãe amava vermelho!

Gabriela: Foi a mamãe que veio. - falou baixo e sorriu.

— Meu neguinho. Sou eu, a sua mãe que está falando e começo agradecendo a Deus pelas oportunidades de estar perto de você mesmo que por meio de intermédio. Você não sabe o quanto sinto saudades de você de toda a minha família. Eu sempre soube que meu dia chegaria e no dia da minha partida eu fiz tudo o que o médico me proibiu, inclusive misturar uísque. Não foi de caso pensado, mas naquela madrugada eu havia sentido um mal estar, mas não comuniquei a ninguém, o médico não tem culpa alguma do que aconteceu, portanto pare de culpá-lo por não avisá-los do meu problema antes, eu exigi e o ameacei por isso.
Aqui eu me reencontrei com quem eu tanto amei, vovó Zélia me abraçou, meu pai Fabiano me deu conselho que em vida eu estaria tonta. Tive a oportunidade de ver Orlando e Mariane, eles também me deram conselhos pra melhor aceitação.
Até com Breno e Luma me encontrei, aqui não há rancor e não há raiva, apenas o perdão e palavras de amor. Não se fala em céu ou inferno, pode ficar tranquilo.
Só pude me encontrar com meu pretinho um bom tempo depois, estamos enfrentando o processo juntos, ainda há muito trabalho pela frente, pois, fizemos muita coisa que não deveria.
Mas venho me preocupando com o que você está fazendo com si mesmo e com seus filhos nesses últimos tempos. Você era um pai maravilhoso e de suas intenções eu não tenho dúvida, mas diante dos erros de sua filha você se tornou tudo aquilo que eu e seu pai não fomos pra você e seus irmãos a vida toda.
Omisso, rancoroso, previsível e acha que é dono da verdade mesmo sabendo que não é. Se eu perdoei você das inúmeras vezes que aprontou, porque você não poderia perdoar sua filha?
Você trata seu filho como se ele fosse apenas seu subordinado, como se o menino fosse um cachorro sem dono e ainda acha que ele tem que se calar diante dos seus mandos e desmandos. Trate de se redimir com eles enquanto há tempo, o tempo é implacável com quem não se arrepende dos erros e a conta dessa fatura é alta demais. O mandamento diz sim que devemos honrar pai e mãe, mas se lembre que não podemos provocar a ira em vossos filhos.
Eu preciso da minha família unida e principalmente em oração para que eu e o pai de vocês possamos ir para outro lugar.
Imagine um hospital com várias alas, agora imagine que eu e seu pai estamos na UTI e precisamos sair daqui. Una nossa família novamente e juntos enfrentem a vida, as dificuldades e desfrutem dos melhores momentos que ainda virão.
Eu estarei bem se vocês estiverem bem também.
Para sempre, sua mãezinha mais braba.

Fabiana de Carvalho Falconi.

💭

Eu não conseguia nem falar nada, eu só chorava.

DO JEITO QUE A VIDA QUER 4Onde histórias criam vida. Descubra agora