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No fim de tarde, Larissa jogou golfe com avô, enquanto Ohana tirou um pouco do seu tempo para o filho. A modelo ganhou 2 partidas, e em outro âmbito, a agenciadora, fez o garoto sorrir em uma sala de brinquedos do seu enorme legado. Dois mundos completamente opostos, a beira de grandes conflitos, medos e inseguranças.

-Harvey: Você mandou bem! - ele comemorou, ao estacionar o carro por chegarem em casa.

-Larissa: Você sabe! Eu sempre mando bem em tudo que faço!

-Harvey: Ah é... isso é verdade! - o gargalhar do idoso foi divertido, orgulhoso.

Adentraram a casa e notaram que o silêncio era predominante. Mauro ainda não tinha retornado, era sempre difícil vê-lo devido os dias trabalhosos que o consumia. Larissa deixou um beijo rápido em Ya, antes de subir para o quarto monótono e sem emoção, a fim de um banho gelado. Após isso, retornou ao primeiro andar. Usava roupas largas e casuais.

-Yasmim: O que quer comer essa noite? - questionou-a com calmaria. - Ah.. sem fugir dos seus planos claro!

-Larissa: Ohana pediu apenas que eu me mantivesse nesse percentual de agora. - disse explicativa. - Então...  Podemos comer panquecas. Me deixa fazer panquecas pra você? Prometo que sou boa nisso.

-Yasmim: Panquecas, já comeu isso pela manhã e quer outra vez? - questionou-a duvidosa e Larissa assentiu. - Tem certeza de que não vai destruir nossa casa?

-Larissa: Bem... eu acho que sim. - sorriu fraco, e foi permitida.

Queimou algumas, entretanto, muitas deram certo. Optavam geralmente por coisas leves ao invés de um jantar pesado e longo. Bem, todos ali seguiam uma vida saudável de certa maneira. Devido o cotidiano da bendita modelo e da escritora.

-Larissa: Eu espero que goste. - sorriu fraco, servindo a madrasta.

Yasmim sorriu graciosa com a forma gentil de Larissa ser, de fato era uma menina incrível. Desde que a conheceu, sentia que ela era uma peça importante em todos os seus dias... era como um pesar gratificante, de ingenuidade, afeto, e inteligência. Yasmim não poderia admirar um outro alguém, mais do que admirava a própria enteada.

-Yasmim: É... eu gostei. - sorriu sincera, após provar. - Realmente gostei. Você mandou bem!

(...)

No lado nobre de Miami, Ohana encontrava-se sozinha na enorme cozinha planejada da mansão em que vivia com os pais. Theodoro sentado na cadeira móvel bem acolchoada, aguardava a mãe que exausta, fazia-lhe a refeição antes de colocá-lo na cama. O garoto tinha os cabelos negros ainda úmidos pelo banho recente, os olhinhos atentos e o silêncio que deixava Ohana inquieta.

-Ohana: Vai ficar calado o tempo todo? - ela questionou e ele inocente, assentiu. - Não estão errados quando dizem que age igual a mim... - ela lamuriou em sussurro.

Ohana, usava um luxuoso robe em tonalidade rubro, um vermelho como sangue. Os cabelos loiros presos desajeitadamente, alguns fios caiam sobre sua face límpida, livre de qualquer produto estético. Ela estava à beira do fogão de indução, enquanto fazia a refeição do filho. Bem, ele geralmente era bem seletivo, mas tudo que ela fazia o agradava. Na cabeça, os pensamentos iam longe. Escutava repetidamente a voz de Larissa soar com paciência ainda que fosse uma terrível maldita com ela, e no fim, concluiu que talvez fosse uma boa tentar ser um pouquinho mais paciente ao ter ruiva por perto. Por outro lado, o perfume do maldito homem que gostava meramente, ainda estava por todo seu corpo. As mãos dele pareciam ainda estar ali, em volta da sua cintura, enquanto o inalar leve ainda arrepiava-lhe o pescoço. O queria por perto, ainda que ele lhe fosse somente um alimento de ego. Pena que... tinha uma vida para cuidar, e agora, uma jovem modelo para tornar a face da sua empresa em uma breve expansão territorial da agência. Na arquitetada inauguração em Nova York, queria uma face principal para sua agência, e eras isso que planejava... para Larissa. Ela tinha as características que imaginou, era como se o destino estivesse dando-a em suas mãos.

-Ohana: Prefere meu jeito plácido ou maçante? - questionou ao próprio filho, que fitava-a como se pudesse entendê-la. Ele sorriu bobo, não sabia os significou daquelas palavras, e ela sorriu também. Entregou-lhe a mamadeira e o analisou comer sozinho. - Aquela moça ruiva disse que prefere o plácido. Você gostou dela, Théo?

-Theodoro: Ela é cheirosa. - ele mencionou paciente, com sua voz infantil.

Retornando ao ato, o garoto manteve-se a comer. Era uma criança, ainda imatura, mas inteligente. Em fase de crescimento, tanto emocional quanto físico e intelectual.

-Ohana: Bem... ao menos ela acalmou você. - sorriu fraco, aproximando-se.

Tocou os fios negros outra vez e o sentiu derrear, deitar a cabeça em seu abdômen. Ainda tendo as duas mãozinhas segurando a mamadeira.

-Ohana: Acho que você está cansado... - mantinha-se a conversar com o filho. Ele já aparentava sonolento, mal conseguia segurar a mamadeira sozinho. 

O colocou na cama após o ver cair no sono, ele havia tido um dia cansativo e chato. Assim como ela. Estava exausta, fisicamente e emocionalmente. Deitou-se na própria cama onde tinha o filho também enrolado em meio aos seus edredons. O queria por perto aquela noite, ele a fazia grandiosamente bem. E por isso, fugiria dos costumes em deixá-lo sozinho em seu quarto.

-Ohana: Eu prometo que estou tentando ser melhor... - ela sussurrava ao ouvido dele. - Quero ser uma ótima mãe pra você, Théo. Quero te compreender, te apoiar e te amar acima de qualquer coisa.

Dedilhava as costinhas, por baixo do pijama. Podia sentir a pele quente, o subir e descer, pelo respirar aguçado em meio ao sono tranquilo. Onde seu diafragma contraia e relaxava.

-Ohana: Me desculpa se eu falhar as vezes. - ela pedia baixinho, insegura. - A mamãe tem se sentido muito mal, e não sabe o que fazer pra consertar isso.

A todo momento, a imagem de Olivia vinha a sua mente. Questionava-se, como podia ser capaz de amar alguém tanto assim. A ponto de perder o rumo, a ponto de sentir o ar faltar. Doía, doía saber que nunca mais a teria por perto, que o afeto e o corpo que bem conhecia já estava longe demais. Que sua irmã jamais conheceria seu filho, jamais estaria presente outra vez.

(...)

-Mauro: O que está fazendo? - questionou o homem ao encontrar a filha na sala.

Ela tinha um notebook sobre as pernas, vasculhava algo na internet a fim de realizar compras. Buscava por coisas monocromáticas. Ao seu lado, Yasmim juntou-se, entregando-a um chá de hibisco. Contraditoriamente, a madrastra amargurava-se com um café quente.

-Larissa: Estamos fazendo compras. - respondeu ainda focada na tela. - Ya disse que precisamos mudar a paisagem daquele quarto, realmente, ele é péssimo.

-Mauro: Posso me juntar a vocês? - o homem pouco presente, ofereceu-se contente, Larissa aceitou.

Realizaram compras bem detalhadas, Larissa queria de fato repaginar o ambiente que agora era seu. Bem, moraria em Miami por anos, e a cada dia que se passava, concretizava mais a vontade de permanecer. Sem ideias de um retorno para o Brasil ou mudar-se agora. Optou por móveis novos, papéis de parede em tons escuros misturados ao beje, lustre mediano adaptável ao ambiente. Sem deixá-lo exuberantemente exagerado, mas com um toque refinado. Tinha um ótimo gosto, sabia disso.

Em mente, carregava uma vida calma. Pouco sabia a jovem modelo, que ainda tinha muito pela frente.

Curvilíneas - Ohanitta Onde histórias criam vida. Descubra agora