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Ohana saiu da sala na companhia da modelo. Ao subir a passarela, Ohana permaneceu sentada em uma cadeira na lateral, medianamente distante. A agenciadora concentrou-se no desfilar de Larissa, era magnífico. Ela tinha postura, alinhamento, tempo exato. Era como se... ela não pertencesse a moda comercial... como se a passarela, quem pertencesse a ela. Pena que não tinha tamanho suficiente, físico adequado, nem tivesse vontade em desfiles.

Era... enlouquecedor como aquilo pertencia a ela, e ainda assim, ser algo que ela não poderia ter.

Ohana ergueu-se e com um levantar de dedo insinuou a Larissa que parasse. Caminhou até ela em passos vagarosos, e em sua expressão não carregava apreensão. Ficou à frente da garota ruiva, estando a milímetros de distância.

-Ohana: Estava perfeito, mas perdeu a postura. - disse baixinho. - Eu preciso que respire fundo... - assim a ruiva fez. - E ajuste melhor as escápulas, a postura. Consegue outra vez, não é?

Larissa assentiu obstinada. Ohana deu um passo à frente, ficando ainda mais próxima, tanto que podia sentir o respirar morno da ruiva, e ser encarada pelos castanhos tão intensos.

-Ohana: Assim... - levou a mão a passar pela cintura respeitosamente, até alcançar o centro das costas, entre as duas escápulas.

Faziam tudo com calma, pareciam até mesmo se perder naquele pequeno ato. Ohana tratava-a com tamanha gentileza e respeito, já Larissa, sentia seu cerne queimar cada vez que o tocar gélido abrangia sua pele pelas partes abertas do vestido. Não entendia o motivo, mas Ohana fazia-a ter "borboletas no estômago" e arrepios indiscutíveis.

-Ohana: Coloca as mãos nos meus ombros e tenta fazer sozinha. - sugeriu baixinho e assim Larissa fez.

Segurou-se nos ombros da loira, que por usar uma blusa colada teve o tocar como se fosse na pele.

-Larissa: Assim? - sussurrou rouca, e Ohana assentiu.

O desvencilhar fôra calmo, mas antes disso, Larissa teve o ato conspícuo, de observar que os castanhos da agenciadora não eram inebriados pela sensação solitária tão pouco pela dor constantemente notada. Eram postos sobre si com atenção, calmaria, placidez. Pela primeira vez.

-Ohana: Agora... - sorriu fraco, após afastar-se um pouco. - Desfila pra mim outra vez. - Larissa olhou em volta e notou um alguém desconhecido no fim do grandiosos salão, aparentemente este logo sairia. Ohana tocou-lhe levemente o queixo com a ponta do dedo, tomando-lhe toda a atenção, com o intuito de deixá-la mais tranquila. - Só pra mim.

(...)

A herdeira adicionou as suas tardes semanais, mesmo que intercalado em dias, as terapias outra vez. Estava agora em uma dessas sessões agendadas, com uma psicóloga, sentada na poltrona á quase 15 minutos sem dizer absolutamente nada. Queria levantar-se como fez nos últimos meses, abrir a porta e sair quando lhe fosse dito o mínimo. Todavia, criava coragem para ficar. Tentava escutar a si mesma, tentava se estabilizar outra vez... e para isso, tinha de conversar com aquela moça a sua frente.

-Ohana: E-eu não sei o que deu errado na minha vida. - soltou em um sussurro falho, gaguejado e tenso. - Mas alguma coisa deu. Eu não estou onde eu queria estar.

Os olhos marejaram, e o choro silencioso tornou-se notório. Não conseguia entender o porquê da sua vida pessoal ter virado aquela grande bagunça. Não conseguia entender o porquê da sua vida emocional, nunca andar para frente.

-Ohana: Eu estou em... lugar nenhum. É como se as minhas escolhas tivessem sido erradas. - soou paciente em meio ao choro silencioso e incontrolável. - Todas elas.

As lágrimas molhavam suas bochechas já ruborizadas. A postura antes severa, tornava-se magoada, frágil.

-Ohana: Eu... eu não sou feliz. - disse convicta. - Eu só tenho arrependimentos. Eu estou tão sozinha... - suspirou pesado. - E-eu estou condenada. - gaguejou, mas era o que de fato pensava.

A mulher estendeu-lhe um pequeno paninho descartável, onde com cuidado e delicadeza Ohana enxugou as lágrimas.

-Ohana: Por outro lado, eu não sinto nada. Eu estou tão desesperada por sentimentos, que acabo querendo tanto, e coloco a culpa em mim por um relacionamento que nunca pude ter. Faço dele meus pensamentos frustrantes, é como se... eu quisesse me forçar a amá-lo, e colocasse todas as minhas esperanças de voltar a sentir algo, nisso.

Ela respirou fundo e tornou-se pensativa por alguns minutos. A psicóloga mantinha-se silenciosa, Ohana se sentia mais confortável em se abrir assim. E a mulher estava orgulhosa. Visto que as entradas e saídas de Ohana daquela sala, eram sempre silenciosas.

-Ohana: É... eu não sinto nada. - afirmou. - E isso é um tédio. Eu acordo e penso: "outra vez?" "Eu tenho que repetir tudo?" - seus olhos tornaram a marejar. - E o que eu não entendo, é como é que todo mundo não está gritando de tédio, também. E eu tento dar um jeito... de sentir alguma coisa. Mesmo que seja irritação ao provocar desrespeitosamente meus funcionários. Não paro e não paro de tentar... - ela respirou fundo como outrora. - Mas, eu não consigo.

A psicóloga sentou-se ao seu lado, segurou suas mãos trêmulas e geladas. Encarou o rostinho ruborizado, que tinha as bochechas outra vez molhadas, pelo choro incessante.

-Ohana: Eu me machuco emocionalmente e não parece doer como eu mereço. - disse baixo. - Gasto fortunas comprando o que quero, e depois não quero mais. Faço o que eu quero e não... e não gosto de fazer.

O olhar castanho e bem marejado a ponto de expelir lágrimas incessantes, fitaram a psicóloga que ouvia-a com demasiada atenção.

-Ohana: Eu estou tão entediada... - suspirou pesado. - E culpada.

(...)

Larissa teve de passar a tarde inteira no prédio Lefundes, a fim de uma reunião com os advogados da empresa, medidas novas com Arielle e algumas estressantes perguntas de Celine. Era por volta das 17:00 quando saiu da sala de reuniões principais, que ficava em frente a porta do escritório de Ohana.

-Celine: Por toda a semana, incluindo os fins de semana também. Queremos você aqui ás 8:00, temos muito a seguir. - disse convicta, e Larissa assentiu.

O caminhar da secretária junto aos advogados fôra rápido, em direção ao elevador. Em questão de segundos, estava sozinha no andar... ao menos era isso que imaginava. Ao bater os olhos através das vidraças abertas, quais raramente estavam a mostra devido as cortinas sempre fechadas, pôde notar que Ohana tinha uma postura deveras magoada. Não sabia quando ela havia retornado, mas estava ali... e era explícito o quanto chorava.

Pensou e repensou, mas decidiu que adentraria o cômodo. Afinal, Ohana tinha sido legal com ela a manhã inteira. O que custava ajudá-la?

Larissa se manteve em silêncio ao adentrar o cômodo. Ohana não a mandou sair, mesmo depois de ouvir e ver a porta se fechar atrás da ruiva. A modelo permaneceu estática, contraditória a Ohana, que virou-se de costa para ela. Escondendo-se de certa forma. Larissa deu passos lentos e baixíssimos em tom auditivo, em direção a loira.

-Ohana: Não pode fazer isso. - disse chorosa, rouca e baixinho ao sentir as mãos firmes da ruiva repousarem em seus ombros. - Eu sou sua chefe.

-Larissa: Nesse momento, pensa que eu não sou nada... - sussurrou em uma sugestão, ao mesmo tempo em que virava vagarosamente a loira para si. - E só me abraça. Hum?

O amplexo fôra caloroso, confortante e demorado. Ohana timidamente levou as mãos a repousarem na cintura da modelo, sequencialmente abraçando-a. Com delicadeza, deitou a cabeça em seu peito, podendo esconder os olhos na curva do pescoço que emanava um cheiro indescritivelmente marcante. Larissa que antes tinha as mãos repousadas nos ombros da agenciadora, puxou-a ainda para mais perto. Pondo-se a acariciar os fios dourados, com deveras calmaria. Até deixar a mulher em seus braços, sentir-se estável. Para que por fim, a deixasse ali sozinha e fosse embora.

Curvilíneas - Ohanitta Onde histórias criam vida. Descubra agora