Larissa agradeceu mentalmente quando o fitar tão severo tirou-a de foco. Ohana levou a mão ao copo americano biodegradável, e seguidamente o ergueu aos lábios. Sentiu o amargor do café gelado, e inebriou-se levemente com ele. Era forte, amargo, mas gracioso. Causava-lhe sensações de devaneios.-Larissa: Você é sempre assim? - questionou-lhe educada, paciente, para não parecer invasiva. - Ou só... me odeia e se arrepende da decisão que tomou?
-Ohana: Ambos. - mencionou levemente expressiva, com um sorrir sincero. - Eu cheguei até cogitar que estava doida, acredita?
Larissa revirou os olhos e fitou as próprias mãos. Aquilo de fato não era o que esperava. Não esperava nada desse descaso todo, desse desinteresse e falta de respeito.
-Larissa: Então... por que? - questionou-a, mas aquela pergunta era confusa para si também.
-Ohana: Você tem o que eu preciso, e eu sou o que você busca. Temos uma troca benéfica. - mencionou com todo seu ar profissional. - Não há nada melhor do que uma conta rentável, e você... me proporcionará isso!
-Larissa: Quando posso ir embora? - questionou-lhe inquieta.
-Ohana: Você parece meu filho de dois anos no auge da descoberta. - ressaltou. - Não, não pode ir embora.
-Larissa: Você não tem cara de quem gosta de criança. - soou provocativa, no mesmo tom.
Se falavam em calmaria, mas com ardência em dito. Larissa em atos de repreensão, Ohana... em superioridade e amargura por um recente relacionamento frustrado, e uma morte trágica na família que ainda a assombrava. Ser arrogante estava sendo seu maior refúgio.
-Ohana: Eu gosto de crianças. - sorriu fraco.
-Larissa: Aposto que as crianças odeiam você. Seu filho... pode até ser uma exceção.
-Ohana: Aposto que você se deu conta de que também me odeia. - ela sorriu ainda mais provocadora. - Mas foi agora, não foi? É uma pena... - segurou a folha outrora assinada. - Assinou um contrato de 3 anos com a agência Lefundes. Em específico... comigo.
-Larissa: Eu rasgo o contrato.
-Ohana: Boa dívida então... - mencionou paciente, sem expressão amigável. Como sempre.
-Larissa: Já vi que vai descontar toda sua frustração em mim. Então faz de uma vez... - pediu levemente impaciente. - Vai... continua.
-Ohana: Não tenho frustrações.
-Larissa: Tem, muitas. - ressaltou. - Já que vamos ficar aqui por um longo tempo até sua secretária decidir dar o ar da graça... então vai, fala o que quiser. Eu não me importo.
-Ohana: Qual você quer ouvir? - questionou paciente, encarando-a ainda com seriedade. Enquanto tinha claros sinais de ansiedade, era notório pelo batucar dos dedos, ou só balançar da perna.
Ohana confortou-se melhor e suspirou pesado. Aquele não era o momento, nem o alguém certo para jogar todos os seus problemas. Mas não poupou-se em fazer, e com antipatia colocou tudo pra fora.
-Ohana: A morte trágica da minha irmã? Meu relacionamento julgado perfeito, agora acabado? Ou... meus dias cansativos sem tempo pra viver de fato, a vida? - questionou em falsa expressão pensativa. - Não... melhor! Quer ouvir sobre minhas terapias inacabadas pelo simples fato de ir embora quando me fazem alguma pergunta que não quero responder?
-Larissa: Uou... - sorriu fraco, não esperava tudo aquilo. - Ainda tem mais?
-Ohana: Eu posso passar o dia mencionando-os a você. - relatou sem muita emoção. Deixando escapar um arfar pesado.
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Curvilíneas - Ohanitta
FanfictionQuando uma oportunidade bate na porta, é bom recebê-la. Mas... e se ir buscá-la?