Após despedir-se de Celine, Ohana subiu as escadas que davam acesso ao segundo andar, na mesma velocidade em que desceu quando a campainha tocou. Seus passos até o próprio quarto foram tranquilos, e sua paciência tornou-se ainda maior quando fitou a ruiva deitada em sua cama, analisando as próprias mãos. Aparentemente ela se encontrava dispersa, e pensativa demais.
-Ohana: Meu amor... - chamou baixinho, sentando na ponta da cama.
Ohana levou a destra a toca-la a coxa, fazendo um leve carinho. Larissa sentou-se e passou a olhá-la, com sensibilidade expressiva em seus olhos. A loira sorriu fraco e sentou mais próxima, desta vez, encostou-se na cabeceira e trouxe Larissa encostando-a em seu corpo. A ruiva teve a cabeça deitada em seu peito, as mãos repousadas em suas pernas e a atenção direcionada ao mesmo destino, como a de Ohana, para a televisão.
-Ohana: Pedi pra Celine trazer alguns dos seus chocolates favoritos, talvez ajude um pouquinho. - disse baixinho, pondo-se a afastar alguns fios alaranjados. - Quer agora?
-Larissa: Obrigada, mas agora não... - respondeu baixinho.
-Ohana: Não quer nada mesmo? Eu posso pedir comida, ou sorvete... sei lá, o que você quiser. - insistiu, sussurrando baixinho no ouvido da outra.
-Larissa: Só quero você aqui... - respondeu no mesmo tom, carinhosa e em sussurro. - Isso basta.
Ohana deixou um beijo no topo de sua cabeça e passou a envolvê-la melhor. Tendo-a encostada em seu corpo, Larissa tinha a cabeça apoiada em seu peito e as mãos repousadas em suas pernas, acariciando-as espontaneamente. Nada lhe era mais confortante do que estar nos braços da agenciadora, tendo toda sua atenção e carinho. Além de sentir-se pertencente, não de forma abusiva, mas de forma sentimental e saudável. Sentia que seus sentimentos pertenciam a alguém e isso já não lhe era intrigante, porque era recíproco.
-Larissa: Eu posso dormir com você hoje? - pediu baixinho, virando-se vagarosa.
Larissa acabou por esconder o rosto no pescoço da loira, e levar a mão a repousar em seu colo. Um pouco abaixo da clavícula. A agenciadora, por vez, podia sentir a respiração morna e o corpo da outra por inteiro.
-Ohana: Claro que pode, neném. - foi carinhosa. - Você sabe que pode sempre.
Ohana deixou alguns beijinhos em sua face, selando a testa, a ponta do nariz e a bochecha. Enquanto com o polegar acariciava a mandíbula, por ter parte da mão repousada em sua nuca. Larissa olhava para ela como uma criança boba que fascinava-se pelas estrelas. Os olhos castanhos lhe roubavam a atenção, a expressão tranquila era seu ponto de paz e todo aquele carinho lhe tinha por inteira.
-Larissa: Eu te amo. - repetiu a confissão de mais cedo. - Muito. - enfatizou.
-Ohana: Eu também te amo muito. - sussurrou baixinho, antes de selar-lhe os lábios com carinho.
Ohana tornou a olhá-la com sutileza enquanto tinha-a em seu corpo. Larissa fechou os olhos vagarosamente, enquanto prendia-se ainda mais ao colo da ficante. Tinha inúmeras conclusões quanto ao relacionamento, mas antes de dar a ele um título como devidamente esperava, sabia que estava mais que na hora dos seus pais saberem. Afinal, não dava pra ficar mantendo a pauta de que Larissa era uma amiga extremamente próxima, além de tentar controlar as falas e exposições frequentes de Théo, que por ser inocente, acabava deixando passar.
Não contaria a ruiva sobre sua nova decisão, não queria preocupa-la e sabia que se contasse isso, seria inevitável que Larissa permanecesse estável. Costumava ser levemente ansiosa e Ohana não queria que ela se sentisse assim. Lá fora se tinha uma chuva aparentemente passageira e de verão, enquanto no quarto parcialmente escuro, Ohana acomodava-se melhor junto a outra.
-Larissa: Não está te incomodando? - perguntou baixinho, ainda aninhada à agenciadora.
-Ohana: Está ótimo. - respondeu baixinho.
(...)
Alguns dias passaram-se e nesse meio tempo, Larissa manteve-se muito ocupada. Assim como Ohana. Ambas as agendas estavam cheias, e demandava tempo cumpri-las, além de que precisavam descansar e acabavam sempre fazendo isso juntas. Era sempre bom quando encontravam-se no fim do dia e acabavam ficando um tempinho mais próximas.
-Ivana: Onde você estava? - Ohana logo escutou a voz materna, assim que entrou dentro de casa ao retornar do trabalho. Por volta das 19:00.
-Ohana: No trabalho. - respondeu sincera, e óbvia. - Nem um: "boa noite,Ohana! Como foi seu dia?", antes das suas perguntas controladoras?
-Ivana: Seu dia foi ocupado como todos os outros, você costuma ressaltar isso. - foi insensível, como sempre.
-Ohana: Ótimo. - sorriu fraco, estava cansada demais para debater com ela. - Onde está o Théo?
-Ivana: Na cama, assistindo seja lá o que. - respondeu paciente, sentando-se no sofá e Ohana a acompanhou. - Chegamos a tarde, ele brincou um pouco na piscina com a Chloe e ambos acabaram dormindo na cama dela. Agora ele está sensível e disse que quer ficar sozinho...
-Ohana: Senti saudade deles. - disse em um comentário cansado. - Cuidou bem deles, não foi?
-Ivana: Ainda que você me julgue uma péssima mãe, eu cuido sempre deles. - respondeu direta, servindo-as com taças de vinho.
-Ohana: Nem sempre. - rebateu baixinho. - Chloe tem se sentido extremamente mal com a sua insensibilidade, ainda que eu já tenha me acostumado, lembre-se de que ela é uma adolescente e eu não quero que ela passe pelo que eu passei.
-Ivana: Você só foi e ainda é boba.
-Ohana: Vocês julgam nossos sentimentos como besteira e depois que passamos a ignorar e repudiar vocês, acham ruim. - disse rapidamente. - Tudo já era horrível antes da Olívia morrer e depois que ela morreu, parece que piorou 100%.
Ohana tocou em um ponto delicado e logo Ivana engoliu em seco. Desviou o olhar e recolocou a taça sobre a mesinha de centro.
-Ivana: Não deveria ter falado isso. - mencionou em um sussurro.
-Ohana: Eu sei que a Olívia morreu, e todos nós sentimos muito por isso. - foi delicada. - Acha que eu não choro por sentir a falta dela, assim como você faz escondida? Acha que eu também não entro no quarto dela e sinto minha respiração pesar, igualmente ao que o papai faz todas as noites antes de dormir? Acha que a Chloe não tem crises de pânico e ansiedade todas as vezes que o telefone toca na madrugada? Poxa, estamos todos exaustos e extremamente magoados. Amamos a Olívia, mas precisamos seguir em frente. São quase dois anos vivendo assim.
-Ivana: Não da, Ohana... - sussurrou. - Eu não consigo. - seus olhos marejaram parcialmente.
-Ohana: Não vamos esquecê-la nunca, nunca mesmo. - disse baixinho, levando a mão a repousar na coxa da mãe. - Eu só quero que... não coloque o peso dessa dor sobre mim e a Chloe, porque já carregamos muito. Tenta se importar mais um pouco, nos amar mais um pouco.
-Ivana: Eu amo vocês! - disse rapidamente. - Vocês são minhas filhas, são parte de mim! Como pode dizer isso?
-Ohana: Não é o que tem parecido mamãe... - explicou-se. - Você assim como o papai tem se distanciado mais do que o comum, têm arranjado qualquer pauta boba para tornar uma imensa discursão dentro de casa.
-Ivana: Perdão. - pediu baixinho. - Me perdoa...
-Ohana: Claro que eu perdoo. - sorriu fraco. - Só... tenta melhorar, por nós. Pela nossa família. E pede ao papai pra fazer o mesmo.
-Ivana: Me desculpa... meu amor. - pediu baixinho, puxando rapidamente Ohana para si, que tinha os olhos meramente marejados.
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Curvilíneas - Ohanitta
FanfictionQuando uma oportunidade bate na porta, é bom recebê-la. Mas... e se ir buscá-la?