62

984 80 9
                                    

Ohana

É fácil se acostumar com coisas banais, mas com a rejeição não. Acabei por acordar ainda durante a madrugada, Larissa permanecia dormindo e nem se quer havia percebido que eu havia saído da cama. Evitando acorda-la, tomei destino a sala da grandiosa cobertura no alto do hotel. Abri a garrafa de whisky e com singela paciência, despejei no copo uma quantidade mínima.

Ao ingerir, senti o amargor do líquido em temperatura ambiente. Bem, era mais ameno que meu rancor interno e insatisfação dado ao silêncio incessante do meu pai.

Recoloquei o copo de cristal sobre a bandeja metálica delicada posta de forma sútil sobre um móvel próprio no canto do cômodo. Sentei-me no estofado grandioso e encostei-me bem, fechei os olhos por meros segundos e respirei fundo. Eu podia sentir o aroma delicado que tomava toda construção, além de ter o sentido tátil, tocando o estofado macio, por ter as mãos repousando na lateral das minhas pernas. Abri os olhos e fitei o teto branquíssimo, as luzes meras e fracas.

Era patético pensar que, minhas esperanças fossem erradas. Tornei a abrir as mensagens e lá se confirmava outra vez, seu silêncio ignorante. Acabei por deixar o celular sobre o estofado, e levantei, caminhando até os grandes janelões. Nova York era simplesmente o lugar mais lindo do mundo, em quesito urbano. Bem, dada a minha posição e no bairro nobre em que eu me encontrava, era sim. As altas luzes nunca se apagavam, o silêncio nunca existia lá fora. Era... surpreendente.

Acabei por sorrir de canto, Olívia adorava aquilo também. Eu sentia sua falta, mais do que podia imaginar que eu dia sentiria. E pegar-me pensando nisso, só piorou mais as coisas.

Nada de fato estava ao meu favor.

Larissa:

Acordei meio confusa, e ao erguer-me um pouco notei que estava sozinha. Bem, talvez sua ausência tivesse me causado o desconforto suficiente para erguer-me dali em um acordar meramente assustado. Sentei-me na cama e segundos após, me coloquei de pé. Olhei paciente no banheiro e notei que também não havia nada, posteriormente coloquei-me a caminhar pelo âmbito, e encontrei o que procurava, na sala.

-Larissa: Vida... - chamei paciente, com calmaria para não assusta-lá. - Aconteceu alguma coisa?

Dei meros passos até ela, a abraçando por trás e apenas a ouvi arfar pesado. Ohana estava bem próxima aos janelões, observava as coisas lá fora e aparentemente tinha uma postura bem cansada. Ela virou-se para mim, e de relance notei que tinha os olhos marejados. A loira levou-se a esconder o rosto no meu pescoço e eu rapidamente a abracei com força.

-Larissa: Ei... - sussurrei frustrada com toda situação, eu odiava vê-la daquela forma.

-Ohana: Desculpa. - ela pediu-me baixinho, chorosa.

-Larissa: Não... não me pede desculpas. - salientei ainda abraçada a ela, aconchegando-a em mim. - É um direito seu se sentir frustrada por toda essa situação. Vai ficar tudo bem... mas enquanto não fica, tem o total direito de colocar isso pra fora. Hum?

Ohana não disse-me nada, e eu não precisava ouvi-la dizer. Aquilo também não me deixava mal, ou insegura quanto a sua decisão de se relacionar comigo ou nos assumir. Afinal, aquilo não era sobre mim. Era sobre como lidava com a suposta rejeição vinda do seu pai.

-Larissa: Vem cá... - chamei baixinho, dando-lhe a mão.

Guiei-nos até o sofá, e sentei-me trazendo-a para meu colo. A todo momento ela colocou-se contra o meu olhar, desviando ou simplesmente escondendo o rosto para que eu não a visse chorar, mas eu sabia que chorava. Induzi-a então a deitar a cabeça em meu peito, a medida em que ela abraçou minha cintura. Se sentia-se confortável assim, então teria toda minha compreensão. Eu daria-a o espaço para reagir como quisesse, fosse esta ficar sozinha ou apenas em meu colo.

Curvilíneas - Ohanitta Onde histórias criam vida. Descubra agora