Estar em casa sozinha pela manhã, pela primeira vez em vida, foi um desafio ao mesmo tempo que um pesadelo, para Ohana. Ainda era convicta da ideia de que não queria Brandon na vida do filho, mas juridicamente falando, não havia nada que pudesse fazer. Ele não queria abrir mão da guarda, portanto, só restava que a loira aceitasse o consenso que haviam tomado.
O primeiro passo foi o mais difícil, ver Brandon estender as mãos ao filho, ao mesmo tempo em que Theodoro desconcertado e inseguro, agarrava-se cada vez mais à mãe.
-Brandon: Ok... tudo bem. - ele suspirou fundo, quando Ohana envolveu o garoto com maior segurança e virou-se de costas para si.
Brandon deu dois passos para trás e deixou que ela ficasse com o garoto por um tempo. Não o levaria consigo, ainda não tinha conseguido fazê-lo confiar em si. Só queria ir adentrando a vida de Théo, aos poucos. Havia de fato se arrependido de tudo, e queria dar ao garoto a chance de ter um pai, de ser o pai que nunca pôde ter.
-Brandon: Ohana... - ele chamou baixinho. - Eu não sou seu inimigo. Da pra... virar pra mim. - ele pediu.
-Ohana: Não se coloca como vítima, você nunca se encaixou nesse papel. - ela foi rápida, encarando-o. - Eu só aceitei essa palhaçada, porque você tem esse direito judicialmente, ainda que eu não queira.
-Brandon: Eu abri mão das papeladas porque está certa. - ele argumentou. - Aceitei os termos da sua advogada porque não quero te causar mal. Não mais do que eu já causei.
Ohana sorriu irônica, desacreditada. Era difícil acreditar e confiar nas palavras de quem lhe abandonara nos momentos mais difíceis. Ultimamente tinha sido difícil confiar em alguém mais, além daqueles que já tinha por perto e Larissa.
-Brandon: Você o criou sozinha até hoje, e eu sei que poderia continuar fazendo isso sem mim porque pra falar a verdade eu nunca tive a mínima importância na vida dele. Eu não estive aqui. Eu não me doei, eu não cuidei de você e nem dele. - ele disse sincero. - Eu sei, tenho convicção de que é a melhor mãe do mundo que pode ser, pra ele. E eu não vim aqui... tirar isso.
-Ohana: Ainda que tivesse vindo por isso, não mudaria. - sorriu. - O Théo não precisa de você.
Brandon engoliu em seco, a proporção em que sentou-se desanimado no grandioso sofá da sala imensa e luxuosa. Theodoro agarrou-se a mãe, deitando a cabeça em seu peito e envolvendo seu pescoço com as mãozinhas. O silêncio ali era tão terrível e desconfortável, que por milhares de vezes passou-se na cabeça dos pais, a decisão de deixar o ambiente.
-Brandon: Pode continuar me odiando ou... tentar me dar a chance de ser um pai pra ele. - disse baixinho, fitando as próprias mãos. - Eu... passei esses últimos anos pensando no quanto eu não quero ser esse cara. Não quero ser para o Théo , o que recebi quando tinha a idade dele.
-Ohana: E teve conclusão disso agora? Depois de dois anos? - foi rápida. - Como tem coragem de dizer isso? Como tem coragem de insinuar que precisou de tempo pra concluir que seria um pai, por não ter um, enquanto nesse meio tempo eu lidava com tudo sozinha? Eu não tive tempo pra escolher ser mãe, Brandon! Eu não tive tempo nem oportunidade pra decidir quando as ânsias de vômitos viriam, não tive tempo pra decidir se iria na ultrassom ou não. Tão pouco tive tempo pra decidir se dormiria e deixaria o Théo acordado correndo o risco de por algo no rosto e morrer sufocado!
Martin apressou os passos ao ouvir os dizeres da outra que já não controlava a raiva sentida, guardada por anos. Buscou Théo nos braços da mãe e interviu a discursão.
-Martin: Parem de brigar na frente dele. - foi rápido, ao mesmo tempo em que usou um tom autoritário. - Estão tornando isso tudo ainda mais difícil e colocando ele em uma posição extremamente difícil. Respeitem o tempo do garoto, ele não é como vocês. O desentendimento de vocês não pertence à ele.
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Curvilíneas - Ohanitta
FanfictionQuando uma oportunidade bate na porta, é bom recebê-la. Mas... e se ir buscá-la?