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Olivia:

Debaixo daquele carro capotado, eu via minha vida passar diante dos olhos, ao mesmo tempo em que escutava os gemidos dolorosos de Alinne. Estávamos de cabeça para baixo, as sirenes ainda soavam em meus ouvidos e as colorações das ambulâncias atravessavam todo o ambiente de maneira gritante. Eram fleches de luzes azuis, vermelhas e esbranquiçadas, trazendo-nos socorro.

Socorro para quem, para a Ali?

-Alinne: Oli, não fecha os olhos! - ela sussurrou arrastado, tinha a voz pesada mas eu podia ouvi-la.

Eu não conseguia falar, me mover ou... conseguia manter os olhos abertos. Era tudo muito pesado, muito doído. Tinham estilhaços por toda parte, havíamos mesmo batido contra aquele carro. Ou bem, ele batido contra nós.

-Alinne: Oli... não vou conseguir sem você. - dissera pesado outra vez, e foi como um impulso para manter-me ali mais uns segundos.

Consegui abrir os olhos outra vez e aí.. senti  e vi uma mão vir de encontro a minha.

-Steve: Me chamo Steve, sou paramétrico, já chamamos os bombeiros, os seus familiares também já estão vindo. - ele dissera paciente, mas eu ouvia tudo muito lento. O barulho era estridente.

Eu parecia estar presa em um vídeo de câmera lenta, num ciclo interminável de dor, cansaço e peso. Tudo ali era muito vago, muito instável pra mim.

-Steve: Preciso que fique estática, vamos tirar você daí. - ele disse á mim, enquanto um outro tentava fazer o mesmo por Alinne.

Como se eu pudesse me mover, ou ao menos falar. Chegava a ser engraçado. Steve olhou-me por alguns segundos, e o bombeiro ao seu lado também. Foram aqueles olhares que disseram-me: Você nunca irá sair daí. Automaticamente tudo tornou a passar diante dos meus olhos. Foram frações de segundos, para que estivéssemos ali. Um embriagado num veículo, uma batida forte e aí... tínhamos estilhaços, sangue, muito sangue... e um carro capotado na pista.

-Steve: Preciso que se esforce pra ficar acordada, Olivia. É importante. - ele dissera, e outra vez soou lento demais. - Olha... você vai ficar bem. Precisa se manter forte, entendeu?

Estava tentando me enganar e enganar a si mesmo, seu olhar contava-me a verdade e não era preciso esboça-lo para que eu já soubesse. Eu nunca havia pensado muito sobre a morte, achava que não tinha medo dela. Mas estando ali, a beira de um abismo escuro... Eu só desejava que a morte não estivesse atrás de mim, com as mãos abertas e os braços estendidos, prestes a me empurrar.

Por outro lado, me vinha a mente, minha família. Eu só... queria poder vê-los, uma última vez. Eu acho que, seria os últimos segundos mais bem vividos em todo aquele aspecto. Tornei a realidade quando ouvi a porta ao meu lado ser puxada com força, por um equipamento dos bombeiros. Eu não sabia o que estava acontecendo, mas presumia que tirariam-me dali, mas não com vida.

-Steve: Estamos quase lá, Olivia! - ele soou e eu sorri ladina, já sem forças.

-Olivia: Pode... - me esforcei um pouco demais e senti o sabor do sangue na boca.

-Steve: Preciso que fique calada. - ele disse paciente, tocando-me o rosto enquanto os bombeiros faziam o trabalho. - Não se esforce para falar nada. Pode ter perfurações desconhecidas, e só vou saber disso quando tirarmos você daí.

Curvilíneas - Ohanitta Onde histórias criam vida. Descubra agora