Capítulo 1

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11 de novembro de 2016 - Sexta, às seis da noite.

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— Parece até um sonho a gente conseguir viajar no feriado, não é? — Sophia sorria como boba. — Tudo é tão corrido na nossa vida, uma folguinha é sempre bom.

— É ótimo, estávamos precisando disso! — Micael sorriu sem tirar os olhos da estrada movimentada. — Mas eu vou te confessar que já sinto falta da Maitê atrás da gente o dia inteiro.

— Nem fala, já estou doida pra ligar. — Ela sorriu. — Tomara que ela fique bem com a minha mãe. — Suspirou. — São três dias.

— São só três dias. — Ele deu ênfase. — Ela aguenta sem a gente. Fico na dúvida é se seus pais vão aguentar, isso sim.

— Tadinha da garota. — Defendeu. O clima estava leve, eles brincavam, conversavam, estavam felizes por aproveitar o feriadão pra um tempo a sós, sem a pequena filha, de três anos. — Tô sentindo frio. — Tirou o cinto pra tentar alcançar o pequeno lençol que tinha no banco traseiro.

— Sophia, coloca o cinto, por favor. — Os pelinhos do braço de Micael estavam eriçados, ele teve um mau pressentimento. — A gente fecha a janela, não precisa se cobrir.

— Você sabe que eu gosto do vento. — Fez uma careta e voltou a tentar alcançar o lençol atrás.

Em questão de segundos a vida mudou. Não sabiam muito bem de onde veio. Sophia estava sentada, com o pano cobrindo as pernas enquanto tentava afivelar o cinto novamente. Micael resmungava sobre a velocidade que ela fazia isso e a mulher se irritou.

— Não vou colocar mais nada, também. — Ele a olhou, ainda sentindo um pressentimento ruim. — Que chatice, não está vendo que eu estou colocando?

— É perigoso andar sem cinto, você sabe!

— Eu só tirei pra pegar o lençol. — Rolou os olhos e voltou a pegar o cinto pra tentar afivelar. Mas não deu tempo. Um caminhão que Micael não viu surgir, bateu atrás de seu carro.

Micael, que estava de cinto e sentado corretamente, sentiu o airbag abrir diante de si, mas não ficou muito tempo consciente.

Sophia, que ainda estava sem cinto e sentada meio de lado a medida que tentava afivelar o dito cujo, foi arremessada pra frente, voando além do carro.

O acidente havia sido feio. Em instantes a rua havia sido interditada. O motorista do caminhão que nada havia sofrido desceu pra olhar o carro e discou o número da emergência. Ninguém sabia se os dois estavam vivos e pra falar a verdade, não pareciam.

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A ambulância chegou bem rápido até eles e como nenhum dos dois estava preso às ferragens foi bem rápido o resgate.
O motorista do caminhão foi enviado ao hospital para exames e checagens.

Deram entrada na emergência do hospital viva, às sete e dezesseis. Uma correria foi iniciada pelos médicos plantonistas e Sophia foi enviada ao centro cirúrgico no mesmo instante. Diferente de Micael, que já estava minimamente consciente e foi encaminhado para exames.

Na estrada, a polícia retirou de dentro do carro a carteira e o celular de Micael, também encontraram o celular de Sophia.
Após encontrar a identidade dos dois em meio a cena da batida. A polícia rapidamente enviou ao hospital, que enfim tiveram que contatar os familiares.

Antônia e Jorge tiveram a notícia não muito tempo depois. Foram os primeiros avisados. Era surreal acreditar que aquilo tinha acontecido, Micael sempre tivera sido cuidadoso no trânsito.

A ponto de passar mal, os dois se aprontaram pra ir ao hospital. Um pouco distante da casa deles, mas não tardaram a chegar.

— Oi, boa noite. — Antônia disse na recepção. — Eu gostaria de notícias sobre Micael Leandro de Farias Borges.

— A senhora é parente? — A mulher que parecia jovem demais pra estar ali perguntou, já digitando no computador ao ouvir Antônia dizer que era mãe.

— Seu filho deu entrada hoje, há mais ou menos duas horas, junto com uma mulher. — Pesquisou mais um pouco. — Esposa dele, Sophia Sampaio Abrahão Borges. Ele está realizando exames para avaliar possíveis traumas, mas a mulher está no centro cirúrgico.

— Meu Deus, o que aconteceu com eles. — Antônia desandou a chorar. — Eles vão ficar bem?

— Só quem pode dizer isso são os médicos. Tudo o que tinha na ficha eu já li pra senhora. Agora, é necessário que aguarde. — Apontou para as cadeiras acolchoadas que tinham atrás de si. — Se precisar de ajuda, me procure, mas tenta ficar calma. — Jorge assentiu e puxou a esposa para que se sentassem.

— Antônia, tenta se acalmar, precisamos de notícias dos meninos, e não que você passe mal. — Fez carinho na esposa. — E temos Branca e Renato pra avisar.

— Não sei se é uma boa ideia, eles estão com Maitê, vão ficar desesperados e não tem com quem deixar a menina.

— Mas é a filha deles... — Jorge argumentou. — Precisam saber.

— Não acho que seja o momento ainda, talvez amanhã. — Falou ao marido que fez uma careta antes de dizer baixo.

— E se não houver um amanhã? — Antônia voltou a chorar muito. — Amor, precisamos pensar em tudo, ela está no centro cirúrgico.

— Eles estavam tão felizes. — Fungou. — Essa viagem pra região dos lagos ia ser como uma pequena lua de mel na vida amontoada dos dois. Como isso pôde acontecer?!

— Foi um acidente. — Jorge apertou um pouco mais. — Acidentes acontecem.

— Precisamos levar os dois pro nosso hospital, eu não tenho segurança em outros médicos. — Ela fungou e ergueu a cabeça. — Você não acha?

— Acho, mas isso só vai acontecer quando puderem ser transferidos. Não é tão simples como parece.

— Jorge, eu quero os dois perto de mim! — Rangeu os dentes. — Pode ligar naquele hospital e mandar preparar um quarto pro meu filho e pra minha nora. — De que serve ser acionista majoritário num hospital senão pode nem ajudar o filho?

— Se acalma, apenas se acalma. Vou pegar um copo de água pra você. — Deu um beijo na cabeça da mulher e a deixou sozinha.

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Passaram horas ali sentados. Não tinham avisado a Branca e Renato, para poupá-los da espera torturante. E o hospital não havia conseguido fazer contato com eles pois o número só dava caixa postal.

Quando viram um médico, com cara de cansado, apareceu na sala de espera e chamou o parente de Micael os dois não perderam tempo e foram saber as notícias.

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