Capítulo 2

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— Boa noite, eu sou doutor Marco Antônio. — Apertou a mão dos dois. — Micael está bem e acordado. Ele foi submetido a uns exames de imagens para vermos se o impacto tinha afetado algo, mas todos os exames não deram alteração.

— Graças a Deus! — Antônia respondeu aliviada. — E a minha nora?

— Com ela o assunto é um pouco mais complicado. — Ele disse com pesar. — Sophia estava sem cinto, foi arremessada pelo parabrisas. Ela teve várias complicações, teve um traumatismo muito sério no crânio e nós a levamos para a cirurgia o mais rápido que pudemos. Está viva, porém sedada, ainda não acordou. Só poderemos atestar sua real condição quando ela acordar. Só nos resta aguardar.

— Minha nossa senhora. — Antônia colocou a mão no peito.

— Eu sinto muito, mas é isso por enquanto.

— Micael, será que podemos vê-lo? — Jorge perguntou antes do médico sair e ele assentiu e passou a informação sobre o quarto. Eles foram até a recepção e pegaram adesivos de visitantes.

Quando entraram no quarto, encontraram Micael bem, não havia nada além de um curativo na testa. Ele parecia apenas agoniado por notícias.

— Filho! — Antônia entrou chorando de alívio. — Que susto! — Ele sorriu e abraçou a mãe. — Meu Deus, essas foram as horas mais agoniantes da minha vida!

— Se acalma, eu estou bem. — Tentou manter o tom baixo. — Não chora mãe, você vai passar mal!

— Se eu não passei mal com todas essas horas sem notícias, não vai ser agora te vendo que eu vou passar. — Suspirou, tentando se manter sem chorar.

— Vocês tiveram notícias da Sophia? — Antônia se afastou um pouco e viu a agonia nos olhos do filho. — Eu a vi voar longe.

— Ela estava sem cinto por causa de que? — Jorge perguntou. — Você nunca fez o tipo irresponsável no trânsito. Vê todo dia gente chegando no hospital acidentado!

— Ela tirou o cinto pra pegar um lençol no banco de trás. — Contou com pesar. — Eu falei pra ela deixar pra lá e fechar a janela. Ela disse que amava o vento. — Ele chorou com a lembrança que agora parecia tão distante. — Quando bateram na nossa traseira, ela estava afivelando o cinto novamente, mas não deu tempo.

— Ela ainda não está consciente. — Antônia comentou. — Disseram que teve um grave traumatismo na cabeça.

— É claro que teve. — Ele se jogou nos fofos travesseiros. — O acidente foi horrível. Eu quero ver a Sophia.

— Ela ainda não pode receber visitas e outra, você está internado também, não pode ir e vir. — Jorge barrou.

— Fala sério, eu estou bem!

— Mas está em observação! — Jorge rebateu. — Você é médico, não seja teimoso, sabe o quanto é importante ficar de repouso depois do que você passou!

— Chantagem barata. — Suspirou e se recostou novamente. — Ligaram pra Branca e Renato?

— Não. — Ele franziu a testa. — Eles estão com a Maitê, a essa hora não iam encontrar alguém pra ficar com ela e iam trazê-la. Não é um bom ambiente pra criança.

— Ainda tem a Maitê. — Suspirou. — Como eu vou explicar isso pra garota?

— Vamos com calma. — Antônia fazia carinho na cabeça do filho. — Vai ficar tudo bem, ela vai se recuperar.

— Até parece que eu não conheço as chances reais disso acontecer. — Fechou os olhos com força, desejando que aquilo não fosse real. — Eu vejo isso todo dia, todo dia eu tenho que dar a notícia a alguém e agora quem está nessa situação sou eu.

— Micael, para de sofrer por antecedência! — Jorge pediu. — Meu filho, por favor.

— Eu sou neurocirurgião! — Se irritou. — Não preciso que ninguém minta pra mim pra amenizar as coisas, sei como são.

— Se você não parar de pensar o pior, vou chamar alguém pra injetar um calmante nessa tua veia e fazer você dormir até amanhã.

— Não preciso de nada. — Suspirou. — Será que eu posso ficar sozinho novamente?

— Pra ficar se remoendo e se lamentando, imaginando mil coisas a respeito da Sophia? — Antônia cruzou os braços. — Não.

— Tá legal, então você vai lá e chama a enfermeira, eu preciso dormir. — Disse ainda irritado. — E acordar de preferência daqui há um ano, longe desse pesadelo. — Antônia saiu e não demorou muito a encontrar um médico que autorizou a medicação.

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No dia seguinte, Sophia não acordou e preocupou os médicos que a levaram para mais exames. O dia inteiro foram feitos exames, testes, avaliações sobre a saúde de Sophia e ela estava lá, deitada, imóvel, parecendo dormir um sono tranquilo.

Micael ficou agoniado em seu quarto, estava sozinho. Andava de um lado pro outro, fez flexões, assistiu televisão mas nada parecia ajudar o tempo a passar.

Até que apareceu ali um médico, o plantonista.

— Boa tarde, Micael. — Disse simpático ao olhar a ficha. — Vim entregar a sua alta. — Assinou um papel e entregou ao rapaz para que assinasse também. — Lembrando que ao sentir qualquer sintoma, você deve retornar.

— Tá legal, e a minha esposa?! — Não tinha uma voz simpática. — Ela já acordou?! — Observou a careta do médico e a hesitação, sabia que não tinha boas notícias pra dar. — Ora, fale logo de uma vez. Ela está viva?

— Está. — Ele respirou aliviado por um instante. — Mas ainda não acordou.

— Como não acordou? — Franziu a testa. — Vocês a estão mantendo sedada? — O médico se surpreendeu com o jeito que ele começou a falar. — O que realmente aconteceu com ela além desse traumatismo? Soube que foi pra cirurgia.

— Ela não está sedada, ela simplesmente não acorda. Ainda estávamos fazendo exames pra tentar entender. — Ele parou e se escorou na cama.

— Está dizendo que ela teve morte cerebral? — Sua boca amargou somente de cogitar aquela hipótese. — Tá respirando por aparelhos ou sem? 

— Não, ela não está entubada. — Ele respirou aliviado novamente.

— Será que você pode falar tudo de uma vez, eu sou neurocirurgião, eu sei enrolar um paciente e vejo que você está fazendo isso comigo! — Cruzou os braços.

— O cérebro da sua esposa tem atividade, mas o córtex pré frontal não. — Micael parou um instante, pensando naquilo. — Ela está dormindo, alheia a tudo e todos, não está sonhando, está apenas lá, de olhos fechados... Está...

— Em coma. — Ele completou, horrorizado sabendo o quão torturador e desesperador era aquilo. — A minha esposa está em coma!

— Sinto muito informar que sim. — E parecia sentir muito, Micael estava extremamente abalado, se sentou na cama e levou as mãos à cabeça. — Imagino que saiba que não podemos presumir quando ela vai acordar e se vai acordar.

— Que tipo de neuro eu seria se não soubesse? — Rangeu os dentes, estava claramente irritado. — Quando é que podemos preparar a remoção dela?

— Planeja levá-la daqui? — Franziu a testa sem entender. — Estamos fazendo nosso melhor, sua esposa está sendo bem cuidada por toda a equipe.

— Com todo respeito, ela vai ficar melhor sendo cuidada pela minha equipe. — Anunciou. — Prepare para remoção, vou solicitar uma ambulância.

— Tudo bem, como preferir. — Assentiu e deixou no quarto um Micael sozinho e angustiado.

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