Na manhã seguinte, Sophia desceu pra ajeitar o café da manhã e encontrou a filha na cozinha, vasculhando a geladeira. A menina sorriu pra mãe antes de perceber que ela estava com uma cara péssima.
— Bom dia, mãe. — Sorriu por um instante e caminhou para um abraço. — Está estranha, hein.
— Bom dia, meu amor. — Deu um beijo na cabeça da menina e foi fazer um café. — Eu dormi mal, estou cansada ainda. É só isso.
— Onde está meu pai? — Perguntou interessada e Sophia respirou fundo, sem saber como escapar das perguntas que Maitê faria. — Ele ainda não acordou? Já passa das dez, esta pior que eu!
— Seu pai já foi embora. — A menina franziu a testa sem entender. — Foi pro hospital.
— Mas vocês trabalharam ontem, não deviam estar de folga hoje? — Maitê percebeu que a mãe estava querendo engana-la. — Vocês brigaram de novo, não é? E eu achei que ia ficar tudo bem.
— Não é nada disso, Maitê. — Procurou em sua mente alguma coisa válida. — Ele foi ate o hospital ficar com o Miguel, ou você se esqueceu do seu irmão?
— Esqueci! — Disse alarmada e Sophia sorriu tendo arranjado a desculpa perfeita. — Será que eu posso ir lá visitar o Miguel hoje? Você prometeu que quando ele melhorasse ia me levar.
— Prometi mesmo, te levo sim. — Suspirou, pensando se realmente iria encontrar Micael lá ou se nem isso. — Vamos tomar café e eu te levo lá, em seguida pra escola, pode ser? — A menina assentiu empolgada e então se sentou, esperando seu café da manhã de todos os dias, cereal com leite.
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.Sophia e Maitê chegaram no hospital perto de meio dia e a loira cumprimentou as pessoas a medida que entrava com a filha. Caminhou direto até o quarto de Miguel e quando chegaram, Micael estava lá, sentado na poltrona conversando com o rapazinho que parecia bem desperto.
— Miguel! — Maitê chamou a atenção dos dois e Micael ficou surpreso com aquela aparição repentina. — Eu fiquei preocupada com você, sabia?
— Eu tô bem, mana. — Mostrou o carrinho que tinha nas mãos. — Olha meu carro novo.
— É lindo! — O segurou nas mãos e logo brincou com o carro em cima da cama do pequeno.
Sophia e Micael se encararam, mas nenhum dos dois disse nada, era apenas um climão terrível naquele pequeno quarto. Elas ficaram pouco mais de meia hora no hospital e logo Sophia chamou a filha para ir embora, precisava levá-la pra escola.
— Vamos, filha, sua aula já vai começar. — Avisou e a menina se ajeitou, encarando os pais. — Temos que ir, depois traremos você aqui para mais um tempo com seu irmão.
— E vocês hein? — A menina alternou olhares entre os dois. — Tão achando que passou despercebido que não trocaram nenhuma palavra desde que chegamos aqui?
— Está tudo bem, Maitê. — Sophia disse com toda calma do mundo, sem encarar Micael. — Não precisa encher a gente de perguntas sobre um assunto que não é para crianças, vamos de uma vez.
— Mas, mãe.
— Chega, Maitê! — Disse brava e a menina ficou em silêncio. — Eu sei que você quer ajudar, mas você é uma criança e tem certos assuntos que não tem que se meter, agora vamos logo pra aula que se bobear você já está até atrasada. — A menina suspirou e ficou em silêncio, deu um beijo no pai e saiu andando na frente pisando forte.
— Você não precisava ter falado desse jeito com ela. — Sophia ouviu a voz de Micael baixinha atrás de si e se virou. — Ela é só uma criança, quer ajudar.
— Quer que eu fale o que pra ela? — Perguntou com os braços cruzados. — Se achar plausível eu posso explicar toda a situação. Quem sabe ela me chama de vagabunda também. — Ele por reflexo olhou pra Miguel, mas felizmente o menino estava distraído com seu carro.
— Eu não te xinguei em nenhum momento. — Disse baixo, com a testa franzida. — Isso nunca saiu da minha boca, o que quer dizer com "também"?
— Nada, você tem razão, são esses hormônios me deixando louca. — Respirou fundo. — Vou indo levar a garota pra escola, antes que fique ainda mais tarde. — Ele assentiu e não disseram mais nada, ela apenas foi embora e Micael ficou olhando até que sumisse completamente.
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.Os dois não se viram mais naquele dia, Sophia ficou em casa deitada e Micael passou o dia com Miguel no hospital, Tatiana apareceu quase seis da tarde, descansada e disse a Micael que novamente ficaria com o menino.
O moreno foi pra sua casa novamente, não iria até a casa de Sophia, não sabia o que fazer sobre aquela situação ainda. Tomou um banho e também se deitou, havia comido uma besteira no hospital e não fazia questão nenhuma de jantar, eram sete da noite e ele já estava pronto pra dormir e não levantaria dali por nada.
Na manhã seguinte os dois se prepararam pra trabalhar, mais um plantão diurno e estariam juntos novamente. Micael havia pensado bastante sobre toda aquela situação, mas não havia chegado a nenhuma conclusão. Amava Sophia incondicionalmente, mas um filho era algo tão sério, finalmente podia dizer que sentia um pouco do que Sophia sentiu ao acordar, conseguia entender porque havia sido tão difícil pra ela lhe perdoar.
Não a viu quando chegou e foi direto para seu consultório, tinha muito trabalho a fazer além de suas consultas agendadas. Não era dia de plantão no pronto socorro, mas ainda sim tinha muito o que fazer.
Era impossível se concentrar, a certo momento ele se pegou olhando a mão esquerda e a aliança que tinha acabado de colocar ali. Se levantou e foi conversar com seu pai, já que era o único amigo de verdade que tinha naquele hospital. Deu sorte em encontrar o pai com disponibilidade, já que ele sempre estava ocupado.
— Como está o Miguel? — Jorge perguntou sem erguer o olhos, concentrado em seus papeis.
— Está bem melhor, tenho certeza que daqui a pouco tem alta. — Puxou a cadeira e sentou diante de seu pai. — Pai... — Pensou em como começar aquela conversa e pedir conselhos a seu pai.
— Ih, o que aconteceu hein? — Jorge ergueu o olhar e encarou o filho. — Pra você começar hesitando, tem alguma coisa séria te incomodando.
— Tem sim. — Desviou o olhar do pai para os dedos e Jorge acompanhou, sorrindo ao ver o filho de aliança novamente.
— Ué, você voltou pra casa? — Micael franziu a testa sem entender a pergunta. — Está de aliança, vejo que se entendeu de vez com a Soph, isso é muito bom.
— É, eu tinha me entendido, não durou uma hora. — Ergueu seu olhar para contar. — A Sophia está grávida e eu não estou sabendo lidar com isso.
— Ué, mas isso é uma ótima notícia, você não sabe lidar com a chegada de um filho? Eu e sua mãe te criamos muito bem, Micael. Pelo menos irresponsável com as crianças você nunca foi. — Micael ficou em silêncio um instante antes de contar a verdade doída ao pai.
— Ela não sabe se o filho é meu, pra ser exato, ela acha que não é. — Contou triste e então depois de alguns segundos se surpreendeu ao ouvir a risada do pai.
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Segunda Chance
RomansApós um trágico acidente durante uma viagem de casal, Sophia acabou entrando em coma. Micael, seu marido passa a viver em função da esposa meses após meses, anos após anos. Deixando a pequena Maitê, filha do casal, um pouco de lado. Ele finalmente...