Caminhando de volta ao quarto de Sophia, Micael foi interrompido por sua secretária. Ele continuou andando, sendo seguido pelos sogros e Jaqueline, que corria pra andar ao seu lado.
— Dr. Borges, tem um paciente em seu consultório! — Avisou e ele rolou os olhos. — Um paciente importante.
— Não vou atender ninguém, Jaqueline. — Disse seco, sem nem ao menos olhar na direção da mulher. — Eu pedi a você que desmarcasse todos os meus compromissos até depois do feriado de terça, que eu não estaria aqui. Hoje é sábado ainda.
— Ele não estava na agenda, chegou hoje. — Disse constrangida.
— Piorou, não atendo ninguém fora da agenda e você está cansada de saber! Só quando estou no plantão de pronto socorro e não é o caso. — Seguia ignorante. — Finge que eu não estou aqui hoje.
— É o governador do Rio Grande do Sul. — Ela insistiu mais um pouco. Ele parou de andar e os sogros também. A menina sabia que viria bronca.
— Jaqueline, a minha esposa está em coma, você acha mesmo que eu vou cuidar de alguém que não é ela nesse momento? Pode ser até o presidente, se ele quiser uma consulta vai remarcar pra um dia que a minha cabeça esteja em outra coisa que não a minha mulher. Você entendeu?
— Sim, senhor. — Saiu de perto e ele recomeçou a andar.
— Você devia atender o homem. — Branca comentou e fez ele olhar pra trás. — Pensar em outros problemas às vezes é bom.
— Não acho que atender alguém vai conseguir me distrair. — Suspirou. — Eu não acho que alguma coisa vai conseguir me distrair nesse momento. — Comentou parado na frente da porta do quarto de Sophia.
— E você pretende ficar aqui parado olhando ela? — Branca estendeu a mão e passou no rosto do genro. — Você também estava naquele acidente, devia se dar o luxo de descansar um pouco, Micael.
— Eu não posso sair daqui. — Falou baixo. — Eu não posso sair de perto dela, e se ela precisar de mim? — Estava a ponto de desabar. — Se ela acordar e eu estiver longe? Ou pior, se ela... — Não conseguiu se conter e então as lágrimas que ele vinha tentando evitar perto de terceiros, acabaram rolando e Branca o amparou, num abraço caloroso.
— Meu filho, você não pode viver aqui achando que ninguém vai cuidar dela como você.
— E não vão! — Disse ainda no abraço.
— Mas você é humano, Micael. — Rebateu. — Você precisa descansar, precisa pensar, precisa estar forte pela sua filha. — Se afastou dele e secou seu rosto molhado. — Eu sei que tem apenas um dia, mas você tem que descansar.
— Branca...
— Micael, pega a Maitê e vai pra casa.
— Como eu vou pra casa? Eu não quero entrar naquela casa! — Se afastou um pouco. — Eu só volto lá quando a Sophia puder ir comigo.
— Meu filho... — Ela o abraçou de novo. — Então vai pra casa dos seus pais, ou até mesmo lá pra casa se quiser, sabe que é bem vindo. Mas você precisa descansar, volta amanhã.
— Tudo bem. — Se deu por vencido. — Vou pegar a Maitê e ver pra onde eu vou. — Suspirou ao se afastar. — Obrigado pelo carinho, Branca.
— Eu sei o quanto a Sophia ama você. — Sorriu. — E se você faz bem as minhas meninas, faz bem pra mim.
— Obrigado. — Pediu de novo. — Qualquer coisa me liga.
Micael saiu de perto deles, não entrou pra ver Sophia de novo. Foi até a cantina pegar a filha. Branca entrou de mãos dadas a Jorge e precisou ser amparada ao ver o estado da filha. — Minha menina... — Disse ao se aproximar e passar as mãos no cabelo loiro. — Você vai ficar bem, eu sei que vai.
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.Micael levou Maitê pra casa dos pais e ficou lá por bastante dias. Não tinha coragem de ir em casa, quem foi até lá buscar uma muda de roupa pra filha e pra ele havia sido Antônia.
No hospital, Sophia não tinha nenhum quadro de melhora. Ele sempre tirava um tempo do dia e se sentava ao lado dela, pra contar o que acontecia em seu dia a dia e com a filha. Que a essa altura já sabia que a mãe estava dormindo e ia lá visitá-la sempre.
Um mês passou e a rotina não mudou. A menos pelos equipamentos que monitoravam Sophia. Micael mandou remover todos, já que o quadro era estável.
Ele tinha designado uma fisioterapeuta do hospital para sessões todos os dias, evitando assim atrofia muscular.
Branca ia ao hospital todo dia, tinha alugado uma casa perto do hospital a ponto de ir andando.E foi assim que meses após meses foram se passando e logo em seguida, os anos.
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04 de abril de 2019. Quinta, uma da tarde.
.Logo após o almoço, Micael caminhou na direção do quarto ocupado por Sophia há quase três anos. Passou pela porta com um suspiro e se surpreendeu ao ver Branca ali, conversando com a filha e penteando os cabelos ressecados e opacos.
— Desculpe, Branca. — Disse simpático. — Eu achei que você já tivesse ido embora.
— Não, eu queria ver você. — Sorriu ao genro. — Saber como está, tem um bom tempo que não te vejo!
— Ah, eu estou na mesma. — Puxou outro banquinho pra sentar perto da sogra. — Trabalhando bastante, é sempre a minha alternativa pra escalar da realidade.
— Micael, vou te perguntar uma coisa, não quero que fique chateado ou sem graça. — Ele a encarou aguardando a pergunta. — Você pretende ficar quanto tempo com a sua vida parada?
— Não entendi a pergunta.
— Entendeu, eu sei que entendeu. — Ele por reflexo olhou pra aliança. — Quase três anos se passaram, Micael. Você não vive, está sempre enfurnado nesse hospital atendendo pacientes ou aqui nesse quanto. Sinceramente, precisa de uma namorada!
— Branca! — Se assustou com a sinceridade. — Eu não preciso de namorada nenhuma!
— Quantos anos você tem, Micael? Trinta? — Ergueu uma sobrancelha. — Você é jovem, do fundo do meu coração eu quero tanto que você seja feliz, eu te tenho como um filho.
— Eu não posso arranjar uma namorada. — Olhou pra Sophia, ainda claramente imóvel. — Se ela acordar eu faço o quê?
— Você acha que ela vai acordar?! — Perguntou sinceramente. — Depois de todo esse tempo?
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Segunda Chance
RomanceApós um trágico acidente durante uma viagem de casal, Sophia acabou entrando em coma. Micael, seu marido passa a viver em função da esposa meses após meses, anos após anos. Deixando a pequena Maitê, filha do casal, um pouco de lado. Ele finalmente...