Capítulo 19

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— Oi, meninas! — Tatiana chegou no quarto pouco depois que o assunto sobre ela tinha se encerrado. — Bom dia!

— Alguém chegou animada! — Sophia brincou. — A noite foi boa.

— Foi ótima, uma bela noite de sono, isso sim. — Se aproximou rindo. — E a senhora, já está mais calma? Perdeu duas sessões de fisioterapia ontem, hoje eu vou pegar pesado com você!

— Muito mais calma, conversei com o safado do meu marido de madrugada. — Sophia reparou na ruguinha que surgiu na testa da mulher. — Uma conversa sincera, a gente acabou se entendendo.

— O quê? Como assim se entendendo? — Se aproximou um pouco mais.

— Uma conversa de gente decente diferente da de ontem. — Deu risada. — Tudo fluiu, não é ótimo? — Observou Tatiana sorrir.

— É ótimo, fico feliz por vocês. — Forçou as palavras a saírem.

— Sophia... — Branca ia repreender a filha.

— O que foi? — Sophia perguntou sonsa. — Eu falei alguma coisa de errado?

— Não, falou nada não. — Tatiana se antecipou e respondeu. — Mas me diz aqui uma coisa, como é que se entenderam se ele tem outra pessoa?

— Isso aí é questão de tempo, quando eu estiver boa, vou botar essa rapariga pra correr, e é por isso que você precisa intensificar mil vezes mais a minha terapia. Eu preciso melhorar.

— Sabe que as suas sessões são intensas demais já, não é? — Ergueu uma sobrancelha. — Eu não posso aumentar e correr o risco de uma lesão acontecer.

— Ah, eu sei que você dá o seu melhor. — Sorriu. — É apenas ansiedade.

— Já que está ansiosa, vamos logo lá pra sala de fisio começar e tirar o tempo perdido! — Posicionou a cadeira de rodas e Sophia se preparou pra descer da cama.

Sophia perturbou Tatiana falando de Micael a manhã inteira e então quando ela chegou pra sessão da tarde, perturbou mais um pouquinho. Estava claramente se divertindo com o desconforto da mulher, e surpresa com o tanto que ela aguentava, Sophia teria jogado na cara na primeira gracinha que ouvisse.

— É sério, eu vou cair. — Sophia estava de pé, entre duas barras paralelas, ainda era a sessão da tarde, tinha começado mais tarde naquele dia. — Eu não vou conseguir isso agora.

— Eu só quero um passo, nada mais. — Tati disse com a voz doce. — Você vai conseguir sim, é determinada e forte, vamos lá, Sophia. Um passo apenas.

— Tatiana, eu disse que queria melhorar logo, mas o meu corpo não obedece ainda. — Disse com medo.

— Eu e Kaique estamos aqui. — Gesticulou entre eles. — Você não vai cair e se cair, o chão é acolchoado, não vai machucar. — Incentivou. — Pensa na sua filha parada aqui do outro lado da barra, pra abraçar ela, você só precisa dar um passo.

— Tudo bem, vamos lá. — Respirou fundo. — Pode tirar as barras. — Avisou e tentou se equilibrar sem segurar. Parada era fácil.

— Vamos ficar aqui, cada um de um lado, se você precisar a gente segura você, tudo bem? — Sophia assentiu ainda claramente com medo. Tatiana viu Micael parado na porta da sala, imóvel e em silêncio pra não tirar a concentração de Sophia. — Vamos lá.

— Não dá. — Tentou mexer a perna. — Não dá. — Ela chorava de desespero. Kaique se aproximou e ela segurou no ombro do rapaz. — Eu não vou conseguir. — Disse irritada.

Tatiana olhou novamente na direção de Micael e agora viu Maitê parada em silêncio ao lado do pai, teve uma ideia arriscada. — Sophia, você vai fechar os olhos e respirar fundo três vezes. Tá bem?

— Isso não vai adiantar! — Choramingou. — Eu quero deitar na minha cama e não sair de lá nunca mais!

— Você não pode desistir! — Seguiu incentivando. — Você quer ficar bem pela sua família, não é? Como é que vai expulsar a rapariga que pegou seu marido, se tem medo de andar?! — Alfinetou e Sophia a encarou, admirava muito o profissionalismo daquela mulher. — Vamos tentar mais uma vez, fecha os olhos, respira fundo e quando eu mandar você abre.

— Tudo bem. — Disse desanimada e fechou os olhos. Tatiana chamou Maitê que caminhou pra dentro na pontinha do pé, sem fazer barulho. Ela sorria a todo instante. — Já posso abrir?

— Não, eu quero você inspirando e expirando até que se acalme. Lembre-se é a última tentativa, você vai conseguir agora. — Posicionou Maitê bem perto, a distância de que Sophia teria que dar ao menos um passo pequeno para abraçar a filha. — Vamos lá, preparada?! — Soph assentiu. — Abre o olho e anda.

Mas Sophia paralisou de vez. Todo mundo ficou esperando por sua reação, todo mundo tinha um sorriso no rosto por poder assistir aquele reencontro. Sophia analisou, ainda parada, a menina à sua frente.

Uma linda moça de cabelos cacheados dourados, exatamente como se lembrava da cor. A menina era magra e com a pele clara como de Sophia. Tinha os traços da mãe, a cor da mãe, os olhos da mãe e a personalidade da mãe, naquela ali Micael havia feito figuração.

— Maitê? — Disse com dúvida e a menina assentiu ainda sorrindo. — Maitê! — Falou mais alto, queria correr e abraçar a menina, mas seu corpo não obedecia e isso a irritou. — Minhas pernas parecem pesar uma tonelada cada, eu não consigo. — Avisou a Tatiana. — Eu quero abraçar a minha filha! — Chamou com a mão. — Vem aqui, meu amor.

— Não! — Maitê respondeu, já sabendo que era a motivação que faltava pra mãe conseguir. — Esse abraço só vai rolar se você der ao menos um passo. — Chantageou e Sophia olhou pra Tatiana.

— Eu não consigo!

— Você sobreviveu a uma acidente grave, você acordou depois de seis anos, olha pra você, parece ótima! — A menina começou a falar e Sophia chorou. — Eu sei que consegue, você também sabe que consegue, é forte, decidida, você sabe o que quer!

— Como é que você sabe dessas coisas?

— Meu pai já me contou muitas histórias sobre você. — A menina disse contente e Sophia sorriu. Naquele momento, pela primeira vez, ela tinha visto o incomodo nítido no rosto de Tatiana, muito mais do que havia conseguido durante o dia todo. — Vamos lá, eu espero pelo seu abraço há muito tempo, Dona Sophia. — Sophia deu risada em meio as lágrimas.

— Eu deixei meu bebezinho que me chamava de mamãe e ganhei uma pré adolescente que me chama de Dona Sophia. — Ela riu mais um pouco, enquanto tentava secar as lágrimas com a mão. — Isso parece uma troca justa pra vocês? — Brincou.

— Eu posso até chamar de mamãe, mas isso só vai acontecer junto com o abraço depois que você parar de enrolar e der um passo.

— Eu vou cair! — Ela comentou novamente. Micael então entrou na sala e se posicionou no lugar de Kaique. — Não sabia que estava aqui.

— Vamos lá, se você cair, eu te seguro. — Disse com um sorriso. — Mas eu duvido que vai cair. Nossa filha já disse tudo, você é forte, decidida e sabe o que quer, mostra pra gente que consegue isso!

Então ela sorriu, secou as lágrimas outra vez, respirou fundo e aos trancos e barrancos empurrou o pé direito pra frente. Antes que comemorasse, firmou o pé direito e empurrou o esquerdo. Maitê foi chegando pra trás a medida que a mãe dava os passinhos. Foram seis, seis antes dela bambear e ser segurada por Micael.

— Meus parabéns. — Ele foi o primeiro a dizer. Em seguida todo mundo bateu palma incentivando a loira.

— Será que agora eu posso finalmente ganhar o meu abraço? — Perguntou à Maitê que caminhou pra frente de novo e passou os braços pela mãe afim de um abraço aconchegante. — Eu te amo tanto, filha! — Se soltou de Micael e ficou agarrada a Maitê. — A cena era tão meiga que o moreno e Branca tinham olhos marejados. Tati sorria também, assim como Kaique. — Eu senti saudades de você!

— Eu também te amo, mamãe. — Chamou, cumprindo o prometido.

— Muito melhor que "dona Sophia" — Ela brincou.

— Espera até eu te chamar de coroa. — Maitê deu uma gargalhada. — Meu pai adora! Não é?

— Aham, eu adoro, Maitê. — Disse com deboche. — Você sabe o quanto!

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