— Vou te dar um calmante antes que passe mal. — Micael disse a Tatiana, ainda no consultório de Sophia. — Está muito abalada, Tati.
— Não! Eu preciso ficar acordada e ter notícias do meu filho. — Disse após fungar e tentar controlar as lágrimas. — Eu não quero dormir.
— Se você passar mal, vai ser pior pra todo mundo.
— Só quero notícias do meu bebê. — Respondeu e ouviu um suspiro. — Diz o que vão fazer com ele.
— Eu não sei. — Tentou desconversar pra não deixar a mulher ainda mais nervosa.
— Você sabe sim! Fala a verdade. Será que ele vai ficar cego?
— Eu não sou neuropediatra.
— Mas é um neurocirurgião. — Rebateu. — Para de esconder as coisas, eu aguento a verdade!
— Olha, geralmente tem uma pressão no cérebro decorrente do traumatismo que causam esses sintomas que o Miguel teve e tantos outros. O tratamento pra isso é cirurgia pra aliviar a pressão.
— Vão abrir a cabeça do meu filho? — Ela quase gritou. — Só pode ser brincadeira!
— Não sei se vão, tem casos que é necessário, alguns não são. — Tinha as mãos no ombro da mulher, tentando mantê-la sã. — Precisamos de calma, se tiver cirurgia eu vou entrar lá e acompanhar.
— Isso não é garantia de nada! Meu senhor, que pesadelo. — Voltou a chorar tão descontroladamente que não conseguia nem falar. Recebeu um abraço apertado de Micael e os dois ficaram assim, tentando se consolar enquanto não tinham notícias.
Saíram do consultório de Sophia e caminharam hospital a dentro, em busca de alguma notícia. O vai e vem de médicos no centro cirúrgico confirmou o que Micael suspeitava.
Alguns profissionais passavam por eles e os olhavam com pena, sabiam que era o filho deles que estava ali.
Micael deixou Tatiana sentada num banquinho que tinha ali, do lado de fora e ficou de pé com os braços cruzados, ansioso por qualquer que fosse a notícia.
— Ei, ei, ei! — Chamou quando viu Sophia conversando com alguns médicos, todos vestidos com as roupas descartáveis e luvas. Prontos pra entrar na sala de cirurgia. — Vem cá!
— O que você está fazendo aqui? — Sophia tinha a voz abafada por conta da máscara. — Devia estar na sala de espera, Micael!
— Nada disso, eu não vou ficar lá como se fosse pai de um paciente comum! — Resmungou. — O que diabos aconteceu?
— Vamos conversar depois da cirurgia! — Avisou, mas ouviu a voz de Tatiana vinda de trás.
— Fala porque é que vão operar o meu filho!
— Miguel desmaiou durante a tomografia, houve mais sangramento nasal e a visão dele ainda não voltou. Você sabe bem o que ele tem. — Disse olhando pra Micael. — Eu sei que sabe, não precisa da explicação de ninguém.
— Deixa eu participar da cirurgia. — Pediu com a voz baixa.
— Não. — Disse seca. — Você é pai dele, está muito mais do que emocionalmente abalado. Não pode participar. Confia na equipe que tem lá dentro, Sebastian é um bom médico.
— Eu sei, mas...
— Mas nada! — Disse por fim. — Fiquem aqui e aguardem o fim da cirurgia. — Nenhum respondeu e ela ouviu uma voz feminina a chamar. — Vai começar, preciso ir.
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.— Quanto tempo ainda mais vai levar? — Tatiana perguntou agoniada. — Estão lá a mais de quatro horas! Já está quase amanhecendo.
— Em média dura cinco horas, as vezes mais, as vezes menos. — Suspirou, cansado. — Já deve estar acabando. Vai dar tudo certo. — Deu batidinhas no banco e Tatiana que andava de um lado pro outro, se sentou, deitando no peito de Micael e recebendo conforto naquela hora difícil.
E ficaram ali, abraçados, cada um sofrendo em silêncio com o seu próprio medo. Micael já tinha sua roupa toda molhada das lágrimas de Tatiana que em nenhum momento conseguiu parar de chorar.
— Te juro que não aguento mais esperar. — Agora, ao inves de abraçada, estava deitada no banco do hospital com a cabeça no colo de micael. — Preciso de notícias.
— Achei que estivesse dormindo. — Disse a mulher que o encarou com certo deboche. — Você ficou muito tempo em silêncio e de olhos fechados. — Deu de ombros e ergueu a mão pra alisar seus cabelos. — Pelo menos parece que você se acalmou um pouco.
— Tá brincando? A cada segundo que demora, eu fico ainda mais agoniada, quero notícias. — Fechou os olhos de novo e se aproveitou do cafuné que recebia, ali percebeu o quanto sentia falta de Micael em sua vida.
Sophia apareceu ali algum tempo depois e os dois ainda estavam daquele jeito, só que ambos de olhos fechados. A loira os encarou por um instante, sem saber o que pensar, se era ou não certo sentir ciúmes dos dois visto a situação pelo qual estavam passando.
Micael abriu os olhos e tomou um susto ao encontrar Sophia ali parada, ainda vestindo a roupa descartável da cirurgia. Parou o cafuné que fazia em Tatiana e a mulher resmungou ainda com os olhos fechados.
— É sério que cansou? — Se permitiu brincar, mesmo preocupada — Agora eu ia finalmente cochilar.
— Levanta, Tati. — Pediu baixo e a mulher abriu os olhos na hora e se sentou, observando Sophia tirar a máscara, em seguida as luvas e a touca. — Você vai ficar em silêncio?
— Como está o Miguel? — Tatiana ficou de pé, novamente nervosa, esperando Sophia falar o que fosse, mas a loira só estava lá, parada encarando os dois e Micael sabia bem o motivo. — Sophia, pelo amor de Deus, fala do meu filho!
— A cirurgia acabou agora. — Começou a contar, ainda olhando nos olhos de Micael. — Sebastian fez tudo o que era possível pra aliviar a pressão que estava no cérebro dele. — Os dois olhavam pra ela atentamente. — Miguel sofreu uma parada cardíaca no meio da cirurgia.
— Você não vai dizer que o meu filho morreu! — Tatiana se antecipou. — É por isso que está assim, claramente abalada? — Desandou a chorar ainda mais e se jogou pra um abraço em Micael, chorando em seu peito. Ele abraçou a mulher e fez carinho em suas costas, por mais que visse no olhar de Sophia que não era esse o motivo do abalo.
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Segunda Chance
RomanceApós um trágico acidente durante uma viagem de casal, Sophia acabou entrando em coma. Micael, seu marido passa a viver em função da esposa meses após meses, anos após anos. Deixando a pequena Maitê, filha do casal, um pouco de lado. Ele finalmente...