Capítulo 6

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— Oi, Vovó. — Maitê disse animada assim que Branca abriu a porta. — Quanto tempo!

— Oi, meu amor. — Abraçou a menininha. — Vovó estava morrendo de saudades já. — Deu um beijinho. — Tudo bem, Micael?

— Eu acho que está. — Disse sem jeito. — Perdi a prática. — Branca deu risada.

— Você está muito bem, embora eu ache que tenha exagerado um pouquinho no perfume. — Brincou.

— Pode deixar que na próxima eu acerto. — Se aproximou pra um abraço na sogra. — Obrigado mais uma vez, amanhã eu passo aqui depois do plantão pra pegar a Maitê.

— Tudo bem, você que sabe. — Ele deu um beijo na filha e saiu dali para seu encontro. Branca fechou a porta e foi com a neta pro sofá. — O que quer fazer, meu amorzinho?!

— Onde está meu avô?

— Ele está descansando, seu avô não anda muito bem de saúde. — Contou a neta, mas ela já sabia daquilo. — Não podemos fazer muito barulho.

— Vó, meu pai está de namorada nova? — Branca se surpreendeu. — Ele disse que ia sair com uma amiga.

— Então é uma amiga. — Disse simpática. — Isso não é assunto pra crianças.

— A verdade é que minha mãe não vai acordar nunca, não é? — Branca se surpreendeu com a fala da criança. — Ele já desistiu de esperar.

— Ele sair com outra mulher não quer dizer que a sua mãe não vai acordar. — Fez carinhos nos cachinhos douradinhos da menina. — Ele parou a vida pra cuidar da sua mãe, merece um pouco de diversão.

— Eu disse a ele que não quero mais ir lá no hospital ver a minha mãe. — Branca agora estava surpresa, assim como Micael havia ficado. — Ele deixou.

— Você vai abandonar a sua mãe? — Ficou de pé, se esquecendo de que falava com uma criança. — Maitê, a sua mãe te ama mais que tudo, não é justo com ela.

— Não é justo comigo vocês me obrigarem a ir até lá todo dia depois da aula falar com alguém que nem me ouve! — Protestou. — Se ela me ama tanto, por que não acorda?

— Porque ela não consegue! — Respondeu chateada. — Mas quando conseguir e souber que você não quis visitar ela, vai ficar muito chateada.

— Aí eu peço desculpas. — Deu de ombros como se fosse simples. — Mas eu não vou mais lá, meu pai deixou.

— Maitê...

— Vó, a minha mãe tá morta. — Falou com raiva. — Todo mundo na escola disse isso.

— O quê? — Se sentou ao lado da menina. — Seus amiguinhos dizem isso pra você?

— Dizem. — Tinha uma expressão chateada. — Que a mamãe morreu e ninguém enterra, a Maria Eduarda chamou minha mãe de múmia.

— Você pode ter certeza que eu vou nessa sua escola, porque isso é uma tremenda falta de respeito! — Branca agora estava realmente irritada. — Ninguém tem que falar nada da sua mãe!

— Eu não ligo, ela parece morta mesmo. — Deu de ombros. A menina tinha seis anos e falava com a certeza de quinze. — Eu não quero ir lá e não vou.

— Depois a gente conversa sobre isso. — Disse após respirar fundo. — Agora, eu fiz um bolo de chocolate daquele que você ama e só a vovó faz! Você quer?!

— É claro que sim. — Disse com um sorriso, mas claramente abatida, Branca acompanhou a neta até a cozinha, depois conversaria com Micael a respeito daquilo.

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— Oi, Tati. — Ele deu um beijo na bochecha da mulher que já o esperava quando entrou no restaurante. — Atrasei muito? Tive que levar minha filha até a casa da Branca.

— Não, eu que cheguei cedo. — Ela sorriu e ergueu a taça de vinho. — E já comecei.

— Vejo que sim. — Sorriu, e um silêncio desconfortável perdurou entre os dois. — Olha, me desculpa.

— Desculpa pelo que? — Franziu a testa.

— Por esse silêncio, é que sinceramente eu não sei mais fazer isso. — Riu sem graça. — Não sei ser interessante.

— Há muito tempo longe do mercado? — Perguntou achando bonitinho.

— Você sabe, acompanha a minha luta desde o começo. — Deu de ombros. — Só de pensar em alguma coisa pra falar e tentar ser no mínimo interessante me dá coceira. — Brincou.

— Eu imagino que deve ser complicado. — Bebeu mais um gole de seu vinho. — Então porque não fala do que não precisa fazer esforço pra ser interessante e eu decido se está chato?

— Vou te entediar a noite toda falando sobre trabalho, Sophia e a Maitê. — Sorriu e pediu uma taça de vinho ao garçom também. — Não é uma boa ideia.

— Vai lá, fale da Sophia. — Apontou pra ele. — Se está nervoso e sem jeito, devia falar de algo que te deixa à vontade. — Ele ergueu uma sobrancelha. — Mas vamos falar de lembranças boas. Me conta, como é que se conheceram?

— É sério? — Estranhou, mas gostou da ideia. — Ela foi residente lá no Life. — Começou a contar. — E eu peguei aquela turma de estagiários só porque o outro médico não tinha ido no dia. Costumávamos dizer que foi o destino, por que se tem uma coisa que eu não costumo fazer é ficar com os residentes.

— Deve ter sido mesmo destino, com toda certeza! — Brincou. — E ela se especializou em quê?

— Pediatria. — Contou com orgulho. — Ela sempre foi louca por crianças, quando descobriu que estava grávida da Maitê foi a maior felicidade.

— Um neurologista e uma pediatra. — Tatiana sorriu. — Um casal e tanto. A filha de vocês devia ser a criança mais bem cuidada da terra.

— Nem me fala, aquela ali não podia espirrar que a gente tava em cima. — Deu risada.

— Estão juntos há quanto tempo? — Tatiana estava deixando Micael tão à vontade que ele nem nervoso estava mais. Falar da Sophia era fácil.

— Foram dois anos de namoro, três de casamento e mais três de... — Parou pra pensar. — Eu não sei bem o que estamos vivendo agora. Enfim, são oito anos.

— Uau, uma vida inteira! — Sorriu mais uma vez. — Não é todo dia que se encontra por aí. Agora me conta, como é que está se sentindo estando aqui comigo?

— Se eu te falar que parece que estou traindo a Sophia, você acredita? — Ela deu risada da careta dele. — Estou falando sério.

— Eu acredito, deve ser difícil isso de tentar seguir em frente. — Ele a encarou. — Ainda mais obrigado pela sogra.

— Obrigado é uma palavra forte, ela me deu um empurrãozinho. — Voltou a rir. — Branca é maravilhosa, sempre me tratou como um filho e isso aumentou ainda mais depois do acidente.

— Eu vejo isso no dia a dia. — Sorriu. — Ou você se esqueceu que eu estou lá duas vezes por dia, sete vezes por semana?

— É verdade, nossa, eu exploro você. Como é que você trabalha sem folga? — Deu risada. — Não tem vida social?

— Ah, você me paga tão bem que vale a pena. — Ela brincou e os dois riram. — Fora que, eu gasto duas horinhas por dia com a Sophia. Está mais que valendo a pena. E sim, eu tenho vida social, estou aqui, não é?

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