Capítulo 45

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— E como foi que surgiu essa ideia? — Perguntou a Micael, já que tinha certeza que a menina não lembraria.

— Era o primeiro dia das mães da Maitê sem você e ela chegou da creche com um desenho, mensagem da professora e enfim, ela estava triste porque você não ia ver e então eu peguei essa caixa, a gente decorou e fomos guardando aí durante os anos. — Terminou com um sorriso. — Termina de olhar, tem muita coisa aí pra fazer você chorar.

— Para de ser besta, isso vai borrar a minha maquiagem. — Passou a mão no rosto. E então começou a pegar as coisas. Muitos recadinhos de amor, presentinhos de dia das mães, tinha até uma caneca ali, escrito "uso exclusivo da melhor mamãe do mundo". Uma cartinha de quando Maitê aprendeu a escrever: "Te amo mamãe, acorda logo" tudo com um garrancho de quem tá começando a praticar a escrita.

Fotos da menina vestida de florzinha na escola, vestida de coelhinha, vestida de índia. Algumas fotos dela com Sophia no hospital. Micael, Maitê e um bolo, ao lado de Sophia.

— Esse aí foi seu primeiro aniversário. — Micael narrou, enquanto ela passava a mão pela foto. — Estava todo mundo lá, meus pais, seus pais, eu e Maitê. Foi legal, enfeitamos teu quarto todo com balões.

— Esperando que eu acordasse no parabéns? — Brincou e fungou mais uma vez.

— Esperávamos que você acordasse a qualquer momento, Sophia. Não só no parabéns. — Ele deu de ombros com as lembranças dos tempos mais difíceis. — Tem fotos aí de todos os seus aniversários, sempre fizemos isso, né Maitê? — A loira fuçou na caixa procurando as outras fotos e as encontrou.

— Eu amei isso daqui. — Disse olhando ainda mais lembranças. — Queria tanto ter participado de tudo isso. — Passou as mãos por outra lembrança, dessa vez porta retrato da época em que ainda estava bem, com uma foto das duas, Maitê devia ter uns dois anos. — Obrigada por isso, sério.

— Tem muito mais lembranças nessa casa e depois eu te mostro. — Micael ficou de pé ao ouvir a campainha. — Eu pedi a Nana pra que tirasse foto de tudo, eu mesmo tirava quando estava junto e a Tatiana seguiu um mesmo ritmo quando veio pra cá. Eu sabia que você ia querer ver quando acordasse. — Sophia assentiu, não sabia o que dizer. Registrar aquelas memórias pra ela havia sido um gesto fofo. — Oi, Tati. — Abriu a porta com um sorriso e o menino que estava no chão avançou para um abraço, como sempre fazia quando via o pai. — E aí, filhão. Tudo jóia?

— Tudo jóia. — O menino respondeu e fez um joinha com os dedos. Arrancando risada dos presentes.

— Cadê a aniversariante mais linda do mundo? — Tati entrou e abriu os braços esperando por um abraço da ex-enteada. — Maitê você está muito moça!

— Eu sei, tia! — Disse com orgulho. — Já sou quase uma adulta! — Deu um beijinho no ombro e arrancou mais risadas do que Miguel com seu jóia. — Não sei qual a graça!

— Se liga, Maitê. — Micael disse ao caminhar pra perto com João no colo. — Você tá quase virando uma aborrecente, isso sim. 

— No meu aniversário eu tenho que ouvir uma coisa dessa. — Balançou a cabeça negativamente. — Depois diz que me ama. Tia, cadê meu presente? 

— Ué, a tia te perguntou dez vezes o que você queria e não teve resposta, ou seja, não comprei nada! — Tatiana deu risada e viu a menina se afastando para lhe encarar indignada. — Não me olha com essa cara. 

— Tia você nunca deixou de me dar presente, que doideira é essa agora? — Cruzou os braços brava com a situação. — Eu queria patins, você sabe disso! Eu te peço há muito tempo e você sempre disse que ia me dar aos dez, cadê meus patins? 

— Eu esqueci! — Levou as mãos à boca. — Vou comprar, pode deixar. — Sophia observava a relação de Tatiana e Maitê com um breve sorriso, por mais que tivesse ciúmes, era bom saber que sua menina foi tão bem tratada e amada enquanto ela não podia fazer isso. — Vai ficar chateada comigo por causa disso? 

— Vou sim! Eu mereço um patins, sou tão boazinha. — Arrancou risada de todo mundo e Tatiana a puxou pra outro abraço. — Não adianta ficar me abraçando não, Tatiana. Eu vou te ligar todo dia pra cobrar o meu presente. 

— Posso saber por que você não quis festa esse ano? — Ergueu uma sobrancelha e viu a criança balançar a cabeça. — Achei que amasse festas! 

— Porque eu quero um dia de paz com a minha mãe e meu pai e isso parece impossível, então precisei gastar meu pedido de aniversário. – Contou a tia e fez com que os pais se encarassem um instante, um tanto culpados por aquilo. — Até então tem dado certo, quero só ver até quando eles aguentam ficar assim um do lado do outro sem se matar. 

— MAITÊ! — Micael repreendeu e a menina sorriu sapeca. — Para de graça! Vamos logo, daqui a pouco a gente chega no parque e já é hora de fechar. 

— Tá bom, estressadinho. — Deu um beijo na bochecha de Tatiana e caminhou pra dar a mão á mãe. — Vamos, vamos, vamos! — Começaram a andar, mas a menina reparou na ex-madrasta ali parada. — Você vai ficar aqui, tia?  

— É, eu tenho umas coisas no armário, preciso levar de volta, vou aproveitar que estou aqui logo. Já já eu vou. — A menina assentiu. — Sophia você está andando muito bem! — Tati encarou a mulher com um largo sorriso e foi até ela lhe dar um beijo na bochecha. — Sério, fico muito feliz de te ver assim. — As duas não tinham se visto desde a última conversa sincera que tiveram na casa de Branca. 

— Danilo tem mãos mágicas, eu sinto que logo, logo não precisarei mais de terapia nenhuma! — Contou empolgada e sorrindo, Micael virou os olhos em referência às mãos mágicas, mas não fez nenhum comentário. — Até mais, Tatiana. 

— Até mais, gente. — Ficou ali olhando os quatro sairem. Esperou bastante até ir no porta malas buscar as coisas que tinha levado pra decoração da festa da Barbie que a pequena com certeza amaria. 

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