Capítulo 86

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— Por que estão se encarando todo esse tempo em silêncio e com essa cara séria? Do que se trata que gente? — Jorge perguntou curioso a eles esperando que qualquer um dos dois respondesse.

— Intimação pra audiência de conciliação do divórcio. — Micael respondeu antes de abrir o envelope.

— Divórcio? — Jorge arregalou os olhos pro filho. — Você deu entrada no divórcio por causa dessa bobeira? — Parecia indignado.

— Primeiro de tudo: Ela estar grávida de outro homem não é uma bobeira. — Disse olhando pro pai e então começou a abrir sua intimação. — Segundo: Foi ela que deu entrada, não eu. Não teria dado tempo, soube disso ontem.

— Faz meses, eu tinha esquecido que fiz isso. — Disse baixo, lendo o documento. — Meu advogado devia ter avisado que eles iam entregar a intimação.

— Talvez ele tenha tentado avisar e você não o atendeu ao telefone. — Ela ponderou. — A casa, a guarda da Maitê e pensão? — Micael ergueu uma sobrancelha pra Sophia após ler o documento.

— Eu te falei isso! — Resmungou pensando naquela época. — Eu estava decidida e fazer isso parecia correto, faz tanto tempo! Você vai ficar chateado comigo por causa disso? Foi antes do aniversário da Maitê, logo que eu saí do hospital.

— Ah, eu não posso ficar chateado? — Lhe perguntou e só teve silêncio em resposta. — Eu tenho que aceitar tudo e sorrir?

— Só estou dizendo que isso faz muito tempo, só esqueci de ligar pro advogado e pedir que suspendesse. Não precisa disso tudo.

— Me desculpe por ficar chateado pela forma tosca que você me tratava, esqueci que eu tinha que aceitar calado porque tinha ficado com outra pessoa enquanto você estava em coma por anos.

— Você vai mesmo voltar nesse assunto? — Ela trincou o maxilar, os dois discutiam como se Jorge não estivesse ali, atento a tudo. — Você enfiou outra mulher dentro da minha casa e fez um filho nela, eu tinha direito de estar com raiva de você e de fazer tudo o que fiz.

— Claro que sim, tava com tanta raiva que foi lá e fez seu próprio filho com outra pessoa pra me fazer passar a mesma raiva, não é? Se bobear você engravidou de propósito mesmo!

— MICAEL! — Jorge repreendeu com os olhos arregalados antes que o filho falasse besteiras que se arrependeria depois.

— Deixa ele, Jorge. — Sophia estava irritada, mas falou devagar. — Ele está certo. Eu engravidei de propósito e agora eu vou lá convidar o pai do meu filho pra morar comigo, quem sabe assim você tem um pouquinho do gosto que eu senti.

— Você não é nem maluca... — Ele gritou irritado, mas a loira já tinha saído da sala. — Você viu que filha da mãe? — Falou com o pai num tom irritado, que piorou quando ouviu as risadas do mesmo. — Pai?

— Sabia que é por isso que eu gosto da Sophia? Ela pensa rápido e te responde na lata, sem nem pestanejar.

— Fala sério, tudo é uma piada pra você! — Puxou a cadeira e se sentou. — Minha vida tá um caos.

— Tá um caos porque você quer. — Micael abaixou a cabeça na mesa. — A essa altura do campeonato você vai ficar chateado pela forma como ela te tratou meses atrás? Que por sinal, você sempre soube que ela te trataria daquela forma, não foi uma surpresa. Você a conhecia muito bem e sabia qual seria a reação dela ao saber que sua vida andou.

— Pai, você está do lado de quem?

— Da razão! — Rebateu e caminhou pra se sentar. — Você está implicando com uma bobeira, sabia que ela tinha dado entrada no divórcio, ela só esqueceu de suspender. Não precisa fazer drama. Vai deixar mesmo que ela vá morar com a Branca? 

— Não tenho capacidade de ir lá e pedir que fique aqui, não agora. — Suspirou. — E eu não acho que vai morar com a Branca, ela não vai querer ficar longe da Maitê. 

— Nem de você. 

— É, nem de mim. — Ergueu a cabeça com uma careta. — Eu acho. — Se levantou e caminhou pra porta. — Acho que já me lamentei demais, preciso trabalhar. Obrigado pelos conselhos, pai. 

— Não faça nenhuma besteira. — Gritou pra ele enquanto saía, Micael apenas acenou com a cabeça e foi, rumo ao seu consultório, mas acabou passando direito pra beber uma água. Viu Sophia e Branca paradas não muito longe dali. Ele olhou interessado mesmo que não conseguisse ouvir. 

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— O que aconteceu com você? Por que me chamou aqui com tanta urgência? — Branca perguntou assim que viu a filha, no corredor do hospital. — Você está pálida, filha, não parece muito bem. 

— Eu vou lá pra sua casa hoje, tá bem? — Branca franziu a testa sem entender nada. — Pedi uns dias ao Jorge, preciso colocar a minha cabeça no lugar. 

— Você e Micael brigaram de novo? O que foi que aconteceu hein? 

— Eu estou grávida. — Contou sem hesitar. — De um filho que pode não ser do Micael e como eu já esperava que acontecesse, ele está surtado. 

— Qualquer um ficaria. — Branca balançou a cabeça. — E aí você vai fugir? 

— Eu vou precisar de ajuda, mãe. Como eu vou ficar aqui e ser mãe solo de uma menina de dez anos e um bebê recém nascido? — Ergueu uma sobrancelha. — Como vai ser o pós parto? 

— Você não vai ser mãe solo, eu duvido que o Micael vai terminar com você. 

— Só que eu não quero viver dependendo do que o Micael vai querer ou não, eu preciso ter o meu plano pra viver sozinha e cuidar dos meus filhos. Eu pensei em ir pra lá fazer o pré natal e ganhar meu filho, pra ter ajuda no pós parto, estou pensando em fazer laqueadura junto. 

— Certo, mas você não precisa ir pra lá, sabe que eu posso vir pra cá e ficar na sua casa te ajudando com as crianças, é bom que o bebê já se acostuma direto com o quartinho dele. — Sorriu.

— Eu não queria te pedir pra mudar sua vida drasticamente. — Disse baixinho. — Só ia ficar até conseguir ao menos levantar da cama sem sentir dor. 

— Meu amor, eu vou sempre estar aqui pra te ajudar. Se quando estiver na reta final precisar da mamãe, claro que virei pra cá, mas sinceramente eu acho que até lá você e Micael já se entenderam. 

— E mesmo se ele estiver comigo, será que dá pra vir? — Ergueu uma sobrancelha. — Sabe como é né, plantão de doze horas. — Branca deu risada e um beijo na filha. — Obrigada pelo apoio, mãe. Amo você.  

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