Capítulo 47

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Micael comprou passaporte pra Maitê brincar em quantos brinquedos e quantas vezes quisesse. Comprou pra ele, pra acompanhar a menina que se recusava a ir sozinha. Pra Sophia e Miguel comprou ingressos avulso, já que não podiam ir na maioria dos que tinham ali. 

Agora estavam sentados no banco olhando Maitê e Miguel dentro de um carro no bate bate. O menino de quase três anos se divertia com a irmã batendo em todo mundo, era até engraçado de ver as gargalhadas. 

— Ela se divertiu. — Puxou assunto enquanto comia um algodão doce. — Mesmo eu não podendo brincar com ela, tenho certeza de que gostou. 

— Claro que gostou, o sonho dela sempre foi ter você nesses momentos. Como ela disse, só o fato de estar aqui já significa muito. — Olhou pra loira com um sorriso e pegou um pedaço do algodão doce dela. — Ei, você ficou louco, Borges?

— Você vai ter coragem de me negar um pedacinho? — A olhou indignado. — Eu não acredito nisso!

— Vou! Você por acaso bateu a cabeça também? Pra ter esquecido o quanto eu amo isso aqui, só se tiver perdido a memória.

— Eu não esqueci, não é atoa que fui eu que trouxe pra você quando voltei do brinquedo com a Maitê, mas não sabia que você ia me negar uma beiradinha.

— Eu gosto muito.

— Mas você sempre dividiu comigo! — Franziu a testa encarando a loira. — Nunca fez essa mesquinharia.

— Claro, eu gostava muito mais de você do que de algodão doce, hoje em dia não é o caso!

— Está dizendo que prefere esse doce estúpido a mim? — E já estava indignado. — Mas que horror e eu achando que tivemos um momento hoje mais cedo.

— Micael toda essa saída, essa trégua, é por causa do aniversário da minha filha. — Ela se virou de frente pra ele. — Eu não perdoei você por tudo o que fez, e não sei se um dia vou conseguir.

— Mas Sophia...

— Eu ia te contar em outro momento, mas já que estamos no assunto. — Ele tinha um olhar muito apreensivo, aguardando o que a mulher diria. — Eu conversei com um advogado essa semana e pedi a ele que desse entrada no divórcio.

— VOCÊ O QUÊ? — Deu um grito, assustando as pessoas que passavam perto. — Como teve coragem de fazer isso sem nem me avisar?

— Mas eu avisei a você que faria, no dia em que eu descobri que enquanto eu precisava de você, você estava construindo família por aí e botando mulher dentro da minha casa!

— Mas tanta coisa aconteceu, a Tatiana foi embora de casa, eu já pedi perdão, eu te amo, Sophia!

— Não vem com essa! A Tatiana ter ido embora de casa não apaga o que aconteceu, não apaga a minha mágoa! Principalmente porque eu sei que não foi você que a mandou embora, inclusive pediu que ficasse.

— Eu fiz muita idiotice, mas divórcio?

— Sim, divórcio, você acha que eu vou voltar com você depois dessas coisas?

— Acho! — Deu de ombros. — Você está magoada e eu entendo, mas me ama, tenho certeza. Quando a mágoa passar você vai voltar pra mim e sabe disso.

— Ah para, você chantageou a Tatiana com o Miguel pra que ela não saísse de casa. Pediu pra reatar comigo, chegou em casa e pediu a ela pra que não fosse embora. Você não sabe o que quer!

— Eu estava confuso, tomando decisões tolas e equivocadas. Isso não acontece mais, se você percebeu. Eu escolhi você!

— Claro que não acontece, nem a Tati e nem eu queremos ficar com você. — Debochou e o viu virar os olhos. — Se tivéssemos as duas atrás de você, estaríamos numa porcaria de triângulo sem você conseguir decidir o que quer.

— Se você acredita que a Tatiana não quer nada comigo está se fazendo de idiota. Se eu tivesse falado pra ela metade das coisas que disse pra você, ela teria voltado pra casa no dia seguinte. — Sophia o encarou com deboche. — Você sabe que é verdade, ela quer que eu vá lá e fale que quero ficar com ela.

— Então vai, Micael. Está esperando o quê?

— Eu não quero a Tatiana. Eu gosto dela, tá bem, claro que gosto, mas eu nunca a amei, eu nunca disse que a amei, eu nunca comprei uma aliança, eu só fui morar com ela porque engravidou do João Miguel.

— Entendi, não me convenceu. Ainda quero o divórcio.

— Tá legal, da entrada nessa porcaria, eu vou assinar pra você. — Se irritou e ficou de pé. — Cansei de insistir, eu não sei porque fico fazendo papel de idiota pra você toda vez.

— Foi você que errou, você que tem que fazer papel de idiota mesmo. — Ela deu de ombros. — E eu vou pedir a guarda da Maitê e a casa.

— Tá, agora você passou de todos os limites! — Encarou a mulher um tanto irritado. — Eu deixei a Maitê morar com você de bom grado, agora você vai entrar na justiça e pedir a guarda da minha filha?

— Primeiro de tudo, ela é nossa filha. Eu tenho direito de pedir a guarda dela. Você deixou ela morar comigo um mês e a qualquer momento pode dar uma de maluco e querer pegar a menina de volta. Eu não vou correr o risco, vamos regularizar isso tudo perante o juiz, inclusive as suas visitas. Você acha que de quinze em quinze dias está bom?

— A menina viveu a vida inteira comigo, não é nem um pouco justo você inventar isso agora. E a minha casa?

— Errado de novo, nossa casa! — Corrigiu, achando graça das caretas dele. — Compramos logo depois do casamento, se lembra?

— Sophia...

— Nunca mais você vai colocar outra mulher dentro da minha casa. — Ficou de pé e disse com rancor.

— Sophia... — Abaixou o tom de voz. — Não vamos fazer isso.

— Já conversamos sobre a pensão? — Ergueu uma sobrancelha ignorando o pedido.

— Eu não vou brigar com você na justiça por causa de nada. — Arriou os ombros e voltou a se sentar. — Você não precisa nem de justiça, eu saio da casa se você quiser morar lá.

— Não adianta se fazer de bonzinho, Micael, não me convence.

— Não estou me fazendo de nada. É só que se iniciarmos uma guerra pela casa, o juiz vai ordenar a venda pra dividirmos o dinheiro. Eu não quero vender a casa que tem todas as nossas lembranças, a casa onde a Maitê cresceu.

— Nossas lembranças estão manchadas!

— Não, você as sentiu quando chegou lá. Eu vi no seu olhar. Aquela casa é especial pra gente, redecora e fica lá com a Maitê, eu alugo outro lugar pra mim.

— Ok, se prefere assim, assim será. Mas o divórcio e a guarda da Maitê eu vou pedir. — Ele não teve tempo de responder, Maitê chegou perto deles com Miguel.

— Espero que não estejam brigando. — Maitê falou com as mãos na cintura. — Não posso deixar os dois sozinhos um instante?

— Não tem ninguém brigando aqui não, menina. — Sophia respondeu rindo. — Eu e seu pai somos amigos, não é mesmo?

— Não sei onde. — A menina disse com uma careta. — Não tentem me enrolar só porque eu sou criança.

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