Capítulo 26

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— Eu acho que as mocinhas tiveram bastante tempo, mas a gente precisa cumprir o cronograma e fazer a última sessão do dia. — Tatiana disse ao voltar pro quarto junto com Branca. — Eu tô doida pra ir pra casa ver meu filho, então vamos lá, Dona Sophia. Dar mais uns passinhos. — Posicionou a cadeira.

— Eu quero ver quem é que vai me segurar. Kaique está aí? — Perguntou enquanto ajeitava as pernas.

— E desde quando Kaique sai do meu lado? — Brincou. — Aquele lá é meu fiel escudeiro.

— E é mudo. — Soph deu risada. — Não escuto nada do que ele diz.

— Ele é tímido e fala baixinho. — Soltou uma risadinha. — Mas não é mudo, tadinho. — Defendeu e viu a loira se sentar. — Vamos lá, espero não ouvir coisas do tipo "eu não consigo". Já passamos dessa fase.

— Tatiana é tão difícil. — Suspirou. — Você não tem noção, fica só de coaching.

— Não começa a reclamar. — Sorriu e começou a empurrar a cadeira de rodas rumo a sala de fisio.

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Quando Tatiana chegou em casa com Maitê, Micael não estava mais á vista. A menina tomou banho e escovou os antes antes de deitar e a madrasta após ver seu filho dormindo no berço e lhe fazer um carinho, caminhou pro seu quarto.

— Demorou hoje. — Micael estava deitado na cama com o notebook no colo e headphone. — Aconteceu alguma coisa?

— Você fica de headphone, se o Miguel chorar você não vai ouvir. — Disse seca.

— Babá está aqui do meu lado. — Ergueu o aparelho pra esposa. — Você está irritada comigo?

— Só estou cansada, preciso muito descansar. — Suspirou. — Vou tomar um banho.

— Quer companhia? — Tinha um sorriso maldoso, nem estava no clima pra isso, mas tinha que cumprir seu papel de marido, não tinha? — Eu te faço uma massagem.

— Não. — Foi só o que respondeu e saiu de perto, deixando Micael em choque por ter sido rejeitado. Quando voltou, enrolada na toalha e foi procurar uma roupa, evitou olhar pra ele. — Perdeu alguma coisa aqui. — Pegou um baby Doll e o vestiu sem calcinha. Sentia o olhar do moreno sobre ela.

— Será que eu posso saber porque é que está com tanta raiva de mim a ponto de negar sexo? — Cruzou os braços. — Isso é algo bem raro.

— Não quero conversar, não quero falar nada.

— Sophia. — Ele rolou os olhos. — Você está novamente insegura por conta da Sophia?! Aquela briga de hoje não significou nada, Tatiana.

— Micael. — Se virou pra ele após vestir a camisa. — O que é que você sente por mim? — Ele fechou o computador e o colocou na mesinha ao lado. — De verdade, eu sei que amor não é, numa me iludi quanto a isso. Me diz o que é?!

— Não estou entendendo onde você quer chegar. — Ela se sentou ao lado dele na cama e cobriu as pernas. — Pode ser específica?

— Não dá pra ser mais que isso. Me diz é tesão? É carinho? É desejo? Comodidade?

— Tati...

— Não perguntei o meu apelido. — Respondeu com grosseria. — Eu quero a verdade, você nunca me amou, sempre soube, afinal um "eu te amo" nunca saiu da sua boca, mesmo que falso.

— Eu gosto de você. — Confessou baixo. — Gosto de verdade, a família que construímos é incrível.

— A nossa família é uma mentira. — Rosnou pra ele. — Você só está comigo porque a Sophia tem raiva de você. Não precisa me enganar, eu não faço o tipo ingênua.

— Ela te envenenou?

— Precisa mesmo? — Suspirou. — Eu sempre soube que ela é o grande amor da sua vida, a aliança de vocês pendurada no seu pescoço sempre foi um lembrete diário da esposa que você queria de volta.

— Tá, mas acabou o meu casamento com ela.

— Não acabou. — Ela colocou a mão em seu peitoral desnudo. — Aqui, não acabou. Ela vai te perdoar por ter dito um filho com outra mulher e eu vou sobrar, chifruda, no meio dessa história. Sabe o que é pior? Eu não consigo ter raiva dela!

— Não fale besteira!

— Eu  vou pegar o Miguel e ir pra casa da minha mãe. — Confessou. — Eu não vou ficar aqui esperando você dar um pé na minha bunda!

— Nada disso, você não vai embora. — Segurou nos ombros dela. — Nós somos uma família, vou entrar com o divórcio. Também vou assinar a alta dela pra que a Branca a leve embora e a gente não tenha mais que conviver além das visitas da Maitê.

— Não foi você que disse que não ia entrar com o pedido de divórcio nunca? Eu não entendo qual a sua, Micael. Seus olhos brilham quando está perto dela, o clima é palpável. Você e Maitê apoiando ela na fisioterapia de tarde foi lindo. Eu sobrei e eu sobrei numa coisa que eu era a profissional, não precisavam de mim ali.

— Eu vou ser sincero com você. — Falou baixo. — Eu estou confuso.

— Dá pra ver de longe. — Se deitou nos travesseiros. — Mas está confuso e hesitando porque ela está com raiva. Sua confusão é não saber se quando terminar comigo ela vai querer ficar com você ou não. Porque se olhar pra você e disse que vai ficar, você termina comigo dez segundos depois. E eu não nasci pra ser tapa buraco de ninguém.

— Você não vai sair de casa. — Disse firme.

— Se eu quiser eu vou sim. — Respondeu no mesmo tom. — Vai fazer o quê? Me algemar no pé da cama?

— Tá bom, então você vai. — Deu de ombros. — Mas o Miguel você não leva.

— Você perdeu o juízo. — Se levantou irritada. — Deve estar muito louco pra achar que vai ficar com o meu filho.

— É tanto meu, quanto seu. — Respondeu baixo. — Se você quer ir embora, o problema é seu. — Ela estava incrédula. — Mas não é justo eu ser obrigado a ver o meu filho a cada quinze dias porque você está com ciúmes.

— Eu estou com ciúmes? — Perguntou alto. — Você só pode estar de brincadeira, você ama outra mulher e quer ficar com ela, vai me manter nessa casa pra quê?

— Não estou te mantendo aqui. — Deu de ombros. — Eu já disse, pode ir embora.

— Só que eu não vou deixar meu filho aqui. — Cruzou os braços. — Isso está fora de cogitação.

— Então não posso fazer nada. — Deu de ombros. — Deita aí.

— Pode me dizer o que você ganha com isso? — Ele suspirou. — Você não vai ficar com meu filho. Me diz, quando você finalmente conseguir se resolver com a Sophia, vai fazer o quê? Me chutar daqui com o meu filho?

— Quem está dizendo que vou me entender com ela é você. — Deu de ombros. — Eu falei que vou assinar a alta dela e despachar com a Branca.

— Você deve ser o homem mais idiota do mundo, Micael! — Rangeu de raiva. — Se você quer a Sophia, vai atrás dela. Eu estou te fazendo um favor ao querer ir embora!

— Pode deixar a Sophia no canto dela? — Ergueu uma sobrancelha. — Nossa família somos nós quatro.

— Aham, e você vai proibir a Maitê de ver a Sophia também? Falar pra ela que só de quinze em quinze dias?

— Quem sabe?! — Deu de ombros.

— Você está transformando todo o amor que eu sinto por você em ódio. Fica ciente. — Pegou o travesseiro, um lençol no armário e saiu. Foi dormir no sofá que tinha no quarto de Miguel.

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