Capítulo 30

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Micael entrou no quarto cheio com uma careta sem entender porque aquilo estava dessa forma. Tinha uma prancheta nas mãos, o estetoscópio no pescoço e uma caneta preta no bolso do jaleco.

— Está tendo festa nesse quarto? — Chamou atenção para si e observou os familiares ficarem em silêncio. — Esqueceram por algum momento que isso aqui é um hospital e não uma boate?

— Quer parar de ser chato? — Jorge rolou os olhos sem paciência pra chilique. — Sua mãe quis ver a Sophia, isso não é um absurdo.

— Não sei pra quê, continua chata igualzinha, não estava perdendo nada em não ver. — Alfinetou, mas a loira riu ao invés de ficar brava, como era de se esperar. — E você Maitê, quem foi que deixou você vir aqui hoje?

— Eu pedi a Nana pra me trazer. — Avisou mostrando a babá no canto da sala. — Eu estava com saudades da minha mãe.

— É, só que já são seis e meia, você tem que ir pra casa, tomar banho e fazer o seu dever de casa. — A menina fez uma careta. — Não era pra você ter cedido a isso, seu trabalho é levar as crianças da escola pra casa e vice-versa.

— Me desculpa, Micael. — A menina estava constrangida. — Eu não sabia que era um absurdo tão grande trazer a menina pra ver a mãe.

— Não é não. — Sophia quem respondeu a menina. — Fica tranquila, você fez bem.

— Você não pode falar a respeito disso, Sophia. — Os dois finalmente se encararam. — Sou eu que decido.

— A filha é minha também, você não decide mais nada sozinho em relação a ela desde que eu abri meus olhos. — Ainda tinha a menina agarrada a ela, gostando de ter alguém que desafiasse as ordens autoritárias do pai. — As coisas mudaram e não tem nada demais na minha filha querer me ver.

— Nana, leva a Maitê pra casa agora, por favor. — Ele falou ignorando a dito pela loira. — Isso não é horário de criança estar em hospital. — Buscou Tatiana com o olhar e viu Miguel junto dela. — Ótimo, até o Miguel está aqui.

— Ué, se eu, você, Natália e os avós dele estão aqui, você esperava que meu filho estivesse onde? — Tati respondeu num tom parecido com o de Sophia. — Não seja absurdo, você estragou um clima amigável e leve pra que, hein?

— Não estou entendendo o seu tom de voz. — Cruzou os braços pra mulher. — Ainda mais na frente de todo mundo, está com algum problema?!

— Muitos. — Foi só o que respondeu antes de abaixar a cabeça e ficar em silêncio, Sophia achou um absurdo aquilo.

— Meu assunto é com você. — Se virou pra Sophia, mas ouviu a voz fina de Miguel o chamando e ele virou para pegar o filho no colo. — Segura aqui pro papai. — Entregou a prancheta que ficou enorme nas mãos do menino e então assinou o papel com uma rúbrica mal feita. Tirou o carimbo do bolso e então marcou a folha. — Está despejada.

— Mas o quê? — A loira arregalou os olhos, sabia da possibilidade e ainda assim se surpreendeu. — Assim? Uma hora dessa? Você só pode estar de brincadeira.

— Você não queria tanto essa porcaria?! — Tirou a folha da prancheta e devolveu a criança com prancheta pra Tatiana. — Aqui está!

— Eu já tinha parado de pedir por isso, queria sair daqui andando. — Encarou o ex marido com ódio. — Você é ridículo.

— Sou, demais. E você não é problema meu. — Deu de ombros sem se importar. — Veste a sua roupinha e caça um rumo!

— Para de ser baixo, você quer que eu vá embora porque sabe que a casa da minha mãe é longe e não vou poder ver a minha filha, mas isso não vai acontecer Micael, já me foi tirado muitos anos da vida dela, você não vai tirar mais.

— Lidiane, dá pra fazer ela ficar sem falar de novo? — Pediu a irmã em tom de brincadeira, mas só irritou ainda mais a loira.

— Ah claro, já bateu o carro e me tirou da vida da da Maitê seis anos, enrolou meses até contar a ela que eu tinha acordado e agora está me mandando pra longe. — Micael abriu a boca em surpresa com as acusações e então olhou pra esposa.

— Foi você que disse essas merdas, não é? — Tinha um tom grosso que fez a mulher se encolher. — De manhã você disse isso e agora ela diz? Qual é o seu problema, Tatiana?

— Ela não disse nada, para de ser escroto. — Sophia ganhou a atenção dele novamente.

— Tá legal, eu acho que tem gente demais no meio de uma conversa que devia ser particular. — Jorge falou e recebeu o olhar de todos. — Vamos sair daqui porque eu não sou obrigado a ver essa briguinha de vocês e nem ninguém.

— Não tem briga nenhuma! — Micael respondeu o pai. — E nunca mais você repita que eu bati o carro de propósito, você estava lá, sabe que bateram na gente.

— Desde que eu acordei me parece que você só quer afastar a Maitê de mim.

— Você brigou comigo esses dias por conta que eu não queria te dar alta, aí agora eu dou e você surta de novo. Tá maluca?

— Eu não quero ficar a horas de distância da minha filha. Eu não posso sair sozinha pra ir visitar e eu tenho certeza que você não vai levar a garota pra me ver. — Continuaram o barraco.

— Levo sim, de quinze em quinze dias. — Piscou implicando com a loira.

— Mãe. — Sophia desviou o olhar de Micael pra Branca. — Preciso de um advogado. — Avisou surpreendendo todo mundo. — Aquela casa é metade minha, não é? Pois bem, eu quero a minha metade.

— Você está completamente maluca agora! — Ele quem arregalou os olhos dessa vez. — Você não vai morar na minha casa!

— Nossa casa. — Corrigiu. — Eu não sai de casa, eu sofri um acidente e quando acordo do coma você enfiou outra mulher dentro de casa. Eu tenho certeza que o juiz vai me dar razão.

— Foram sete anos, Sophia.

— E eu estava doente, não abandonei a casa, não separamos. Eu tenho meus direitos.

— Sophia!

— Micael! — Rebateu no mesmo tom. — E eu vou aproveitar pra dar entrada no divórcio e na guarda da Maitê também. E quando eu ganhar, você quem vai ver ela de quinze em quinze dias! — Terminou o discurso esbaforida, o deixando completamente em choque.

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