Capítulo 11

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Micael não parou nem pro almoço aquele dia e também não deixou que os técnicos parassem. Ele acompanhou Sophia pra todos os exames e aquele sorriso bobo de felicidade não saia do rosto. Enquanto Sophia terminava a última ressonância ele voltou ao quarto pra falar com Branca.

— Nervosa? — Ele comentou assim que entrou no quarto e viu a senhora roendo unhas enquanto via TV.

— Se você soubesse o quanto! — Ele deu risada. — E a minha filha?

— Está fazendo o último exame que eu pedi. — Comunicou. — Mas parece que os resultados estão todos normais, pelo que pude ver por alto.

— Ela vai ficar bem? — Perguntou esperançosa. — Bem de verdade, sem sequelas.

— É muito cedo pra dizer. — Suspirou. — Sophia passou seis anos inconstante, nós vamos ter que ensinar seu corpo a falar, a comer, a se mexer desde as coisas mais básicas como segurar uma caneta até às mais complexas, como andar. É um longo caminho, vai durar meses. E tem aquela lesão na coluna que não pudemos avaliar se tinha afetado, afinal, ela não respondia. Veremos agora, mas Branca, a Sophia está de volta, o que são meses de tratamento se não tínhamos nenhuma expectativa?!

— Eu não acredito! — Chorou e Micael a abraçou. — É um milagre!

— Literalmente é um milagre, sabe quais são as taxas de pacientes com o quadro dela que simplesmente acordam? — Branca fungou. — Eu vou acionar a Lidiane pra fazer toda a parte de fala e comida. Pedir a Tati que acione a equipe dela para tratamentos mais intensivos. Vai dar certo, agora você tem que confiar em mim e na minha equipe.

— Aí, Deus. A Tati... — Se afastou pra olhar pra Micael.

— Será que é cedo pra eu começar a me preocupar com a raiva que a Sophia vai sentir de mim por estar morando com outra mulher e ter um filho com ela? — Brincou e ouviu a risada da sogra.

— É bem cedo, afinal, ela ainda não fala pra poder xingar você. — Ele riu também.

— Não fala, mas entende. — Avisou. — Nesse primeiro momento, vamos evitar o choque de realidade sabe? Não diz a ela que estamos em 2022. Não fala sobre o Renato ou a Maitê. Essas coisas, você entende, né? Deixa o cérebro dela ir voltando bem devagar.

— Tudo bem. — Sorriu. — Isso é mole. — Foram interrompidos por uns enfermeiros trazendo a maca com Sophia. Ela foi colocada na cama e ainda de olhos abertos surpreendeu os dois. — Meu amor! — Branca correu pra perto da filha. — Isso tudo deve estar sendo uma loucura pra você.

— Soph, eu prometi que nada ia doer. — Ele chamou a atenção para si. — Mas eu menti. — Tirou da pequena maleta que tinha ali ao lado uma seringa. — Preciso de sangue. — Mostrou a ela e riu da ruguinha que apareceu no meio da testa, bem de leve. — Me desculpe por isso! — Higienizou o braço dela. — Mas olha a consideração, eu não chamei um enfermeiro, eu mesmo vou fazer, e você sabe como a mão do papai aqui é levinha pra achar veia, não sabe? — Brincou e riu quando viu a mulher piscar uma vez, higienizou o braço e coletou uma ampola de sangue. Logo colou um curativo. — Vou levar isso aqui pro laboratório e deixar você com a sua mãe. — Ela piscou de novo. — Branca?!

— Oi. — Ela se afastou um pouco e os dois ficaram de costas pra Sophia. — Fale.

— Eu vou levar isso pro laboratório e procurar a Tatiana pra conversar. — Branca assentiu. — Vou te pedir um favor, não comenta com a Maitê que a Sophia acordou.

— O quê? Por que não? — Disse um pouco alto. — É a mãe dela!

— Eu sei, eu só acho que devemos esperar a Sophia falar o básico antes de avisar a Maitê. Porque ela vai querer vir aqui e imagina o susto da Sophia ao ver a filha daquele tamanho?!

— Tá bem, você tem razão. — Branca assentiu. — Vou tentar esconder minha cara de felicidade quando eu ver a menina.

— Eu também, será que consigo? — Brincou e deu um beijo na testa da sogra. — Tchau, Sophia. — Se virou pra mulher pra se despedir. — Lê alguma coisa pra ela, vai fazer bem! — Recomendou e saiu do quarto.

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Após passar pelo laboratório e solicitar análise com máxima urgência e prioridade ele começou a procurar Tatiana pelo hospital, mas não a encontrava em lugar nenhum. Recebia felicitações dos funcionários do hospital onde quer que fosse, pelo visto a volta de Sophia para o mundo dos vivos era realmente a notícia. Puxou o celular do bolso e ligou pra mulher.

— Tati, onde você está? — Perguntou assim que ouviu que a ligação foi atendida. — Rodei esse hospital todo, não te encontro.

— Em casa, é aniversário do meu filho. — Respondeu seca. — Ou você já se esqueceu disso?

— Não esqueci de nada, te disse que ia sair daqui às três, estava te procurando pra irmos juntos. — Tirou o jaleco enquanto andava pelos corredores rumo a saída. — Podia ao menos ter dado tchau.

— Você sumiu. — Ela deu de ombros como se ele pudesse ver. — Não ia ficar correndo atrás de você pra simplesmente dar um tchau.

— Você está com raiva de mim? — Quando entrou no carro, transferiu a ligação pro painel. — É sério isso?

— Eu? É claro que não. — Se defendeu. — Eu ainda não sei dizer o que estou sentindo, mas num primeiro momento eu fiquei feliz por você e pela Branca.

— Podemos conversar sobre isso pessoalmente? Não é bem conversa pra se ter por ligação.

— Não hoje. — Ele rolou os olhos. — Eu realmente não quero que nada estrague a festa do meu filho.

— Vai achando que eu não estou reparando você dizendo "meu" ao invés de "nosso". — Brincou. — Não seja ciumenta, a mulher mal abriu os olhos.

— Nos vemos em casa. — Desligou a ligação e ele deu risada, agora estava realmente numa sinuca de bico. Tirou uma mão do volante e segurou a aliança no pescoço. Soltou um longo suspiro. Sua casa estava toda decorada com balões preto e vermelho. A festa do Mickey muito bem decorada por Tatiana estava ficando linda.

— Pai! — Maitê chegou perto e deu um abraço em Micael. — Achei que ia chegar mais cedo pra ajudar a gente a encher todos esses balões. Juro, eu não tenho mais ar nos pulmões e saliva na boca.

— Deixa de ser boba. — Deu risada. — É claro que tem! — Olhou em volta, viu a mãe e a irmã de Tatiana, Antônia e Lidiane também estavam ali. — Onde está a Tati e seu irmão?

— Ele começou a resmungar de sono, ela foi colocar o garoto pra dormir, pra não ficar chorando na hora da festa. — A filha contou.

— Tá certo então, eu vou ali falar com sua avó e já subo. — Deu um beijo na filha e se afastou. — Oi, mãe. — Deu um beijo na mãe. — Oi Lidi.

— Oi, e aí? Seu pai ligou pra mim e avisou! — Disse empolgada. — Estava agora mesmo comentando com a Lidiane.

— Só não deixa a Maitê ouvir! — Elas não entenderam nada. — Ainda tá cedo demais pra ela ver a Sophia, vou esperar um pouco pra conversar. — Olhou a irmã. — Você, amanhã cedo no hospital, já vai se virando pra ver como é que vai fazer a Sophia voltar a falar e comer.

— Muito abusado pro meu gosto. — Lidiane fez uma careta. 

— Presumindo que você é boa no que faz, se vira. — Disse sério, mas logo sorriu. — Ela precisa ficar bem.

— Olha a carinha dele de apaixonado, dona Antônia. — Implicou com o irmão. — Tatiana que lute, não dura dois dias quando a Sophia estiver bem.

— Para de falar besteira! — Ele riu, sabendo que era bem verdade. — Já parou pra imaginar o choque e a raiva inicial que ela vai ter de mim? Eu não quero nem ver quando essa merda feder.

— Ah, não é possível, ela passou seis anos desacordada. — Antônia defendeu o filho. — E poderia ficar muitos mais.

— Desde quando a Sophia é sensata quando está com ciúme? — Ele deu risada. — Nunca foi, sabemos disso!

— Isso aí é uma verdade. — Lidi deu risada junto com ele.

— Eu vou lá em cima falar com a Tati. Depois a gente se vê. — As mulheres concordaram e assentiram. Ele logo se despediu das duas e foi atrás de Tatiana.

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