Segunda Chance

Capítulo 38

— Agora você bagunçou ainda mais a minha cabeça. — Ele se afastou depois do beijo.

— Desculpe. — Disse com as bochechas rosadas. — Mas foi você que pediu.

— Eu sei. — Voltou a se sentar. — Vamos mudar de assunto? Eu vou assinar sua alta amanhã. — A surpreendeu. — Não surta não.

— Eu não vou surtar. — Respondeu quando se recuperou do baque. — Por que tão repentino?

— Não é repentino, já está aqui há mais de oito meses. Não quer ir pra casa?

— É lógico que eu quero, mas a casa da minha mãe é longe de tudo. Eu não quero outra fisioterapeuta, vai ficar muito difícil ver a Maitê...

— Sabe que eu não posso te manter internada só porque quer ver a sua filha e não pode, né? — Ergueu uma sobrancelha. — Se acontecer alguma emergência, vamos precisar do leito e você está ótima!

— Eu sei, você tem razão, mas devia ter avisado antes, pra minha mãe poder arrumar a casa.

— Eu conversei com a sua mãe, ela já está ciente. — Mais uma vez a loira ficou surpresa. — E a Maitê, eu tava pensando em deixar ela morar com vocês algum tempo.

— O que te aconteceu? — Disse em choque. — Você não está bem!

— Eu não tenho com quem deixar a Maitê pra passar a noite e a maioria dos meus plantões são noturnos, você sabe. Eu fiquei pensando em algumas soluções, mas não são muitas que me vem á mente.

— Deixar a Maitê comigo é uma delas? E a escola? E como é que eu vou levar pra escola?

— Soph, se você não se sente preparada, é só dizer, eu não vou te achar uma péssima mãe por não poder ficar com a Maitê agora. Super entendo, foi uma sugestão só.

— É claro que eu quero, mas mudar a menina de escola não vai fazer mal?

— Estamos no início do ano, eu só pensei que deixar ela com você seria muito melhor pra vocês duas do que eu deixar a menina vinte horas por dia com babás.

— Você acha que ela vai querer? — Mordeu o lábio ansiosa.

— Acho que ela vai estranhar a decisão, mas que vai aceitar de boa, ela quer conviver com você pra te conhecer melhor, essa é a oportunidade. Mas olha eu vou buscar ela todo final de semana.

— Mas você não fica em casa aos finais de semana. — Comentou dando risada.

— Vou tentar ver com meu pai algum esquema de folgar dois dias seguidos pra poder ficar com a Maitê e o Miguel. Senão vai ser impossível ver os dois.

— Você tem razão, vai ter que se organizar bem, não é uma tarefa fácil. — Jogou as pernas pra cima da cama de novo e se recostou nos travesseiros. — Você me deixou feliz de verdade pela primeira vez desde que acordei, Borges. Obrigada.

— Bom te ver feliz, depois de tudo que você passou, merece isso. E eu vou sempre torcer pela sua felicidade.

— Assim como eu torço pela sua. — Sorriram um para o outro. — Hoje eu fui andando até a sala de fisio.

— Sophia, isso é maravilhoso! — Ele bateu palmas realmente empolgado com aquela notícia. — Você evoluiu muito rápido. Tenho muito orgulho do que já conquistou.

— Estou tão empolgada, eu sinto que minha vida vai voltar logo logo ao normal, quando eu vou pra casa vou voltar a estudar pra renovar meu CRM. Imagina, nós dois tirando plantão juntos de novo?

— Não que a gente se visse muito pelos plantões turbulentos, não é? — Brincou e arrancou risada da loira. — Mas vai ser ótimo sentir que tudo é como antes.

— Nem tudo.

— É, nem tudo. — Se encararam sem sorrir por mais alguns instantes e um silêncio tomou conta. — Vou indo, Soph. Obrigado pela companhia.

— Até amanhã. — Forçou um sorriso e o observou sair. — Eu te amo. — Disse quando ele já não podia mais ouvir e levou as mãos aos lábios, sorrindo como uma adolescente.

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No dia seguinte o hospital estava em festa. Branca havia chegado com Maitê e as três aguardavam Micael chegar com o papel.

Sophia se olhou no espelho e sorriu, vestia um vestido soltinho, azul marinho sem estampa que sua mãe havia levado pra ela. Seus cabelos caiam escorridos até o meio das costas. Havia passado um batonzinho e apertado as bochechas para receber um rosado.

— Se você soubesse como é bom te ver de pé e com roupas normais! — Micael chegou ao quarto com um sorriso no rosto. — Está linda.

— Eu me sinto linda, chegou o dia que eu mais esperei!

— Pois bem, aqui está sua alta. — Lhe entregou o papel assinado e carimbado. — Mas sabe que se sentir qualquer coisa é pra me ligar, não sabe? A qualquer hora!

— Eu sei, fica tranquilo, vai dar tudo certo e tem um hospital perto de casa também. — Caminhou até ele com passos lentos e sem medo de cair, não sabia nem de onde havia adquirido aquela confiança. — Obrigada. — Ele abriu os braços e a recebeu num abraço forte, lhe deu um beijo no topo da cabeça e viu Maitê e Branca sorrindo aos dois.

— Desculpa atrapalhar. — Tatiana entrou no quarto e logo os dois ficaram extremamente constrangidos. — Mas o hospital parece que está em festa, soube que foi aqui que uma paciente teimosa ganhou alta! — Ela tinha um balão rosa nas mãos e se aproximou pra abraçar a amiga. — Saiba que você ganhou alta do hospital, mas a fisio continua! — Lhe estendeu o balão e fez com que a loira desse risada.

— Obrigada, Tati. Você sempre foi fantástica comigo, apesar de tudo. Pessoas como você tem um lugarzinho direto no céu reservado.

— Deixa de bobeira, o importante é te ver de pé, andando, falando! Tenho o contato de um amigo fisio que mora perto da casa da sua mãe, se quiser, posso de passar.

— Eu vou amar! Me dá sim! — Estendeu o cartãozinho e Branca se aproximou pra guardar na bolsa. — Seu pai não vem se despedir de mim?

— Meu pai é um homem ocupado demais. — Micael respondeu com um dar de ombros. — Mas certeza que ele queria estar aqui.

— Depois eu falo com ele então. — Se virou pra mãe e estendeu a mão. — Vamos?

Sophia saiu daquele quarto, abraçada a mãe e a filha. Andando, como sempre quis que fosse.
Ficou surpresa quando perto da saída do hospital havia um corredor de pessoas segurando rosas.

Eram enfermeiras, médicos, fisioterapeutas, técnicos dos laboratórios, do setor de ressonância. Pareciam que todos os funcionários do hospital estavam ali.

— Todo mundo quis te parabenizar pela alta. — Micael contou observando a ex esposa chorar. — Todo mundo que já cuidou de você neses anos, todo mundo que observou sua evolução nesses meses. Você é uma guerreira, parabéns!

— Vocês são incríveis, obrigada pela surpresa. Não tenho nem palavras pra agradecer o empenho de vocês ao cuidar de mim.

Ganhou um super abraço coletivo, até mesmo Jorge estava ali, contrariando a desculpa que Micael havia dado a ela. Sophia saiu do hospital aplaudida por todos.

Micael e Maitê acompanharam Branca e Sophia até o carro. Sophia de sentiu estranha ao entrar no veículo, muitas lembranças vieram em sua mente, mas não podia fugir daquilo pra sempre. Afivelou o cinto e deu tchau a Micael que estava abraçado com Maitê.

Agora uma nova etapa comecaria.