Capítulo 46

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— Apertem o cinto crianças! — Brincou após colocar o filho na cadeirinha e verificar o cinto de Maitê. — Eu vou ter que olhar o seu também? — Brincou com Sophia que virou os olhos pra ele, afivelando o cinto e então se ouviu o estalo de que estava preso. — Muito bem, conseguiu até que rápido. 

— Quer parar de ser besta? — Disse bem humorada. — Eu sei colocar um cinto de segurança, não vem passar sermão em mim na frente das crianças. 

— É a primeira vez que a gente entra num carro junto depois daquele acidente, é estranho. — Falou enquanto se encaravam, então colocou seu próprio cinto em silêncio. 

— Que isso, Micael? Tá com a mão tremendo? — Observou a mão dele balançar e logo após falar ele segurou firme no volante. — Ei, não precisa disso tudo. — Parecia a ponto de ter um ataque de pânico. 

— Eu acho que não vou conseguir dirigir. — Encostou a cabeça no banco e fechou os olhos, respirando fundo com a tentativa de se acalmar. 

— Ei, que isso! — Ela soltou o cinto, alarmada com a possível crise. — Micael! — Ele se manteve de olhos fechados. Sophia olhou pras crianças que estavam em silêncio, observando a situação. — Maitê abaixa o vidro e faz companhia pro seu irmão um instante. — Sai do carro, Micael! — Ordenou e ele nem se mexeu. — Sai do carro! 

A loira soltou o cinto dele, após mais uma vez ele não se mexer, em seguida saiu do carro e abriu a porta do motorista. Depois de um leve solavanco ele saiu do carro e fechou a porta. Caminharam um pouco pra longe do carro. 

— Me desculpe, mas eu não consigo fazer isso! — Tinha os olhos assustados ao encarar a loira à sua frente. — Não dá, eu lembro daquele dia e... — Ergueu as mãos mostrando a tremedeira. 

— Ei! — Levou as mãos ao rosto do moreno. — Não vai acontecer nada, eu vou colocar o cinto e vai tudo ficar bem. 

— E se não ficar? E se dessa vez eu bater? Se eu perder o controle e sair da pista? Se outro caminhão bater na gente? Pode acontecer tanta coisa! — Falou tudo tão rápido, sua respiração era ofegante. — Você não tem medo? 

— Se eu tiver medo, não saio de casa. — Avisou a ele com um sorriso. — É o primeiro aniversário da nossa filha que eu vou estar presente depois de tanto tempo, temos que aproveitar. 

— Eu não consigo, não posso perder você de novo! – E lágrimas escorreram de seus olhos, surpreendendo Sophia. — Mais seis anos, dez, vinte anos. Ou pior, se você nunca acordar dessa vez? Não, não, não, eu não quero nem cogitar a ideia de acontecer algo com você. 

— Não vai, Micael. Foi um acidente, uma fatalidade. Ninguém teve culpa do que aconteceu. Não significa que vai acontecer de novo. — Ela o abraçou forte. O ouvia soluçar, nunca imaginou ver Micael tão frágil daquela forma. — Você não vai me perder. 

— Eu já perdi você! — Disse ainda agarrado à ela. — Se acontecer de novo eu não sei o que sou capaz de fazer. Eu me mato, Sophia!

— Para de falar besteira. — Ela fez com que se afastasse e lhe deu um sorriso. — Alguém tem que cuidar da Maitê! — Assumiu um tom de brincadeira tentando descontrair e fazer com que ele parasse de chorar. — Da Maitê e do João Miguel. — Completou. — Que estão naquele carro, aguardando pra ter um dia super divertido com a gente. E aí? Vamos ficar aqui? 

— Me desculpe pelo surto. — Fungou e tentou secar o rosto. — É que... 

— Eu sei, meu bem. — Ela o abraçou novamente. — Vamos com responsabilidade, eu prometo que não tiro o cinto em nenhum momento e então vai dar tudo certo. Combinado? — Ela estendeu a mão e ainda com uma expressão assustada, ele entrelaçou os dedos nos de Sophia. 

— Obrigado. — Sorriu. — Vamos tentar de novo, daqui a pouco os dois começam a ficar agoniados de estarem dentro do carro. 

— Isso, vamos. — Caminharam pra perto do carro novamente e então colocaram os cintos. — Prende o cinto de novo Maitê. — Sophia mandou e a menina prontamente obecedeu. 

— Está tudo bem? — Perguntou olhando o pai pelo espelho. 

— Está sim, foi só um imprevisto, mas agora vai dar certo. — Respirou fundo e ligou o carro. Conseguiu sair e então logo pegou confiança.  

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— Mãe, nós vamos no kabum primeiro! — Maitê disse muito empolgada e Sophia a olhou assustada com aquela informação. — Olha lá! — Apontou pro brinquedo que estava no alto e em segundos abaixou até a base. 

— Maitê, eu não entro naquele troço nem sob tortura. — Avisou e a filha riu. — Seu pai! Você vai com seu pai e eu vou ficar aqui com Miguel enquanto vocês se divertem! 

— Mas que sem graça! — Cruzou os braços. — Veio pra tomar conta do Miguel, é? Você é babá dele? 

— Primeiro que eu não sou babá de ninguém e segundo que alguém precisa ficar com a criança, ele não pode ficar sozinho! 

— Mas ele tem pai! — Argumentou e arrancou uma risada da mãe. — Ele que fique com o pai dele. 

— O pai dele? — Micael protestou. — Maitê você está desdenhando de mim? Então eu vou embora com o meu filho e deixar você aí com a sua mãe, tá bom? 

— Tá com ciúmes, pai? — Maitê deu risada. — Eu te amo também, mas eu já fui em todos esses brinquedos com você, mas com a minha mãe não. 

— Você tem razão, a mamãe vai com você onde quiser. — Sophia amoleceu mesmo com medo, mas Micael negou com a cabeça. — Que foi hein?! 

— Não é uma boa ideia não, você ta se reabilitando, não é bom ir num brinquedo assim com certo impacto. 

— É serio que você vai dar uma de médico agora? — Maitê perguntou com os braços cruzados e um tom grosso que fez Micael lhe dar uma olhada séria. 

— Não é porque é seu aniversário que eu não vou brigar com você por usar esse tom comigo, mocinha. — Ela suspirou. — E eu estou falando sério, liga pra Tatiana e pergunta se ela deixa sua mãe entrar naquele brinquedo ali? – Apontou pra frente. — Ou então liga pro Danilo. — Falou pra Sophia agora.

— Liga pra tia Tati! — Maitê pediu e Sophia prendeu a risada. — Claro que ela vai deixar. Meu pai está sendo um estraga prazeres porque está com ciúmes da gente. Me empresta aqui o celular! — Pediu e Sophia lhe estendeu o aparelho e logo uma chamada de vídeo foi iniciada. — Tia! Eu preciso de ajuda! 

— Diga, meu amor! — Tatiana encontrou um ângulo neutro pra que a menina não soubesse onde ela estava. — Como está aí no parque? 

— Tia, meu pai não quer deixar a minha mãe ir no Kabum comigo, ele disse que ela não pode, mas minha mãe tá ótima. Pode brigar com ele e mandar parar de ser ciumento. — Sophia e Micael se encararam prendendo a risada com a expectativa da menina. 

— O que é Kabum mesmo? Mostra pra tia! — A menina virou a câmera e apontou pro brinquedo, certa que Tatiana ia ficar do seu lado. 

— Esse aqui!

— Maitê é lógico que não! — Tati disse alarmada. — Sua mãe ainda não pode entrar num troço desse, pelo amor! Ela nem pode ficar muito tempo em pé. 

— Eu não acredito nisso! — Virou a câmera pra ela novamente, tinha um bico imenso. — E a montanha russa? — Tatiana negou com a cabeça. — Bate bate? Labamba? Nada, tia?

— Nada que envolva bater, rodar forte, grandes velocidades! Vai com a sua mãe no minhocão! 

— Minhocão é brinquedo de bebê! — Protestou e o riso dos pais foi ouvido pela menina. — Tchau, tia! — Desligou após ouvir a despedida. — Nossa, você foi salva pelo gongo dona Sophia, mas pode saber que ano que vem, você vai em todos eles comigo! 

— Sim senhora! Mas agora você vai ter que se contentar com a mamãe olhando daqui de baixo. — Ela sorriu e deu um abraço em Sophia. — Ué, o que foi? 

— Você estar aqui já é muita coisa, mãe. — Disse ainda agarrada a cintura da loira. — Só isso já me deixa muito feliz!  

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