Capítulo 56

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— Filha? — Era sexta-feira à noite, Sophia tinha acabado de chegar em casa de um plantão diurno. Nana havia ido embora, a loira subia as escadas em direção ao quarto da menina. — Maitê? — Bateu na porta, mas não teve resposta. — MAITÊ! — Gritou e bateu mais forte, e então entrou.

— Ei, que invasão é essa no meu quarto? — A garota tirou os fones e se sentou encarando a mãe. — Bater é bom, sabia?

— Maitê, que tom é esse? — Estava com as mãos na cintura e a menina soltou um suspiro. — Eu bati diversas vezes, te gritei e você não ouviu. Pelo visto estava concentrada demais nesse iPhone. Pode me dizer com quem está falando?

— Com uma amiga que eu fiz, ela se chama Luíza. Muito gente boa, gosta de BTS também. Temos muito em comum, daí a gente fica papeando. Desculpa se não ouvi.

— Luíza, de onde? — Ergueu uma sobrancelha.

— Espírito Santo. Ela mora com os pais, tem onze anos. Tem um irmão mais novo e um gato, que se chama Robert. Não mandei foto e nem disse nada comprometedor, pode ficar tranquila.

— Eu tô de olho em você hein garota, eu e seu pai já falamos dos riscos que tem na internet, muita gente ruim se esconde atrás do perfil de garotinhas.

— Eu sei mãe, eu, você e meu pai tivemos essa conversa muitas vezes desde que ganhei meu telefone. Fica tranquila.

— Não ficarei e depois quero dar uma olhada no perfil dessa garota. — Maitê assentiu e observou a mãe se sentar junto dela na cama. — Mas agora, preciso que ligue pro seu pai e diga que quer almoçar com ele amanhã.

— Eu quero? — Franziu a testa. — Não sei se quero.

— Amanhã é aniversário do seu pai, você esqueceu?

— Completamente! — Levou as mãos à boca surpresa de ter esquecido aquela data. — Eu tenho sido uma filha muito relapsa, coitado do meu pai.

— É, você não tem o visto muito, ele tem ficado muito sozinho no apartamento. Não que eu ligue, isso é karma por ter me infernizado.

— Aham, sei bem. — A menina olhou pra mãe segurando uma risada. — Por que você quer que eu chame meu pai pra um almoço? Você mesma pode chamar!

— Não posso não, nós não somos amiguinhos. — Falou um tanto envergonhada e Maitê deu risada. — Liga aí, ele tá em casa agora, pelo menos eu espero que sim.

— Ele deve estar com a nova namorada dele. — Maitê disse pra implicar com a mãe e viu a mesma arregalar os olhos. Prendeu a risada mais uma vez enquanto observava Sophia tentar controlar as caretas.

— Que namorada? A última vez que eu falei com seu pai foi na terça-feira e ele não tinha namorada nenhuma!

— Ops, acho que falei demais. — Deixou a risada sapeca escapulir. — Vou ligar!

— Você está me zoando? Maitê, Deus castiga criança que implica com a própria mãe! — Brincou e fez cosquinhas na menina, que se encolheu dando gargalhada. — Liga. — Sophia pediu quando soltou a menina e a viu procurar o contato escrito "papis".

— Oi, meu amor! — A chamada estava no viva voz. — Faz 84 anos que não recebo uma ligação sua, está tudo bem?

— Está, é que eu lembrei do seu aniversário, queria almoçar contigo. — Convidou com um ar de menina meiga. — O que acha?

— Eu, você e quem? Miguel? Sua mãe? Tatiana? — Maitê olhou pra mãe em busca de resposta e a viu negar com a cabeça repetidamente.

— Não querendo excluir o meu irmão, mas queria algo pai e filha. — O ouviu dar risada. — Faz tempo que isso não acontece, você pode usar o que restar das horas do dia pra ficar com ele depois, quem sabe um jantar pai e filho?

— Tudo bem, gostei da ideia, você anda distante demais do seu velho pai. — E foi a vez dela dar risada. — Te busco que horas? — Maitê olhou pra mãe de novo e a viu fazer que não mais uma vez. — Vou estar no hospital de dia, aí paro pra ir almoçar com você.

— Eu vou de carona com a minha mãe. — Sophia tinha comprado um carro na primeira oportunidade que teve. — Não precisa se preocupar.

— Está armando o quê? Não tem sentido fazer a sua mãe vir até o hospital fora do horário dela sendo que posso ir te buscar.

— Você está muito desconfiado, papai. — Ele ficou ainda mais desconfiado, sabia que a menina só o chamava assim quando queria algo. — Até amanhã, viu? Te amo! — Não esperou resposta do pai e encerrou a ligação. — E então?

— Você foi maravilhosa, obrigada.

— O que está planejando, mãe? Por um acaso vai namorar meu pai? — Perguntou esperançosa. — Depois de tanto tempo eu não tinha nem esperança mais.

— Seu pai não tava namorando? — Já estava de pé pra sair do quarto, cruzou os braços observando mais risadas da menina.

— Você sabe que eu estava brincando. Eu sei que você vai dizer que eu sou muito nova pra saber disso, que não é assunto de crianças. Só quero dizer que amaria ver vocês dois juntos, ter uma família de verdade, espero por isso desde que realmente comecei a entender as coisas.

— Eu sei, meu amor. — Se aproximou e lhe deu um beijo. — Ainda tô pensando bem no que fazer, pode ficar tranquila. — A menina assentiu e viu a mãe sair do quarto, esperançosa.

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Na manhã seguinte as duas estavam arrumadas e a caminho do hospital. Sophia estava super arrumada e a pequena Maitê já tinha enchido a bola da mãe com muitos elogios.

Conversaram animadamente durante o caminho que não era muito longo. O problema foi que quando estavam chegando, todo um déjàvu passou pela mente de Sophia ao sentir um impacto no carro. Sentiu o atrito com o cinto e logo o airbag aberto.

Um carro 4x4 havia batido em sua traseira, a força do impacto fez com que seu carro saísse da pista e batesse o lado do motorista num poste.

Maitê sacolejou, mas permaneceu acordada a todo tempo. Felizmente do seu lado nada havia acontecido, mas estava em pânico ao olhar a mãe com a testa sangrando.

— MAMÃE! — Gritou desesperada só de imaginar tudo de novo. — Você está bem?

— Você consegue descer do carro? Está livre? Tinha a voz fraca e viu a menina assentir. — Corre até o hospital e pede ajuda.

— Você vai ficar bem? Não vai dormir de novo né? — Sophia sorriu.

— Prometo te esperar de olhos abertos. — A menina soltou o cinto e saiu correndo, sem olhar pra trás, não queria ver o estado do carro, não queria ver sua mãe ali.

Pediu ajuda na recepção, e logo os socorristas saíram pra atender o chamado. Felizmente Sophia não estava presa as ferragens e estava acordada. Eles lhe colocaram o colar cervical e em seguida a tiraram de dentro do veículo amassado.

Não tinham deixado Maitê voltar pro local do acidente, a menina foi levada para atendimento médico, precisavam se certificar que estava bem.

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— MICAEL! — Tatiana vinha gritando pelos corredores, completamente fora de si. — MICAEL!

— Vai tirar o pai da forca? — Ele deu risada, mas reparou seu rosto sério. — O que foi, Tatiana? Hoje é meu aniversário, não quero problemas.

— Você não ouviu a sirene de emergência? — Ele deu de ombros sem se importar.

— Eu ouvi, mas eu não estou de plantão no pronto socorro hoje, se não percebeu. Luiz que está, eu tenho consultas agendadas.

— A Maitê e a Sophia...

— Já chegaram? — Interrompeu, olhando pro relógio do pulso. — Minha nossa, eu esqueci completamente do almoço que marquei com a Maitê.

— Deixa eu falar, cacete! — Se irritou e o viu ficar em silêncio. — O alerta de emergência foi pra Sophia e Maitê. — Aquela notícia levou alguns segundos para ser absorvida por ele.

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