Capítulo 24

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— Será que você pode explicar que cenina ridícula foi aquela?! — Jorge perguntou ao filho, após terem saído do quarto de Sophia. — Aquela briga besta por causa de um chocolate?!

— Ela não pode que comer besteiras. — Respondeu emburrado.

— A mulher saiu de um coma de seis anos, ela tem que viver, ser feliz, beijar na boca e curtir a vida. Infelizmente, ela não consegue fazer nada disso presa dentro desse hospital, então eu acho que um chocolate pra adoçar a vida dela não é nada demais.

— Beijar na boca? — Disse ainda mais irritado. — Dá um tempo.

— Ué, você tem a Tatiana, Micael. — Jorge disse com um sorriso. — Você tem uma família com ela. Sophia vai ter que seguir a vida em algum momento.

— Por que você está falando disso?

— Porque eu gosto da Tati e você a está magoando. Ou você acha que ela gosta de ficar presenciando ceninhas suas com a Sophia. E sem falar na Sophia, que não pode e não deve se estressar do jeito que você a estressa.

— E aí você resolveu falar comigo sobre quem a Sophia vai beijar?

— Filho, vamos conversar sério agora. — Jorge puxou uma cadeira. — Você vai ter que escolher uma das duas, sabe disso, não é? E sabe que quando fizer, a outra vai ficar livre pra fazer o que quiser?!

— A Sophia me pediu o divórcio essa madrugada. — Contou ao pai. — Eu não sei o que pensar, o que fazer... — Suspirou. — Ela disse que nossa família acabou no dia do acidente e eu devia ficar com a Tatiana.

— E você?

— Eu dei a ela minha aliança, disse que a amava e sai do quarto pra atender uma emergência. — Se sentou com as mãos no rosto. — Eu tinha aceitado bem, aí hoje trouxe a Maitê pra ver a mãe. Foi tão lindo, tão incrível, tão mágico ver as duas juntas na fisioterapia, o jeito que eu e Maite a apoiamos e fizemos ela ter coragem de andar. Eu quero a minha família de volta, não quero aceitar que acabou.

— E você acha mesmo que brigar com ela por causa de um chocolate é maneira de conseguir a Sophia de volta?

— Eu acho que ela não vai me aceitar de volta. — Suspirou. — Ela tá escondendo e fazendo parecer que está tudo bem, mas ela me odeia por ter ficado com outra mulher e ter tido um filho.

— Sabíamos que isso ia acontecer.

— Me diz o que eu faço? Eu termino com a Tati e corro atrás da Sophia? E se eu fizer isso e perder as duas?

— A única coisa que eu tenho certeza é: Você não pode ter as duas. — Resmungou. — Vai ter que escolher e vai ter que aceitar uma delas com outras pessoas. Agora me diz, qual das duas você não suportaria ver com outro homem?

— A Sophia, sem dúvida nenhuma. — Respondeu sem pestanejar. — Mas ela não quer ficar comigo, como é que eu vou terminar com a Tati por algo que nem sei mais se vale a pena?!

— E como é que a Sophia vai saber que pode confiar em você de novo, que você a ama se você todo dia dormir com outra mulher? — Jorge cruzou os braços. — Ou você arrisca, ou você supera. Não tem um meio termo.

— Você anda cruel, hein?! — Engueu a cabeça pra encarar o pai. — Eu acho que tenho um tempo antes dela inventar de ficar com outra pessoa.

— Você está mantendo a Sophia aqui porque não quer ver ela seguir a vida? — Micael fez uma careta pro pai e logo ficou de pé.

— Só de você cogitar uma coisa dessa me ofende. — Jorge manteve o olhar sério sobre ele. — Pai, fala sério, você está falando da minha conduta médica. Ela está anêmica.

— A anemia dela já foi grave, hoje em dia não é, nós sabemos que dá pra tratar em casa. — Viu o filho suspirar. — Você pode até não perceber, mas está a mantendo no hospital atoa.

— Eu só quero que ela vá bem pra casa. — Resmungou. — Eu fico preocupado.

— Eu entendo, mas filho, ela deve estar louca pra ir pra casa, Branca não vê a casa dela há anos.

— Ok, amanhã eu faço outro exame e libero ela se tiver tudo bem. — Suspirou.

— Libera sim, aproveita e vai no cartório dar entrada no divórcio.

— Até parece que eu vou fazer isso. — Resmungou. — Nem morto.

— Ela precisa viver a vida dela longe de alguém que briga se comer um chocolate. — Micael bufou. — Não fica bravinho, você foi um idiota.

— Vou ser ainda mais, porque vou lá buscar a minha filha e levar embora. — Disse irritado. — Ela quer o divórcio, não quer? Então vai ter que aprender a ficar com a filha dela só quando eu deixar.

— É sério que você vai ser um crianção a esse ponto? — Jorge deu risada. — A menina é filha dos dois.

— Ué, ela tem que ver que vai ser bem pior sem mim.

— Muito maduro, vai lá. — Apontou pra porta. — Tomara que quando ela ficar boa pegue a guarda da Maitê de você e te deixe ver a menina só de quinze em quinze.

— Ela não vai conseguir isso.

— Tenta a sorte. — Se manteve apontando. — Vai convencer bastante ela do seu amor indo lá e arrancando a filha que ela não vê a quase sete anos.

— Ah, dá um tempo, pai. — Saiu da sala do pai pisando forte.

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— Maitê, será que dá pra esperar?? — Ele correu atrás da filha pelo corredor. Funcionários os olhavam e davam risadas. — Você está fazendo eu passar vergonha no meu local de trabalho.

— Não ligo. — Continuou andando até que ele a alcançou e puxou pelo braço. — Aí, você me machucou!

— Vou machucar ainda mais se você continuar de graça. — Ameaçou e a menina ficou em silêncio. — Você nunca foi assim, agora vai ser?

— Você está sendo injusto comigo. — Disse sem papas na língua. — Eu nem conheço a minha mãe, eu não tenho nenhuma memória com ela sem que seja nesse hospital com ela em coma. E agora, que eu finalmente posso ser uma garota normal com pai e mãe você de birra me tira de perto dela a troco de nada?

— Não ter pai ou mãe não faz de você anormal. — Rolou os olhos. — É uma condição bem comum até.

— Você está com raiva dela porque ela não abaixa a orelha pro que você fala e porque ela não quer ficar com você. — Acusou. — Eu não tenho nada a ver com isso e quero poder conviver e conhecer a minha mãe!

— Você está muito saidinha, Maitê. — Não tinha nem o que dizer, sabia que a menina estava certa.

— O que custa você deixar eu ir embora com a Tatiana? — Cruzou os braços e o encarou como se fosse uma adulta. — Hein? Isso é pirraça sua e você já está velho pra fazer uma coisa dessa!

— Maitê, você pode deixar de ser desrespeitosa? — Pediu baixo. — Poxa vida, viu sua mãe meia hora e já tá mais parecida com ela do que nunca.

— Pai, por favor. — Juntou as mãos implorando. — Deixa eu ficar e ir embora com a Tati. — Micael soltou um longo suspiro. — Eu paro até de te responder. — Ele parou e lembrou de Sophia falando com a menina para que o respeitasse e como já estava mais amolecido do que nunca, apenas assentiu. — É sério?! — Disse com um sorrisão.

— É. — Parecia desanimado. — Eu vou no consultório e já vou embora. Avisa a Tati que é pra te levar. — A menina assentiu muitas vezes e abraçou o pai. — Quanto amor!

— As vezes eu te amo mesmo. — E a menina saiu correndo de volta pro quarto da mãe. — Até mais tarde!

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