Capítulo 31

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— Você ficou doida de vez. Isso nunca vai acontecer. — Trincou o maxilar. — Natália leva logo a Maitê e o Miguel pra casa, por gentileza. — A menina agarrou mais a mãe. — Maitê, isso aqui não é um ambiente pra você.

— Ver a minha mãe brigando por mim é um ambiente pra mim sim!

— É isso então? Você está achando bonito? Quer ir morar com a sua mãe e me ver de quinze em quinze dias? Tem certeza?!

— Eu não quero ver nenhum dos dois de quinze em quinze dias. Eu amo vocês, seria ótimo se chegássemos a um consenso sem essa briga toda.

— Não existe consenso com seu pai, ele é uma mula de tão teimoso.

— Igualzinho a você. — Rebateu e os dois ficaram em silêncio.

— Filha, dá uma licencinha aqui. — Observou a menina se afastar e ajeitou as pernas pra ficar de pé. Tatiana olhou alarmada e logo se aproximou pra intervir.

— Sophia, fica deitada que é melhor, você está nervosa, não é o ideal. — A loira não deu ideia a fisioterapeuta e então ficou de pé, frente a Micael.

— Eu quero falar de pé, eu não estou doente, eu já consigo pensar direito e logo logo, Micael, tenho certeza que vou ganhar a causa.

— É, tenho certeza que algum juiz no mundo vai dar a guarda de uma criança de dez anos a uma mãe que nem consegue dar cinco passos. — Debochou. — Para de atrapalhar a minha vida, Sophia, tudo era perfeito antes de você abrir o olho.

Micael disse a última frase num tom mais alto que o normal. Antônia tinha a mão no peito, odiando ver aquela discussão, Natália puxou Maitê pela mão, afim de afastar um pouco do impasse dos pais, não era saudável pra ela presenciar aquilo.

— Eu odeio essa pessoa que você se tornou. — Sophia disse baixo e viu no olhar dele o quanto odiou ouvir aquilo. E então a loira bambeou. — Micael, eu tô enxergando pontos pretos. — Relatou em desespero tentando subir na cama novamente.

— Como assim? — Sua expressão mudou automaticamente pra preocupação e sua testa franziu. Enfiou a mão no outro bolso da calça e puxou sua amiga lanterna, em seguida encurtou a distância entre os dois, passou uma mão pela nuca e acendeu a luz em sua vista, vendo as pupilas dilatadas. — Muitos pontos ou poucos pontos?

— Eu tô sentindo minhas pernas bambearem. — Avisou ainda sem conseguir subir na cama. — Eu vou... — E a mulher apagou sem conseguir terminar a frase.

Micael largou a lanterna e a segurou antes que caísse no chão. Colocou deitada na cama e deu leves tapinhas em seu rosto.

— Não, não, não! Ei, não faz isso comigo! — Estava desesperado, assim como todo mundo naquele quarto. — Eu menti, tá legal, não leva a sério o que eu disse.

— Mãe! — Maitê se aproximou da cama onde a mãe estava desacordada, tinha lágrimas nos olhos. — O que você fez com a minha mãe??? — gritou com Micael. — Ela estava ótima! É tudo culpa sua! EU ODEIO VOCÊ!

— Natália, leva de uma vez a Maitê daqui. — Ele deu a ordem final e a babá levou a menina e Miguel dali.

— Ela não vai voltar pro coma, né? — Branca estava abraçada a Antônia, chorando só de imaginar.

— Eu nunca vi isso acontecer, não vai ser com ela que vai. — Disse ainda avaliando os sinais vitais da loira. — Não é, Sophia? Você vai ficar aqui pra me infernizar a vida, tenho certeza. — Pediu a ela com a voz embargada. — Acorda, por favor!

— Acho melhor esvaziamos esse quarto! — Tatiana disse apreensiva e Jorge a apoiou.

— Eu não vou sair de perto da minha filha! — Branca falou aos dois e então desviou atenção pra Micael solicitando uma maca e um enfermeiro para ajudar a levar Sophia até o equipamento de ressonância. — Micael...

— Calma, Branca. — Se sentia extremamente culpado. — Vai dar tudo certo, confia em mim.

— Como é que eu vou confiar em você se acabou de dizer que não queria que ela acordasse do coma?! — Branca tinha um tom agressivo que ele nunca tinha ouvido. — Quando ela acordar, eu vou levar pra outro hospital!

— Eu falei isso na hora da raiva, todo mundo sabe que é mentira! — Ele levantou o olhar pros presentes e reparou que ninguém acreditava nele. — Vocês estão achando que eu falei sério?

— Pareceu muito sério! — Jorge comentou baixo.

— Não era! Eu sofri muito todos esses anos com ela em coma e não é justo que todo mundo deixe de acreditar em mim por uma frase dita no meio de uma discussão idiota! Eu amo a Sophia, vivermos em guerra agora não muda isso! — Ele não prestou atenção ao que disse pro pai, e depois que falou, se lembrou de Tatiana no quarto.  — Tati, eu...

A mulher ergueu as mãos e saiu do quarto muda, claramente chateada, mas nem um pouco surpresa com a revelação. Micael balançou a cabeça e foi erguer as pernas de Sophia, numa tentativa de fazer o sangue circular melhor e fazê-la acordar.

— Quando esse inferno vai acabar?! — Falou sozinho, mas ouviu resposta da mãe.

— Quando você escolher uma das duas.

— Se você não percebeu, a essa altura nenhuma das duas quer ficar comigo, mãe. — Observou Sophia se mexer e abaixou as pernas dela devagar, fez carinho nos cabelos. — Ei, como está se sentindo?!

— Um pouco confusa, o que aconteceu?! — Piscou algumas vezes, tinha ficado menos de cinco minutos apagada apenas.

— Aparentemente você desmaiou. — Avisou com uma voz paciente. — Vou levar você pra uns exames, precisamos descobrir a causa desse desmaio, tá bem?

— Eu não aguento mais exames, promete não me furar? — Pediu manhosa, surpreendentemente grogue e ele sorriu. — Por favor?

— Exames de imagem, prometo não te furar. — Segurou na mão dela, nem parecia que há cinco minutos estavam a ponto de se matarem. A equipe de Micael chegou e eles saíram pra fazer o exame solicitado.

— Tenho pena da Tatiana. — Lidiane comentou com os pais e Branca. — Ela é tão gentil e doce, não devia ter se enrolado com meu irmão.

— Eles fizeram bem um pro outro, Lidi. — Antônia disse com um dar de ombros. — Ninguém pode fazer nada se o amor dele pela Sophia é incontestável.

— Essa relação de gato e rato deles é desgastante. — Branca disse ainda secando as lágrimas que tinham restado. — Minha filha não está em condições desse bate-boca.

— Nós sabemos e agora ele sabe também, eu duvido que se repita. — Jorge também abraçou Branca. — Vamos tomar um cafezinho e aguardar o resultado dos exames.

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