Capítulo 73

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Sophia e Micael tomaram um banho rápido e logo apagaram, estavam tão exaustos que nem tiveram malícia. Quando acordaram, já eram mais de duas da tarde, Sophia levantou primeiro e foi ajeitar algo para que os dois almoçassem. Maitê já tinha ido pra escola com a Nana e eles nem viram.

A loira remexeu nas panelas e arranjou algo rápido, Micael sem camisa e de shortinho apareceu ali, coçando os olhos e com a cara amassada.

— Preciso dormir mais três dias. — Avisou e Sophia deu risada enquanto botava comida no prato. — Te juro, parece que um trator passou em cima de mim.

— Essa plantão foi puxado mesmo. — A loira colocou o prato diante dele. — Come, você precisa de forças. — Pôs sua comida e então se sentou também. — Está planejando voltar ao hospital que horas?

— Vou só comer e ir. Se nós estamos cansados, Tatiana deve estar morta. — Suspirou. — Espero que ela aceite ir embora descansar de boa.

— Acho que eu vou com você, assim eu posso incentivar ela a ir embora. — Micael olhou sem entender. — Ajudar, levar em casa, fazer uma comida, não sei. Ela não deve ter ânimo pra nada!

— E a Maitê? — Franziu a testa. — Daqui a pouco chega da escola e não vai nos ver de novo, vai ficar chateada.

— Eu vou ligar pra ela e avisar, pedir que a Nana a leve pro seu apartamento. Ou então eu trago a Tati pra cá.

— Você é incrível. — Sorriu e então voltou a comer. O toque do celular de Micael quebrou o silêncio e ele atendeu rápido. — Está tudo bem, Tati?

— Miguel teve outra parada cardíaca. — Avisou em completo desespero. — O computador que media o coração dele parou Micael! Linha reta! Nosso filho morreu!

— TATIANA O QUE VOCÊ ESTÁ DIZENDO? — Ele ficou de pé com olhos arregalados e falou alto, deu um susto em Sophia. — Os médicos estão no seu atestaram óbito ou estão aí ainda?

— Me expulsaram do quarto, estão todos lá, mas eu vi, a linha reta no computador, começou a apitar!

— Bebe uma água, estou indo aí. — Desligou a ligação e encarou a namorada. — Miguel teve outra parada, os médicos estão tentando reanimá-lo. Tatiana tá histérica.

— Mas que inferno!!! — Praguejou. — E passando por isso sozinha, vamos logo pra lá.

— Sophia, você acha que uma queda do sofá realmente pode ter causado isso tudo? — Ele perguntou baixinho, olhando a esposa. — Eu estive pensando e se isso for um reação tardia a tudo o que a Neide fez com ele?

— Bom, ele disse que ela o empurrou, basta saber, empurrou de onde?! Porque tipo, moram em apartamento, uma queda seria facilmente ouvida pelos vizinhos debaixo.

— E se não foi lá? E se foi fora do apartamento, como por exemplo nas escadas de emergência do prédio que não tem ninguém vendo e nem câmeras?

— Você acha que ela empurrou o menino escada abaixo? — Sophia levou as mãos a boca horrorizada com tamanha crueldade. — Que loucura é essa? Que mundo estamos vivendo?

— Eu acho que aconteceu algo muito sério pra ele ter um traumatismo dessa forma. A nível do seu e você foi arremessada pra fora do carro, me entende? Se ela tiver empurrado o menino na escada, parece compatível com o tipo de lesão que ele tem. Se isso tudo for confirmado, eu vou matar essa mulher, te juro. — Ameaçou e Sophia se aproximou dele, colocando as mãos em seu rosto. — Ele é só uma criança indefesa, como alguém tem coragem de fazer uma atrocidade dessa? 

— Meu amor, no momento, não precisamos achar o culpado, vamos nos preocupar com o Miguel e então quando ele estiver bem a gente vai atrás dessa mulher. Pode ser? — Ele balançou a cabeça positivamente, ainda olhando nos olhos da namorada. Sophia conseguia perceber o quão mal estava mesmo que se esforçasse muito pra ser forte. — Amo você, vamos trocar de roupa. 

E assim novamente os dois foram para o hospital, no carro, Sophia ligou pra Natália e pediu a babá que levasse Maitê para o apartamento de Micael depois da escola. O clima no carro era tenso, Micael estava perdido em pensamentos e não falava nenhuma palavra. 

Quando chegaram, encontraram Jorge no meio do corredor conversando com Tatiana, perto da ala da UTI. 

— Como é que o meu neto da entrada na UTI e você não me faz uma ligação? — Jorge perguntou bravo. — Quando uma coisa assim acontece você pega o telefone e liga. 

— Quando uma coisa assim acontece primeiro eu cuido do meu filho e depois eu aviso aos parentes. Não surta pai, eu não estou nem com cabeça pra aturar surto uma hora dessa! — Respondeu com um tom tão grosseiro que Jorge nem soube o que dizer a ele. — E então, Tatiana? 

— Trouxeram ele de volta. — Tatiana contou baixo e todo mundo percebeu Micael soltar um suspiro aliviado. — Está dormindo, sedado. 

— Vai pra casa, Tatiana. — Ele disse com uma voz mais bem mais calma. — Você precisa dormir. 

— Como é que eu vou dormir sabendo que meu filho a qualquer momento pode... — Não completou, não queria mais falar aquilo. — Eu preciso estar aqui. 

— Tem que cuidar de você também. Precisa tomar um banho, comer alguma coisa, vestir uma roupa. Eu vou ficar aqui com ele e te prometo que vou ligar a qualquer suspiro que ele der. Confia em mim! — Se aproximou e segurou em sua mão, mais uma vez Sophia se sentiu incrivelmente desconfortável com aquela aproximação e desviou o olhar. — Tira algumas horinhas pra cuidar de você. 

A mulher sorriu, se aproveitando do pequeno contato que tinham com suas mãos dadas. Seus olhos brilhavam ao olhar Micael ali, todo preocupado com ela e então Sophia conseguiu perceber, ela o amava. Não importa se eram amigas,  se tinham terminado antes mesmo de que ela ficasse com Micael, o amor que ela dizia não sentir mais, estava ali. 

— Vamos, Tatiana. — Sophia chamou se fazendo notar e os dois olharam pra ela. — Eu levo você em casa, acho que não tem condições de dirigir. — Micael soltou a mão da mulher e enfiou a mão no bolso, erguendo a chave de seu carro. 

— Eu posso pegar um táxi, não tem problema. — Disse com um tom simpático. — Você não precisa se incomodar. 

— Não vou deixar você entrar num táxi desse jeito! — Se aproximou e pegou a chave de Micael, lhe deu um selinho, um beijo em Jorge e saiu dali rebocando Tatiana. Por mais que tivesse ciúmes, sabia o quão solitária ela era, não podia deixar que ficasse sozinha num momento tão difícil. 

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