Capítulo 28

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— Tati, me responde, somos amigas?

— Você me considera uma amiga? — Ela encarou Sophia surpresa. — Mesmo eu morando com o seu marido?

— Ele não é mais meu marido. — Respondeu seca. — Já foi um dia e isso não me impede de gostar de você.

— Mas quando eu fiquei com ele, ainda era. — Franziu a testa.

— Eu gosto de você, de verdade. — Soltou um suspiro pesado, escolhendo o que diria. — Desde o primeiro momento que você se apresentou. Lá no começo onde eu não conseguia fazer nada além de piscar, eu simpatizei com você.

— É que eu não tenho muitas amigas.

— Por causa que o Micael não deixa? — Sophia perguntou com uma careta. — Tatiana, isso não é saudável.

— Por causa da profissão, eu sempre tive mais amigos homens do que mulheres, ele tinha ciúmes e eu acabei me afastando. Sobrou o Kaique, mas ele não é bem um amigo, sabe?

— Sei, e você é uma boba de sequer permitir que chegasse a esse ponto. — Deu batidinhas na cama pra mulher se sentar perto. — Não é saudável. — Repetiu.

— Eu não devo desabafar com você sobre o Micael. É um pouco demais. — Disse envergonhada. — E eu não tenho com quem falar, minha mãe nunca foi a favor de eu ir morar com ele. Sempre me dizia que você ia acordar e eu ia acabar sozinha com um filho pra criar.

— Somos amigas, você pode falar comigo sobre o que quiser. — Deu de ombros. — Vamos tentar esquecer por algum instante que ele foi meu marido?

— Tem certeza que quer ouvir? — Ela fez que sim com a cabeça. — Vai guardar pra você? Não quero que use quando estiver discutindo com ele.

— Confia em mim. — Tentou encorajar. — Faz de conta que eu sou sua psicóloga.

— Eu me apaixonei pelo Micael no primeiro encontro. — Sorriu com a lembrança. — Eu achava muito fofo o jeito como ele se sentia culpado por sair comigo. Passamos boa parte do primeiro jantar falando de você.

— Que romântico, hein?! — Sophia deu risada, 

— Foi uma experiência diferente. — Deu de ombros. — Eu acompanhava ele sofrendo na beira essa cama todo dia, eu nem sequer imaginava sair com ele, pelo menos até a sua mãe empurrar e forçar essa saída. — Fez uma careta, Sophia se mantinha bem humorada. — Ele fugiu da minha casa na ponta do pé, de manhã. Aí eu vim pra cá e quando eu cheguei, ele estava aí. — Apontou pra poltrona de Branca. — Se confessando pra você e pedindo perdão.

— Micael é ridículo. — Rolou os olhos.

— Aí, eu achei incrivelmente fofo. — Deu risada. — Me apaixonei.

— Você se apaixonou por um cara que no primeiro encontro só falava da esposa em coma. — Deu risada. — Você é mais estranha que ele, Tati.

— Pois é, sou mesmo. — Suspirou. — No segundo encontro ele chegou lá em casa direto com uma caixa de Ferrero Rocher. Achei lindo e achava até alguns dias atrás quando Jorge revelou aqui que são seus chocolates favoritos.

— São sim. — Disse sem graça.

— Sem perceber, eu fui ficando envolvida e eu sabia que ele não. — Sophia a olhava com atenção. — Então eu tentava agradar e foi aí onde eu pequei. Eu fui aceitando tudo numa tentativa de fazer com que ele gostasse de mim, entende?

— Mas vocês viviam bem, não?

— Vivemos, quem se estressa com uma pau mandada dentro de casa? Limpando, passando, cozinhando, cuidando dos filhos dele e da ex esposa também! — Suspirou. — Mas eu nunca reclamei, eu fazia tudo com amor.

— Imagino. — Sophia pareceu triste ao perceber onde a mulher tinha se metido. — Deve ser difícil perceber que não é correspondido depois de se doar tanto.

— Eu sempre soube que não era, isso não me abala tanto. — Deu de ombros. — O que me magoa e está acabando comigo é perceber o quão descartável eu sou.

— Como assim?!

— Ele me usa de tapa buraco. — Fungou, aquela altura já estava chorando. — E não faz questão de esconder. Eu decidi, depois de muito pensar e refletir que ia embora de casa com meu filho.

— O quê? — Arregalou os olhos.

— Fala sério! Vocês vão ficar juntos, e eu vou ser a chifruda no meio.

— Não vamos nada, eu não quero!

— Você não quer porque tem raiva por ele ter construído família enquanto estava em coma. Não assume, gosta de mim, mas tem raiva e todo mundo sabe disso. Essa raiva vai ceder e vocês vão se entender. Só que não é justo eu ficar naquela casa esperando pra levar um pé na bunda, eu preciso tomar as rédeas da minha vida.

— Eu não sei nem o que dizer a você, Tati. — Ter se apegado a mulher de Micael era a pior coisa que podia ter feito. — Sinto muito.

— Não sinta, pelo menos não por isso. — Deu de ombros. — Eu sempre soube onde estava me metendo, por isso que sempre aceitei bem, mas a questão é que ele não deixa eu ir embora. Me ameaçou ontem.

— Ameaçou? — Estava surpresa.

— Disse que eu podia ir embora, mas que não ia deixar eu levar o Miguel. — Desandou a chorar mais. — Como é que eu vou abandonar meu filho?

— O Micael virou um canalha? — Disse ainda mais irritada. — Como é que ele ameaça tirar o filho de uma mãe, só pode ser brincadeira.

— Não é. — Fungou de novo. — Ele falou bem sério. — Olhou nos olhos de Sophia. — Eu acho que ele está irritado porque você não o quis e eu também não fiz questão. Quer mostrar que quem dá a última palavra é ele.

— Isso não dá a ele direito de ser cuzão, Tatiana. O filho é seu, você pariu!

— Eu não sei o que fazer! — Estava emocionalmente abalada. — Ele não me ama, estava a ponto de terminar comigo, conforme você me contou, mas não me deixa ir. Ele precisa de alguém lá, cheirando o rabo dele enquanto você não o aceita de volta.

— Meu Micael não é assim, Tati. — Disse com pesar. — O meu jamais faria algo do tipo. É assustador perceber o que ele se tornou.

— Ele não soube reagir bem a rejeição. — Sorriu a Sophia, tentando manter o tom de voz simpático. — Eu aposto que ele não estava esperando ser rejeitado por nos duas ao mesmo tempo. Tenho certeza que ele vai refletir e ver que fez besteira.

— Eu também acho que isso vai acontecer. Ele sempre foi de falar besteira na hora da raiva e depois se desculpar. — Tati soltou um longo suspiro, era estranho demais que alguém falasse de seu marido como se o conhecesse melhor. — Você realmente quer ir embora?

— Você realmente quer o divórcio? 

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