Sophia dormiu em seu quarto rosa de adolescente. E dormiu maravilhosamente bem na pequena cama de solteiro. Estar longe do hospital era maravilhoso!
Na manhã seguinte, acordou por volta de nove horas e se sentou, esperando que acostumasse com a claridade e então sorriu. Estava feliz, acordar em casa era revigorante.
— Bom dia, meu amor! — Branca entrou no quarto da filha e foi abrir as cortinas pro sol entrar. — Está na hora das vitaminas. — lhe entregou um copo com água e dois comprimidos.
— É, eu sei. — Sorriu pra mãe e se levantou após tomar. Tinha levado cadeira de rodas pra casa, mas se recusava a usar, sentia que quanto mais andasse, melhor ficaria naquilo. — E a Tati vem agora de manhã, já deve estar a caminho.
— Então vamos levantar pra tomar banho e café da manhã, já fui na padaria e trouxe tudo que você sempre amou. Seu primeiro dia em casa é um dia de festa!
— Obrigada, mãe. — Sorriu animada e então pensou um instante. — Eu acho que vou precisar de ajuda pra tomar banho aqui, não tem barra no banheiro pra eu segurar.
— Tem sim! — Avisou com a testa franzida. — Eu mandei colocar assim que o Micael ameaçou te dar alta a primeira vez. Pode tomar banho tranquila, também mandei colocar piso antiderrapante. Mamãe pensa em tudo, meu amor.
— E minhas roupas? Eu tenho roupas aqui? — Perguntou pensando em tudo que tinha em sua casa antes do acidente. — O que o Micael fez com as minhas coisas?
— Quando a Tati engravidou e foi morar com ele, juntamos tudo e eu fiz questão de trazer pra cá. — Caminhou até o armário, abriu a porta e mostrou as roupas lá dentro. — Eu sabia que em algum momento você ia acordar e precisar das suas coisas. — A loira levantou e foi até lá dar uma olhada em tudo o que tinha.
— Ele me apagou de casa. — Comentou ao olhar as suas coisas ali. — Como se eu nunca tivesse existido.
— Claro que não, a Maitê estava lá pra lembrar todo dia que você existiu. — Branca segurou as mãos da filha. — Mas ele precisava seguir, Sophia. Ele não estava vivendo uma vida normal. Micael com trinta anos e só sabia ficar no hospital trabalhando ou então sentado na beirada da sua cama. A Maitê vivia com a babá, poucas eras as vezes que ele ia pra casa.
— Posso até estar sendo egoísta, mas eu merecia mais. Sinto que se fosse o inverso, eu não arranjaria outra família e se tivesse feito, ele não ia me aceitar com um filho de outro homem. — Suspirou, finalmente revelando a mágoa que tinha daquela situação.
— Não dá pra saber o que você faria, é muito difícil!
— Tá bom, mãe. Esse assunto já deu, é manhã de um novo dia. Já entendi que você passa quantos panos for pro Micael, mas eu não vou passar. Vou tomar meu banho, tá bem?
— Vai filha, vou passar um café. — Avisou e saiu do quarto, deixando Sophia sozinha ainda olhando as roupas. Encontrou seu antigo jaleco pendurado no cabide e sentiu ainda mais saudades de sua vida. O tecido já bem amarelado. Passou os dedos pelo bordado: Sophia Borges Pediatra.
Pendurou a roupa de volta no cabide e pegou um shortinho florido e uma regata azul, além de suas roupas íntimas. Tomou um banho rápido, passou uma escova pelos cabelos molhados e quando saiu do banho para tomar café, Tatiana estava lá com o bebê.
— Olha quem apareceu! — Estava sentada a mesa comendo uma fatia de bolo. — Já estava indo te buscar.
— Achei que ainda não tinha chegado! — Caminhou devagar pra se sentar também. — Madrugou hein.
— Não é como se tivesse muito o que fazer. — Sorriu e apontou pra mesa. — Vai comer o quê? Fala que eu pego pra você.
— Quero pão com geleia. — Avisou e viu a mulher preparar pra ela. — E você rapazinho? Está tudo bem? — Falou com a criança que estava no colo de Branca e ergueu a mão, mas o menino se encolheu assustado. — Ei, a tia não vai te fazer mal. — Se virou pra Tati com um sorriso. — Ele é a cara do Micael!
— É sim, pra compensar a Maitê que é inteira você. — Brincou e arrancou risada dela. — Ele não é de falar muito. — Tatiana comentou lhe entregando o pão. — Quer suco?
— Mas ele não é de falar muito porque não quer ou ele não sabe falar? — Perguntou com uma sobrancelha erguida. — Tem uma grande diferença aí, ele tem quase três anos, precisa saber falar bem e formar frases.
— Bem vinda de volta drª Borges. — Branca brincou e fez Sophia dar risada. — Vai começar a diagnosticar as crianças por aí?
— Desculpa. — Ela disse sem graça olhando pra Tatiana. — É a força do hábito. Mas ele realmente tem que falar, conversa com a Lidi sobre isso.
— Vou conversar, pode deixar. — Encheu o copo de suco e colocou diante dela. — Agora come, o Danilo só vai conseguir vir a tarde, então pra sua alegria, quem vai fazer sua sessão da manhã sou eu!
— Está querendo dizer que eu vou ter que continuar fazendo sessões três vezes ao dia? Juro que achei que tivesse me livrado de você.
— Já, já você estará pronta pra outra. — Deu uma piscadinha. E terminaram o café em paz e com bastante risadas.
Branca e Tatiana afastaram os sofás e a sessão de Sophia foi na sala com uns itens que a própria Tati havia levado no porta malas. Branca cuidou do pequeno João enquanto as duas davam mais risadas do que faziam exercícios.
— Graças a Deus acabou! — Comentou quando Tatiana encerrou a série. — Estou até suada.
— Você reclama, mas vai sentir falta de mim que eu sei. — Deu uma piscadinha. — Eu vou até o banheiro, tá bem? — Avisou e saiu apressada, Sophia novamente tentou se aproximar de João e dessa vez o pegou no colo.
— Eu sou a tia Sophia. — Brincou com o menino ainda desconfiado. — E você?
— Miguel. — Disse baixinho, sem dar muita confiança. — Cadê mamãe?
— Foi ao banheiro, fica aqui com a tia um pouquinho. — Insistiu, já que Branca estava fazendo almoço. — Quer brincar de quê?
— Quero água. — Pediu e a loira sorriu, se levantou com o menino no colo e foi até a cozinha buscar água.
— Você ficou doida?! — Branca deu um grito que assustou os dois. — Bota esse menino no chão! Ele pesa quinze quilos!
— Está tudo bem! — Disse quando voltou a si após o susto. — Ele só quer um pouco de água e eu vim trazer.
— Então trouxesse de mãos dadas, ele sabe andar, você sabia? — Continuou reclamando. — Você está se recuperando, é um risco pra você e pra ele. — Continuou a tagarelar e Sophia obedeceu, colocando o menino no chão. — Não faça mais isso, se quer pegar o garoto no colo, pega sentada. — Apontou pra cadeira e a filha se sentou, pegando o menino. — Viu só, muito melhor.
— Super protetora. — Foi só o que respondeu e sorriu pra mãe, que ainda tinha a cara fechada. — Pega água aí pra criança. — Branca se virou pra geladeira com um copo de plástico que era da Maitê e então ouviram a campainha. — Micael e Maitê chegaram!
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Segunda Chance
RomanceApós um trágico acidente durante uma viagem de casal, Sophia acabou entrando em coma. Micael, seu marido passa a viver em função da esposa meses após meses, anos após anos. Deixando a pequena Maitê, filha do casal, um pouco de lado. Ele finalmente...